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Morte de presidente do Irã pode acirrar disputa por sucessão de Khamenei, dizem especialistas

Placeholder - loading - Líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, em Teerã 10/05/2024 Majid Asgaripour/WANA (West Asia News Agency) via REUTERS
Líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, em Teerã 10/05/2024 Majid Asgaripour/WANA (West Asia News Agency) via REUTERS

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Por Parisa Hafezi

DUBAI (Reuters) - A morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, em um acidente de helicóptero, abala os planos da linha dura que queria que ele fosse o sucessor do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, e despertará rivalidades em seu campo sobre quem assumirá a República Islâmica quando Khamenei morrer.

Protegido de Khamenei, Raisi, de 63 anos, subiu na hierarquia da teocracia iraniana e era amplamente visto como um dos principais candidatos a assumir o lugar do líder supremo de 85 anos.

Sua ascensão à Presidência foi parte de uma consolidação do poder nas mãos de linha-dura dedicados a fortalecer os pilares da República Islâmica contra os riscos apresentados por dissidentes no país e inimigos poderosos em uma região turbulenta.

Raisi contou com o firme apoio de Khamenei, que ocupou o cargo de presidente antes de se tornar líder supremo em 1989, após a morte do fundador da República Islâmica, o aiatolá Ruhollah Khomeini.

O líder supremo detém o poder máximo no Irã, atuando como comandante-chefe das forças armadas e decidindo sobre a direção da política externa, marcada em grande parte pelo confronto com os Estados Unidos e Israel.

Embora Khamenei não tenha endossado um sucessor, observadores do Irã dizem que Raisi foi um dos dois nomes mais mencionados, sendo o outro o segundo filho de Khamenei, Mojtaba, que se acredita exercer influência nos bastidores.

Raisi, apoiado por um grupo que queria vê-lo tornar-se líder supremo, claramente desejava o cargo, disse Vali Nasr, professor de Estudos do Oriente Médio e Assuntos Internacionais da Escola John Hopkins de Estudos Internacionais Avançados.

'Agora eles não têm um candidato, e isso abre a porta para que outras facções ou outras figuras surjam como sérios concorrentes', disse ele.

Para Raisi, um clérigo xiita de médio escalão, a Presidência era um veículo para alcançar a liderança suprema. 'Não há nenhum outro candidato no momento (com) esse tipo de plataforma e é por isso que as eleições presidenciais no Irã, seja qual for o seu desenrolar, serão a primeira decisão sobre o que virá a seguir', disse Nasr.

'GOLPE CONTRA O ESTABLISHMENT'

As opiniões de Raisi ecoaram as de Khamenei em todos os principais tópicos e ele implementou as políticas do líder com o objetivo de consolidar o poder clerical, reprimir os oponentes e adotar uma linha dura em questões de política externa, como as negociações com Washington sobre o programa nuclear iraniano, disseram duas pessoas de dentro do Irã.

A linha dura manteve seu controle em uma eleição parlamentar realizada em março, mas o comparecimento às urnas atingiu o nível mais baixo desde a revolução.

Os críticos viram isso como reflexo de uma crise de legitimidade da elite clerical, em meio às crescentes dificuldades econômicas e à dissidência entre os iranianos que se irritam com as restrições sociais e políticas que levaram a meses de protestos desencadeados pela morte de uma jovem presa pela polícia da moralidade em 2022.

Embora seu nome tenha sido citado com frequência, surgiram dúvidas sobre a possível candidatura de Mojtaba, um clérigo de médio escalão que ensina teologia em um seminário religioso na cidade sagrada xiita de Qom.

Khamenei indicou oposição à candidatura de seu filho porque não quer ver nenhum deslize em direção a um sistema de governo hereditário em um país onde a monarquia apoiada pelos EUA foi derrubada em 1979, disse uma fonte iraniana próxima ao gabinete de Khamenei.

Uma fonte regional familiarizada com o pensamento em Teerã disse que a oposição de Khamenei ao governo hereditário eliminaria tanto Mojtaba quanto Ali Khomeini, neto do fundador da República Islâmica, que vive em Najaf, no Iraque.

Uma ex-autoridade iraniana disse que atores poderosos, incluindo a Guarda Revolucionária e clérigos influentes em Qom, devem agora intensificar os esforços para moldar o processo pelo qual o próximo líder supremo será escolhido.

'A morte de Raisi é um golpe para o establishment que não tem outro candidato agora', disse a autoridade, acrescentando que, embora se acreditasse que Raisi tivesse sido preparado para suceder Khamenei, ninguém sabia ao certo quais eram as intenções de Khamenei.

INCERTEZA NA SUCESSÃO

Khamenei não era um claro favorito para o cargo em 1989 e só surgiu após negociações nos bastidores entre a elite clerical.

De acordo com a Constituição do Irã, o líder supremo é nomeado pela Assembleia de Especialistas, um órgão clerical de 88 membros que supervisiona e, em teoria, pode demitir o líder supremo.

Embora a Assembleia seja escolhida em uma eleição, outro órgão de vigilância de linha dura, composto por clérigos e juristas alinhados a Khamenei, tem o poder de vetar leis e decidir quem pode se candidatar.

Duas fontes familiarizadas com o assunto disseram que a Assembleia de Especialistas havia retirado Raisi de uma lista de possíveis sucessores há cerca de seis meses devido à queda de sua popularidade, refletindo as dificuldades econômicas causadas pelas sanções impostas pelos Estados Unidos e pela má administração.

Uma das fontes disse que um lobby intenso estava sendo feito por clérigos influentes e pró-Raisi para que seu nome fosse reintegrado.

Ali Vaez, diretor de projetos do Irã no International Crisis Group, disse que 'ninguém, a não ser um punhado de pessoas no topo, provavelmente sabe o quanto da narrativa de Raisi como herdeiro tinha base na realidade'.

'Mas se esse era o plano, a morte de Raisi introduz uma grande incerteza na sucessão', disse ele.

Alex Vatanka, diretor do Programa do Irã no Instituto do Oriente Médio em Washington, disse que muitos consideraram o papel de Khamenei na promoção de Raisi como um sinal de que ele o queria como sucessor.

Sua morte 'poderia resultar em lutas internas no regime, diferente de tudo o que vimos desde o início da década de 1980', disse ele.

(Reportagem adicional de Tom Perry e Laila Bassam, em Beirute)

Escrito por Reuters

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