Olavo de Carvalho é dono do próprio nariz, diz Bolsonaro
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Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O escritor Olavo de Carvalho, que tem feito críticas públicas e contundentes a militares que compõem o governo, é dono de seu próprio nariz, disse nesta terça-feira o presidente Jair Bolsonaro ao ser perguntado se pediria a ele que 'baixasse o tom' nas críticas ao governo.
'O Olavo é dono de seu nariz, como eu sou do meu e você é do seu', respondeu o presidente.
Ao ouvir que Carvalho tem provocado membros do governo, Bolsonaro afirmou que é 'liberdade de expressão'.
'Eu recebo críticas muito graves e não reclamo. Todo mundo fala muito em engolir sapo, eu engulo sapo pela fosseta lacrimal e estou quieto aqui, tá ok?”
O escritor, apontado como guru de boa parte dos admiradores e de membros do governo de Bolsonaro, incluindo de seus filhos Carlos e Eduardo, tem criticado duramente militares que compõem a gestão Bolsonaro, como o vice-presidente Hamilton Mourão, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto Santos Cruz, e o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Boas, que é assessor do Gabinete de Segurança Institucional.
Depois de ter suas acusações contra os militares respondida por Villas Boas, o escritor redobrou os ataques desde ontem, ofendendo também o ex-comandante do Exército, um dos nomes mais respeitados pelas tropas.
Mais cedo, Bolsonaro havia dito que esperava que os atritos entre Olavo de Carvalho e os militares fossem página virada. Elogiou o escritor, a quem atribuiu a luta contra uma 'ideologia insana', mas também os militares, de quem disse que deve sua formação.
Na segunda, depois de um final de semana de ofensas de Carvalho aos militares - especialmente a Santos Cruz, seu alvo mais recente - Bolsonaro afirmou que a melhor resposta seria 'ficar quieto'.
Durante esta terça, a ala militar do governo tem mantido o silêncio, apesar dos ataques do escritor continuarem. Expoentes da ala olavista do governo, os filhos do presidente, Eduardo e Carlos, defenderam o escritor no Twitter.
'Olavo é ícone não é à toa. É porque lá atrás, quando era vergonhoso se dizer de direita e havia uma automática associação com a 'ditadura', muitos ficaram quietos e asfaltaram o caminho para a esquerda. Hoje praticamente só temos Olavo e para fabricar outro serão necessários outros 30, 40 anos', escreveu Eduardo, que é deputado federal pelo PSL de São Paulo.
Na manhã desta terça o deputado teve um encontro com Santos Cruz, mas não quis comentar o tema. Disse apenas que o clima foi bom.
'Alguns assuntos têm que ser tratados internamente', respondeu.
Eduardo manteve ainda a defesa de Olavo de Carvalho.
'Eu acho que ele segue tendo razão. Cada um tem seu estilo de falar. Eu tenho o meu, ele tem o dele, mas se deixar o comportamento de lado, você vai ver que o Olavo, na minha opinião, ele continua tendo razão', defendeu.
Eduardo também não quis comentar se Santos Cruz teria cometido erros no comando da pasta.
'Eu não generalizo os militares. Às vezes os analistas pecam em generalizar os generais. Para mim cada general é de um jeito. Agora algumas atribuições são do presidente', disse.
Um dos estopins das críticas a Santos Cruz foi uma entrevista em que o ministro afirmou que excessos no uso das redes sociais precisavam ser contidos e que talvez fosse necessário mudar a legislação.
A fala, feita no início de abril, foi indiretamente criticada pelo próprio Bolsonaro.
Escrito por Reuters
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