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Mesmo esperada, saída de Mansueto é um revés em meio à aguda deterioração fiscal

Placeholder - loading - Secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, em entrevista à Reuters 12/02/2020 REUTERS/Adriano Machado
Secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, em entrevista à Reuters 12/02/2020 REUTERS/Adriano Machado

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Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - A saída do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, do governo Jair Bolsonaro já vinha sendo sinalizada desde o fim do ano passado, mas é um revés para a equipe econômica num momento de profunda deterioração das contas públicas e pressão por mais gastos para amenizar os impactos da crise do coronavírus.

Com bom trânsito no mercado financeiro, interlocução com figuras de peso do Congresso Nacional e prestígio junto ao corpo técnico do Ministério da Economia, Mansueto sempre foi visto como um intransigente defensor do ajuste fiscal para garantir o crescimento sustentável do país.

Sua presença no time de Paulo Guedes era, portanto, associada a uma dose de realismo necessária, vinda de um profundo conhecedor da máquina pública e do seu intrincado mecanismo de funcionamento.

O discurso cauteloso do secretário era um contraponto aos arroubos de otimismo por vezes expressos pelo ministro, seja quanto à exequibilidade de um superávit primário no primeiro ano de governo, à evolução do PIB ou à viabilidade política de algumas propostas.

Mansueto, que já chegou a dizer que não dormia tranquilo com o país crescendo na casa de 1%, nunca deixou de ressaltar a importância de o Brasil persistir na trajetória de reformas, tendo mais recentemente batido na tecla da necessidade de simplificação tributária, com o fim da cumulatividade de impostos.

Na contramão de ideias que seguem fazendo parte do corolário analisado por Guedes, ele também já expressou ser contra a adoção de um tributo sobre transações.

Sempre buscando fazer acenos aos parlamentares, Mansueto --que participou de inúmeras lives desde o início da pandemia-- rotineiramente lembrava da importância do diálogo com o Congresso para que as reformas pudessem prosperar.

Numa mostra de o quanto seu perfil conciliador era bem visto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já chegou a dizer publicamente que podia até não combinar com Guedes, mas que não fazia nada sem combinar com Mansueto.

O economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, frisou que o secretário era conhecido pela boa relação com o Congresso, num governo não exatamente afeito a essa construção.

'Na medida em que Mansueto sai, existe sempre o risco que essas relações com o Congresso voltem a se deteriorar um pouco', afirmou ele. 'É óbvio que a saída é ruim, Mansueto é excelente profissional, entende como ninguém essa questão da dívida pública.'

Por outro lado, Camargo disse acreditar que o mote do ajuste fiscal seguirá de pé, bem como o respeito à regra do teto de gastos no ano que vem, importantes linhas para circunscrever o aumento expressivo de despesas a 2020.

O economista do Goldman Sachs Alberto Ramos escreveu, em nota, que a saída de Mansueto era 'uma grande perda' e que o timing desse anúncio também era inoportuno em função da necessidade de medidas para reancorar a dinâmica da dívida.

Mansueto estimou recentemente que uma eventual extensão do auxílio emergencial até dezembro, sob os valores atuais, faria com que a dívida bruta ultrapassasse 100% do PIB já neste ano, sobre 75,8% em 2019. O patamar é considerado alto para um país emergente --e não deve retroceder tão cedo em função dos déficits primários esperados para os anos à frente.

'Guedes continuará sendo o principal formulador de políticas econômicas do governo Bolsonaro e deverá continuar a perseguir uma agenda liberal/reformista, mas perderá um consultor chave, de confiança e experiente', disse Ramos.

SEM SURPRESA

Desde o fim do ano passado, a saída de Mansueto já era dada como certa, embora a janela para tanto ainda não tivesse sido acertada. O próprio Guedes disse, em dezembro, que tentaria 'renovar o contrato' do seu secretário do Tesouro.

Em entrevista à Reuters em fevereiro, Mansueto afirmou que, quando tomasse a decisão de deixar o governo, faria o anúncio com antecedência.

Próxima a Mansueto, uma fonte ouvida pela Reuters pontuou que não houve gatilho para a decisão do secretário. 'Só mesmo o cansaço normal de um cargo que está para lá de pesado. Ele já vinha avisando há muito tempo que desejava sair', disse.

Uma segunda fonte da equipe econômica afirmou que o ministro tampouco foi surpreendido e que os dois vinham conversando abertamente sobre o assunto há semanas. Após cumprir a quarentena, Mansueto irá para a iniciativa privada, acrescentou a fonte.

'Não tem fator extra nenhum. Quando ele aceitou a secretaria do Tesouro ele falou 'vou ficar por um tempo só'', disse.

À Reuters, Mansueto destacou que haverá tempo para a transição, já que ele permanecerá no cargo até agosto. Uma fonte do governo afirmou que o substituto não foi definido e estariam entre os cotados funcionários da pasta, como Bruno Funchal e Caio Megale, além de Jeferson Bittencourt e Pricilla Santana.

Mansueto comandou o Tesouro Nacional no governo Michel Temer, a partir de 2018, e foi mantido no cargo após Bolsonaro assumir. Antes disso, respondia pela Secretaria de Acompanhamento Fiscal do Ministério da Fazenda.

Técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o economista chegou a atuar na campanha de Aécio Neves (PSDB-MG) nas eleições de 2014 na elaboração do programa econômico do tucano.

Escrito por Reuters

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