Lula reafirma que busca negociação com os EUA sobre tarifas, mas promete retaliação se for o caso
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Por Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira que irá negociar com os Estados Unidos sobre as tarifas impostas ao país até onde for possível e só irá adotar medidas de retaliação se não houver solução.
'Não há medida prática ainda porque eu disse numa reunião que vamos utilizar todas as palavras de negociação que o dicionário permitir. Quando acabar, vamos tomar as decisões que a gente entende que sejam cabíveis. O Brasil é um país que não tem contencioso, não queremos contenciosos, não queremos brigar', disse o presidente em entrevista a jornalistas que acompanhavam sua viagem a Honduras.
Lula voltou a dizer que o Brasil vai à Organização Mundial do Comércio contra as tarifas impostas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, e que a decisão é adotar a reciprocidade, no caso das negociações não surtirem efeito.
O presidente criticou, ainda, a guerra comercial entre Estados Unidos e China e considera que há uma briga pessoal de Trump com a China.
'Estamos preocupados com as decisões unilaterais do presidente dos Estados Unidos. A cada dia ele anuncia uma medida, cada dia ele fala uma coisa, e nós não sabemos qual será o efeito devastador disso na economia. Inclusive na própria economia americana', afirmou.
CELAC
Durante sua participação na cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), em Tegucigalpa, o presidente defendeu a união regional de países da América Latina e do Caribe para fazer frente a medidas unilaterais que desestabilizam a economia internacional, caso das tarifas anunciadas por Trump.
Lula alertou, em seu discurso, para a necessidade de seus integrantes deixarem diferenças de lado e concentrarem-se na redefinição de seu lugar na nova ordem global que se apresenta.
'Tarifas arbitrárias desestabilizam a economia internacional e elevam os preços. A história nos ensina que guerras comerciais não têm vencedores. Se seguirmos separados, a comunidade latino-americana e caribenha corre o risco de regressar à condição de zona de influência em uma nova divisão do globo entre superpotências. O momento exige que deixemos as diferenças de lado', afirmou.
'Quanto mais fortes e unidas estiverem nossas economias mais protegidos estaremos contra ações unilaterais', acrescentou.
A decisão do presidente de ir à cúpula da Celac, que inicialmente não estava no radar, passou pela intenção de Lula de trabalhar para reavivar a integração regional, especialmente no comércio, para rebater às políticas tarifárias de Trump.
Fontes ouvidas pela Reuters admitiram que dificilmente a cúpula conseguirá uma posição unificada, com os países ainda analisando suas situações internas e a resistência de alguns em criticar diretamente o governo norte-americano.
No entanto, está claro na região que houve uma mudança de uma relação de 'negligência benigna', que sempre marcou a postura dos EUA com a América Latina, para uma área de disputa direta entre EUA e China, disse uma fonte da diplomacia brasileira.
A própria Celac está diretamente no meio dessa disputa, já que existe uma aliança entre o país asiático e o grupo há 10 anos. Em maio deste ano, Pequim irá sediar um encontro entre a Celac e o governo chinês, da qual Lula participará.
'O momento exige que deixemos as diferenças de lado. É preciso resgatar o espírito plural e pragmático que nos uniu no início dos anos 2000 e que levou à criação da Unasul e da própria Celac', cobrou Lula.
'Outras regiões se preparam para responder às transformações em curso. É imperativo que a América Latina e o Caribe redefinam seu lugar na nova ordem global que se descortina', disse.
Uma das propostas do Brasil à Celac é que os países da região se unam em torno da apresentação de um nome latino-americano para a Secretaria-Geral das ONU, já que o mandato do português António Guterres termina em 2026. Na visão do Brasil, seria a vez da região apontar um escolhido, depois dos últimos terem sido da África, Ásia e Europa, e um nome apoiado pela maioria dos países da região teria mais força.
'A Celac pode contribuir para resgatar a credibilidade da ONU elegendo a primeira mulher secretária-geral da organização', defendeu Lula.
Entre os nomes que circulam e já foram citados pelos diplomatas brasileiros estão a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet, a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, e a ex-vice-presidente da Costa Rica Rebeca Grynspan.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello)
Escrito por Reuters