Médicos cubanos iniciam volta para casa e pequenas cidades ficam sem atendimento
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Por Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - Os primeiros milhares de médicos cubanos começaram a deixar o Brasil e voltar para casa nesta quinta-feira após as críticas do presidente eleito de extrema-direita Jair Bolsonaro levarem o governo cubano a romper o acordo de cooperação entre os países, deixando milhões de brasileiros sem atendimento médico.
Bolsonaro disse que os médicos cubanos estavam sendo usados como 'trabalho escravo' por que o governo cubano tomava 75 por cento de seus salários. Para Bolsonaro, o programa, que começou em 2013, poderia continuar apenas se os profissionais recebessem o pagamento completo e pudessem trazer suas famílias de Cuba.
Bolsonaro, admirador do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi eleito no mês passado por brasileiros angustiados com as altas taxas de criminalidade e da percepção de corrupção que atingiu novos níveis após quase uma década e meia de governos de esquerda que tinham laços próximos com a ilha de Cuba.
Os cubanos atuavam em sua maioria em áreas pobres e remotas do país, onde médicos brasileiros não querem trabalhar. O governo agora trabalha para substituí-los em 8.332 posições deixadas pelos cubanos que retornam para casa.
Cuba possui um respeitado serviço de saúde e gera ganhos com a exportação de mais de 50 mil funcionários da área para mais de 60 países.
Em muitas cidades brasileiras e nas periferias de cidades que contavam com o apoio de médicos cubanos, as salas de espera normalmente cheias nos postos de saúde estavam vazias nesta semana, e avisos diziam que consultas haviam sido canceladas.
Adrielly Rodrigues, uma mulher grávida de 22 anos, foi recusada na quarta-feira ao chegar em um posto para um exame pré-natal em Santa Maria, uma cidade próxima à capital Brasília.
'Estamos muito preocupados por que não temos dinheiro para pagar por um médico particular, e ela está grávida de cinco meses e ainda precisa ser acompanhada e fazer os exames', disse sua mãe, Adriana Rodrigues.
Ela disse que a médica de Adrielly era boa mas 'ela foi embora agora'.
Um lobby nacional de prefeitos, a FNP, e o conselho das autoridades municipais de Saúde Conasems disse em nota que 29 milhões de brasileiros poderiam ficar sem atendimento básico de saúde. Eles pediram que o governo torne possível que os cubanos fiquem no país.
O Ministério da Saúde planeja semana que vem abrir mão da exig6encia para que os cubanos validem seus diplomas médicos no Brasil para que possam continuar trabalhando diretamente contratados pelo governo brasileiro e não pela Organização Panamericana de Saúde.
Não está claro quantos cubanos irão querer romper com o programa de exportação de médicos do governo comunista de Cuba, presente em cerca de 60 países, principalmente já que o rompimento equivaleria à deserção.
Bolsonaro, que assume a Presidência no dia 1º de Janeiro de 2019, disse na semana passada que daria asilo aos cubanos que o requisitarem, aumentando ainda mais as tensões com Havana.
O Brasil espera preencher as vagas com contratações locais. Em apenas dois dias desde que o processo foi aberto, 6.394 médicos se inscreveram para preencher os postos vazios, segundo informou um porta-voz do ministério, mas as credenciais dos aplicantes ainda tem que ser confirmadas.
Um cubano que ficará no Brasil é Richel Collazo, que é tão querido na pequena cidade de Chapada, no estado do Rio Grande do Sul, que o prefeito o ofereceu o emprego de secretário municipal de Saúde.
'A minha cidade necessita de médicos e ele foi muito importante para o nosso atendimento de saúde', disse o prefeito Carlos Catto por telefone.
Escrito por Thomson Reuters
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