Na Argentina, trabalhadores pedem empregos a santo, não a políticos
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Por Claudia Martini e Miguel Lo Bianco
BUENOS AIRES (Reuters) - Uma série de trabalhadores argentinos, que viram seus empregos e salários sendo atingidos pela crise econômice e pela inflação desenfreada no país, fizeram fila nas igrejas nesta segunda-feira para pedir emprego a São Caetano, o santo padroeiro do pão e do trabalho, com alguns criticando os políticos por não fazerem o suficiente para ajudar a população.
A Argentina, que viu o desemprego subir para 6,9% no primeiro trimestre, terá eleições primárias no domingo, nas quais a oposição conservadora deve superar a coalizão peronista no poder.
A disputa, que é um ensaio geral para as eleições gerais de outubro, tem sido dominada pela questão da economia. A inflação de 116% tem atingido as poupanças e os salários, enquanto a diminuição das reservas de caixa forte, uma taxa de juros altíssima, um peso enfraquecido e os rígidos controles de capital amorteceram a economia e os empregos.
'Caminhando por este bairro, há muitas pessoas que vieram de outras partes do país para pedir trabalho. As pessoas estão pedindo a um santo porque não podem pedir aos políticos', disse o aposentado Juan Mura, de 58 anos.
'Gostaria que os políticos viessem aqui e vissem a realidade do povo.'
O candidato da coalizão governista, o ministro da Economia, Sergio Massa, não está em desvantagem nas pesquisas, embora esteja atrás do principal bloco da oposição, dividido entre dois candidatos, Patricia Bullrich e Horacio Rodríguez Larreta. Um libertário de extrema-direita, Javier Milei, também detém uma fatia importante do eleitorado.
O rápido crescimento dos preços, dos vegetais à carne, tem aumentado a pressão sobre o governo e Massa, apesar de alguns sinais de arrefecimento nos últimos meses. O custo de vida ultrapassou o crescimento salarial, o que significa que muitos enfrentam dificuldades mesmo tendo trabalho.
'Acho que talvez haja empregos, mas não há bons salários', disse Betina Basanta, de 57 anos, na fila para entrar em uma igreja em Buenos Aires.
Armando Villar, de 44 anos, estava mais esperançoso. Ele disse que vinha orar a São Caetano há anos e não havia se decepcionado até agora, apesar dos problemas econômicos de longa data do país.
'Venho aqui há muitos anos', disse ele. 'É a satisfação de estar aqui neste lugar e a verdade, pelo menos para mim, é que o santo nunca me abandonou. Sempre tive trabalho.'
Escrito por Reuters
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