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Lula diz que acordo UE-Mercosul não foi concluído por 'contradições internas' de europeus

Placeholder - loading - Lula durante cúpula do Mercosul em Assunção, no Paraguai 08/07/2024 REUTERS/Cesar Olmedo
Lula durante cúpula do Mercosul em Assunção, no Paraguai 08/07/2024 REUTERS/Cesar Olmedo

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ASSUNÇÃO (Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira que o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia só não foi concluído ainda porque o bloco europeu não conseguiu resolver suas questões internas.

'Só não concluímos o acordo com a União Europeia porque os europeus ainda não conseguiram resolver suas próprias contradições internas', disse Lula à cúpula de chefes de Estado do Mercosul, em Assunção, ao falar sobre as conquistas do bloco sul-americano durante a presidência do Brasil no ano passado.

O acordo entre UE e Mercosul vem sendo negociado há mais de 20 anos. Em 2019, os blocos chegaram a assinar uma versão, que não foi ratificada em meio à difícil relação do governo Jair Bolsonaro com os europeus, ao aumento do desmatamento e ao não cumprimento de regras ambientais pelo Brasil.

As negociações foram reabertas em março de 2023, mas geraram novos embates. De um lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a criticar o bloco europeu pelas exigências ambientais.

De outro, o presidente francês Emmanuel Macron se tornou uma voz cada vez mais frequente contra o acordo, em meio a protestos de agricultores locais, que se opõem à entrada de produtos agrícolas da América do Sul na França.

O comentário de Lula na cúpula desta segunda-feira foi acompanhado de crítica do presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, ao fato de alguns líderes europeus desejarem reiniciar as negociações com o Mercosul do zero.

'Não parece lógico após 25 anos', disse ele, cujo país assume a presidência rotativa do bloco sul-americano a partir desta segunda-feira.

'Não sei se são os processos eleitorais europeus, as mudanças que estamos vivendo, os governantes que falam aos seus eleitorados ou os seus grupos de pressão... que dificultam o progresso', acrescentou.

Desde o início da presidência paraguaia no Mercosul, em dezembro, as negociações pelo acordo estão paralisadas.

O cenário se tornou ainda mais adverso após as eleições para o Parlamento Europeu, braço legislativo da UE, em junho, que teve um avanço de partidos de extrema-direita em alguns dos principais países do bloco, como Alemanha, França e Itália.

Os partidos da extrema-direita europeia têm defendido uma abordagem mais protecionista no bloco e defendido os agricultores europeus em meio à crise de custo de vida no continente.

ALERTA AOS DEMOCRATAS

Em seu discurso na cúpula, Lula também alertou que os membros do bloco precisam estar 'vigilantes' diante de ameaças às instituições democráticas dos países da região, mencionando a tentativa de golpe de Estado na Bolívia em 26 de junho e o ataque às sedes dos Três Poderes em Brasília no ano passado.

'A reação unânime ao 26 de junho na Bolívia e ao 8 de janeiro no Brasil demonstram que não há atalhos à democracia em nossa região. Mas é preciso permanecer vigilantes. Falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários', disse Lula.

O presidente argumentou que o bloco enfrenta uma série de desafios, tanto no nível regional quanto no global, e que os países membros precisam decidir se desejam se integrar ao mundo de forma unida ou dividida. Lula também exaltou a adesão plena da Bolívia ao bloco pelo 'enorme valor estratégico'.

Ele reiterou que vê o Mercosul como 'plataforma de inserção internacional e de desenvolvimento do Brasil' e criticou a implantação de 'estratégias ultraliberais' no continente, além de criticar o 'nacionalismo arcaico e isolacionista'.

A cúpula desta segunda-feira não contou com a presença do presidente da Argentina, Javier Milei, que tem trocado farpas com Lula desde que tomou posse, em dezembro. O presidente ultraliberal argentino esteve no Brasil no fim de semana para um evento conservador e se reuniu com Bolsonaro.

(Por Fernando Cardoso, em São Paulo, e Daniela Desantis, em AssunçãoEdição de Fabrício de Castro e Pedro Fonseca)

Escrito por Reuters

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