Líder do Sudão é deposto por militares e preso após governo de 30 anos
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Por Khalid Abdelaziz e Mohamed el Sherif
CARTUM (Reuters) - Omar al-Bashir, que governou o Sudão como presidente autocrata durante 30 anos, foi deposto e preso nesta quinta-feira após sofrer um golpe das Forças Armadas.
Em um discurso na televisão estatal, o ministro da Defesa, Awad Mohamed Ahmed Ibn Auf, anunciou um período de dois anos de governo militar seguido por uma eleição presidencial.
O ministro disse que Bashir, de 75 anos, está sendo mantido em um 'lugar seguro' e que um conselho militar comandará o país, sem informar quem o encabeçará.
Auf anunciou um estado de emergência, um cessar-fogo de âmbito nacional e a suspensão da Constituição. O espaço aéreo do Sudão ficará fechado durante 24 horas, e as passagens de fronteira interditadas até segunda ordem.
A Associação de Profissionais Sudaneses, a principal organizadora dos protestos contra Bashir, rejeitou os planos do ministro. O grupo pediu que os manifestantes mantenham uma ocupação do Ministério da Defesa que começou no sábado, disse uma fonte interna.
Fontes sudanesas disseram à Reuters que Bashir está na residência presidencial sob 'forte escolta'. Um filho de Sadiq al-Mahdi, líder da principal sigla da oposição, o Partido Umma, disse à Al-Hadath TV que Bashir está sendo detido com 'vários líderes do grupo terrorista Irmandade Muçulmana'.
Bashir foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia e é alvo de um mandado internacional de prisão devido a alegações de genocídio na região sudanesa de Darfur durante uma insurgência que começou em 2003 e causou a morte de cerca de 300 mil pessoas.
Apesar do mandado de prisão, Bashir desafiou a corte visitando vários países-membros do TPI. Desavenças diplomáticas irromperam quando ele foi à África do Sul em 2015 e à Jordânia em 2017 e nenhuma das duas nações o prendeu.
A queda de Bashir coincide com a deposição do autocrata argelino Abdelaziz Bouteflika neste mês, também na esteira de protestos de massa, após três décadas no poder.
Nomes de possíveis sucessores de Bashir estão circulando, entre eles o do titular da Defesa, um ex-chefe de inteligência militar e também islâmico, e do ex-chefe do Estado-Maior do Exército, Emad al-Din Adawi.
Vizinhos regionais em choque com Bashir devido às suas inclinações islâmicas têm preferência por Adawi.
O Sudão vinha sendo abalado desde dezembro por protestos persistentes, causados pela tentativa do governo de aumentar o preço do pão e por uma crise econômica que provocou escassez de combustível e moeda.
(Reportagem adicional de Ali Abdelaty)
Escrito por Thomson Reuters
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