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Moro diz que Brasil precisa escapar dos extremos ao se filiar ao Podemos

Placeholder - loading - 10/11/2021 REUTERS/Adriano Machado
10/11/2021 REUTERS/Adriano Machado

Publicada em  

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - O ex-juiz Sergio Moro disse nesta quarta-feira que o Brasil tem que escapar dos extremos, em um discurso de presidenciável durante sua filiação ao Podemos, com recados indiretos ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atuais líderes das pesquisas eleitorais.

Em sua fala, Moro disse que não tem um projeto pessoal de poder, mas sim de país e que deseja construir. Destacou que poderá ser o nome para liderar o processo ao apresentar uma plataforma de candidatura com ênfase no combate à corrupção, a criação de uma força-tarefa de erradicação da pobreza, reformas e privatizações.

'Essas são apenas algumas ideias para o nosso projeto de país. Queremos construí-lo com vocês aqui presentes, com a sociedade e com o povo brasileiro. Podemos construir juntos um Brasil justo para todos. Esse não é um projeto pessoal de poder, mas sim um projeto de país. Nunca tive ambições políticas, quero apenas ajudar', disse.

'Se, para tanto, for necessário assumir a liderança nesse projeto, meu nome sempre estará à disposição do povo brasileiro. Não fugirei dessa luta, embora saiba que será difícil. Há outros bons nomes que têm se apresentado para que o país possa escapar dos extremos da mentira, da corrupção e do retrocesso', reforçou.

Mesmo admitindo ter sido aconselhado a não falar de corrupção, o principal nome da Lava Jato defendeu em vários momentos o legado da operação e o combate à prática criminosa --citando a palavra corrupção 19 vezes no pronunciamento-- como meio para o país sair da atual dificuldade por que passa.

Moro sugeriu três mudanças: o fim do foro privilegiado e da reeleição para cargos no Executivo, chamando-os de privilégios da classe dirigente, e a volta da execução de condenações criminais em segunda instância --entendimento revertido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro de 2019 e que tirou da cadeia uma série de punidos pela operação como o ex-presidente Lula.

A prisão de Lula --determinada inicialmente por Moro-- tirou o petista, então favorito, do páreo na sucessão de 2018 e teve reflexos diretos na vitória de Bolsonaro, de quem se tornou o primeiro ministro da Justiça e Segurança Pública. Neste ano, as condenações contra Lula foram anuladas pelo Supremo Tribuinal Federal, que ainda considerou Moro parcial nos protestos contra o petista.

O ex-juiz disse que é preciso impedir que as estruturas do poder sejam capturadas.

'É um projeto para termos um governo de leis que age em benefício de todos e não apenas de alguns. Chega de corrupção, chega de mensalão, chega de petrolão, chega de rachadinha, de orçamento secreto. Chega de querer levar vantagem em tudo e enganar a população', destacou ele, no momento em que foi fortemente aplaudido pela plateia em Brasília.

Sem um mea-culpa, Moro ignorou na fala percalços por que passou em razão das revelações da Vaza Jato --reportagens que apontaram conluio dele como juiz e procuradores na Lava Jato. Também foi simplista quando disse que se sentia no dever de ajudar como juiz da Lava Jato e não poderia se omitir ao aceitar convite para virar ministro da Justiça de Bolsonaro.

Após listar realizações no Executivo, o ex-ministro disse que teve seu trabalho boicotado e houve quebra de promessa no combate à corrupção, sem proteger quem quer que seja. Para ele, continuar no governo seria uma farsa. Ele justificou sua volta ao Brasil --após morar por mais de um ano nos Estados Unidos, período em que trabalhou para uma consultoria-- para ajudar a construir um projeto que é de muitos.

Moro é um dos principais nomes da chamada terceira via, candidatos que tentam superar polarização entre Bolsonaro e Lula. Entretanto, na última pesquisa Genial/Quaest, o petista venceria o ex-magistrado por 57% a 22% num eventual segundo turno.

ECONOMIA

Se foi detalhista em questões de corrupção, o ex-juiz não deu grandes informações sobre suas propostas para a economia. Defendeu a privatização de estatais ineficientes, responsabilidade fiscal e respeito ao teto dos gastos públicos, uma agenda de reformas, citando a tributária, a queda da inflação e o desenvolvimento sustentável.

'Precisamos nos unir em torno de um projeto que tenha pelo menos as seguintes linhas essenciais: combater a corrupção como meio de viabilizar as reformas, erradicar a pobreza, diminuir as desigualdades, controlar a inflação, preservar a responsabilidade fiscal, fomentar o emprego e o desenvolvimento sustentável, prover serviços de saúde, educação e segurança de qualidade, proteger a família, cultivar as liberdades e o respeito com o próximo e com o diferente. Tudo está conectado. Todos estamos juntos', advogou.

Para Moro, reformas estão sendo aprovadas, mas ninguém está pensando nas pessoas. Segundo ele, até iniciativas boas como o aumento do Auxílio Brasil, programa social que substitui o Bolsa Família, tem coisa 'ruim junto' como calotes de dívidas, o furo no teto e o aumento de recursos para outras coisas que não são prioridades.

(Edição de Alexandre Caverni)

Escrito por Reuters

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