Novembro Azul: saiba mais sobre a campanha de conscientização

Hoje, 17 de novembro, é comemorado o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, data que originou o movimento Novembro Azul, uma campanha com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância da prevenção da doença.

Assim, a Antena 1 reforça a importância dos cuidados que devem ser seguidos para que um diagnóstico precoce seja identificado, e enfatiza como uma prevenção faz toda a diferença para um futuro saudável.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de próstata é o tipo mais comum de câncer entre os homens, respondendo por 29% dos diagnósticos dos cânceres no país.

Dessa maneira, é mais do que essencial que se tenha o diagnóstico precoce, aumentando as chances de cura do paciente, visto que, existem cerca de 65 mil novos casos ao ano no Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Por meio de uma pesquisa realizada em 2020, índices da mesma entidade também demonstraram o abandono do público masculino nos consultórios: mais da metade dos pacientes, 55% com mais de 40 anos, deixaram de ir ao médico ou até abandonaram o tratamento.

Afinal, quando a campanha se iniciou oficialmente?

O Novembro Azul surgiu no ano de 2003 em Melbourne, na Austrália, com a iniciativa de dois amigos próximos, Travis Garone e Luke Slattery. Em uma noite, ambos estavam se divertindo e cogitaram se ficariam bem de bigode, o que estava fora de moda na época. Inspirados pela campanha da mãe de um colega do Outubro Rosa, eles tiveram a ideia de associar o bigode com a conscientização sobre a saúde masculina.

Posteriormente a dupla escolheu o mês de novembro para deixar o bigode crescer, pois naquela época o dia 17 já era dedicado à comemoração do Dia Mundial do Combate ao Câncer de Próstata. Naquele mesmo ano, dezenas de amigos entraram para a campanha e com o passar do tempo, a história foi se espalhando cada vez mais.

Em território brasileiro, a campanha chegou em meados de 2011, quando o Instituto Lado a Lado pela Vida iniciou a campanha ‘Novembro Azul’ com o objetivo de alertar para a importância do diagnóstico precoce do câncer de próstata. E assim, aproveitando as celebrações em torno do tema, o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional de Câncer (INCA) começaram a divulgar ações importantes e a data transformou-se no maior movimento em prol da saúde masculina.

Para falar melhor sobre o assunto, a Antena 1 entrevistou duas médicas especialistas, a Dra. Wendy Añez Ugarte, urologista e membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia, e Maria Cristina Monteiro de Barros, psicóloga clínica, vice-presidente da Associação Luso Brasileira de Transpessoal (Alubrat) e diretora da International Transpersonal Association (ITA).

Confira a entrevista na íntegra:

Antena 1: Antes de tudo, poderia falar sobre sua opinião sobre a importância do Novembro Azul?

Wendy Añez: A importância do Novembro Azul é a conscientização que a saúde masculina deve ser valorizada, o cuidado do homem para com ele mesmo. Destacamos o diagnóstico precoce do câncer de próstata, que é o mais incidente nos homens, após o câncer de pele. Sendo que o câncer de próstata tratado em estágios iniciais da doença tem chances de cura de até 90 %. O rastreio tem como principais objetivos redução da mortalidade relacionada a doença e melhora da qualidade de vida dos pacientes portadoras do mesma

Antena 1: Na maioria dos casos, o câncer de próstata é assintomático. Na fase avançada, quais são os sintomas e como é feito o diagnóstico?

Wendy Añez: Na fase avançada o paciente pode apresentar sangramento ao urinar ou ejacular; dor em região perianal; dores ósseas (quando metástases) e dificuldade para urinar. O diagnóstico de certeza é feito por meio da biópsia de próstata.

Antena 1: O que fazer depois de constatado? Quais os exames que o homem deve fazer para a prevenção do câncer de próstata?

Wendy Añez: Após diagnóstico, podemos tomar algumas condutas: ativa- como cirurgia, radioterapia ou medicação e por vezes a associação desta; vigilância ativa ou seguimento. Depende da idade do paciente, do grau de estadiamento da doença, da expectativa de vida e das doenças associadas que o paciente apresenta. Diante dessas informações tomamos as decisões juntamente ao paciente. Os exames que utilizamos para triagem inicial de suspeição de câncer de próstata são: PSA e toque retal.

Antena 1: Os fatores genéticos aumentam o risco do câncer de próstata?

Wendy Añez: Existem genes relacionados ao câncer de próstata. Os genes BRCA2 e BRCA1, por exemplo, estão associados ao pior desfecho no tratamento da doença e a doença ao diagnóstico mais avançada e agressiva, além do diagnóstico em pacientes mais jovens.

Antena 1: A mamografia de rastreamento para prevenir o câncer de mama é recomendada na faixa etária de 50 a 69 anos, a cada dois anos. A partir de que idade é recomendado para os homens realizarem o exame de próstata e por quê?

Wendy Añez: Segundo a recomendação da Sociedade Brasileira de Urologia: > 50 anos e > 45 anos, quando afrodescendentes, história familiar positiva para câncer de próstata e obesidade, anualmente. Após os 80 anos deixamos de realizar o rastreamento do câncer de próstata.

Antena 1: Quais são os pacientes que se configuram em grupos de risco?

Wendy Añez: Temos riscos aumentados quando: 2 parentes de primeiro ou segundo grau com CaP do mesmo lado da linhagem, ou síndromes familiares, como câncer hereditário de mama e ovário. Na realidade, a idade é o maior fator de risco.

Antena 1: Em sua opinião, quais as principais barreiras que impedem que os homens não cuidem de sua saúde em geral e da saúde da próstata em particular? (Preconceito em realizar os exames preventivos de próstata?)

Wendy Añez: Os homens não foram ensinados e não são incentivados a cuidarem de si mesmos, temos uma cultura que prega que homens são de "ferro", não tem suas vulnerabilidades e vão seguir fortes até "durarem". Não tem por hábito realizar exames de rotina e praticar a prevenção das doenças. Hoje essa visão do homem tem mudado, as gerações mais jovens estão mais atentas a sua saúde e cientes que dela dependem para uma vida com qualidade. Quanto aos exames diagnósticos, destacando o toque retal, ainda existe o preconceito de que o mesmo afeta a " masculinidade" do homem. Nos últimos anos, tenho percebido melhora da aceitação do exame no rastreamento, mas ainda enfrentamos essa barreira.

Antena 1: Além dos exames preventivos, há outras maneiras de prevenção?

Wendy Añez: Na verdade não existe uma medida de prevenção, existe sim o diagnóstico precoce, ou seja, nenhuma medida preventiva ou dietética específica é recomendada para reduzir o risco de desenvolvê-lo. No entanto, cessar tabagismo, praticar atividade física regularmente, atentar ao consumo de álcool, cuidar da alimentação são recomendações médicas de uma vida saudável e de bem estar, sabe-se que fatores dietéticos (gordura trans, ultraprocessados), ambientais e externos estão associados a maior incidência de câncer de próstata.

Antena 1: Poderia comentar sobre a relação da obesidade e o câncer de próstata? Há alguma outra doença com que possa estar relacionado a essa enfermidade?

Wendy Añez: A obesidade aumenta o risco de câncer de próstata e o tumor em homens obesos é mais agressivo.

Saúde Mental

Antena 1: E como fica a saúde mental ? Qual a importância da psicoterapia para pacientes de câncer de próstata? Qual o papel da psico-oncologia nessa situação?

Maria Cristina: O temor que o câncer de próstata traz ao homem é muita ansiedade e medo, chegando a afugentá-lo de exames de rastreamento que seriam protetivos e de outras preocupações sobre sua qualidade de vida de forma mais geral.

De qualquer maneira, o homem tende a ter sua ansiedade diminuída quando tem acesso a informações de qualidade. Portanto, alguns dos trabalhos que se encoraja é o da sua participação em grupos de apoio mútuo que trazem informações atualizadas e o depoimento de outros homens que passaram ou passam pelo tratamento e seguem com suas vidas.

Outro ponto de ajuda é o nosso trabalho de mediação com a equipe de saúde do paciente, onde numa consulta conjunta, conseguimos ajudá-lo a comunicar suas dúvidas e temores sobre a doença e tratamento, sobre mitos e verdades, prognóstico e sexualidade, de forma a minimizar as fantasias e pensamentos irrealistas.

Qualquer acompanhamento psico oncológico ao paciente requer atenção às fases de enfrentamento da doença, desde o diagnóstico, até a reabilitação psicossocial. E isso não é diferente quando se trata do câncer de próstata. Se no diagnóstico o homem se vê às voltas com sua ansiedade e busca mais informações, na fase de tratamento, as dificuldades que surgem relacionam-se com as especificidades das intervenções propostas, que podem ser cirúrgicas ou não.

Acima de tudo, o câncer nos convida a pensar no sentido de nossas vidas. O sentido dos relacionamentos, o sentido da profissão, o significado do sofrimento, o que significa "ser quem se é no mundo". Encontrar um sentido para a doença e para os desafios que ela possa trazer é uma aspecto crucial do nosso trabalho. Porque o câncer de próstata pode ser curável se constatado no início, com várias e inúmeras possibilidades de tratamento. Mas quando se encontra em estágio mais avançado, a doença se torna crônica e com isso, questões mais profundas que envolvem a espiritualidade, a fé, crenças sobre o significado da vida e da morte, podem e devem ser trabalhadas junto ao paciente e sua família.

Veja também:

LADO PESSOAL: MILLENA MACHADO ENTREVISTA ADRIANA AROULHO
LETRA E TRADUÇÃO: MILES AWAY – MADONNA

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