Brics pede menos guerra e mais financiamentos, mas não dá detalhes
Publicada em
Atualizada em
Por Vladimir Soldatkin e Guy Faulconbridge
KAZAN, Rússia (Reuters) - Os líderes do Brics, incluindo o presidente da China, Xi Jinping, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pediram nesta quarta-feira um cessar-fogo em Gaza e fizeram comentários positivos sobre um sistema de pagamento não ocidental, mas mencionaram a Ucrânia apenas uma vez em seu comunicado final.
O Brics -- uma ideia concebida dentro da Goldman Sachs há duas décadas para descrever o crescente poder econômico da China e de outros grandes mercados emergentes -- é agora um grupo que representa 45% da população mundial e 35% da economia global.
O comunicado final de 43 páginas da cúpula do Brics abrangeu de geopolítica e narcóticos à inteligência artificial e até mesmo a preservação de grandes felinos, mas faltaram detalhes sobre algumas questões importantes.
Com a Rússia sob o que o Ocidente diz serem as sanções mais punitivas já impostas devido à guerra na Ucrânia, Moscou tem sido cauteloso em dar muitos detalhes sobre seus laços financeiros e comerciais por medo de desencadear mais sanções dos EUA.
Ainda assim, o comunicado final indicou que pouco progresso foi feito em um sistema de pagamento alternativo -- que alguns membros esperam que possa financiar transações entre os países do Brics. O dólar não foi mencionado.
'Concordamos em discutir e estudar a viabilidade do estabelecimento de uma infraestrutura independente de liquidação e depósito transfronteiriço, o Brics Clear, uma iniciativa para complementar a infraestrutura do mercado financeiro existente, além da capacidade de resseguro independente do Brics', afirmou.
'Pedimos aos nossos ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais, conforme apropriado, que continuem a considerar a questão das moedas locais, instrumentos e plataformas de pagamento e nos informem até a próxima presidência.'
A linguagem mais dura foi reservada para o Oriente Médio, pedindo um cessar-fogo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, e denunciando 'ataques israelenses contra operações humanitárias, instalações, pessoal e pontos de distribuição'.
O documento mencionou a Ucrânia apenas uma vez.
'Relembramos as posições nacionais relativas à situação na Ucrânia e em seus arredores, conforme expressas nos fóruns apropriados', diz o comunicado.
'Observamos com apreço as propostas relevantes de mediação e bons ofícios, visando a uma resolução pacífica do conflito por meio do diálogo e da diplomacia'.
EXPANSÃO DO BRICS?
O acrônimo Bric foi criado em 2001 pelo então economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O'Neill, em um trabalho de pesquisa que destacava o enorme potencial de crescimento de Brasil, Rússia, Índia e China neste século.
Os líderes disseram que procurariam fomentar ainda mais o desenvolvimento institucional do Brics, mas não deixaram claro se o grupo será ampliado ou não.
Putin, que rejeitou acusações de crimes de guerra do Ocidente contra ele, disse que mais de 30 países manifestaram interesse em participar do grupo, mas que é importante encontrar um equilíbrio em qualquer expansão.
Mais de 20 líderes, incluindo Xi, Modi, o presidente dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Mohammed bin Zayed Al Nahyan, e o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, estão participando da cúpula do Brics.
(Reportagem de Vladimir Soldatkin, em Kazan, e Guy Faulconbridge e Dmitry Antonov, em Moscou)
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO