PF aponta Bolsonaro como membro de organização criminosa e liga fraude em vacinação a tentativa de golpe
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Por Rodrigo Viga Gaier e Eduardo Simões
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - No relatório em que indicia o ex-presidente Jair Bolsonaro por suposta fraude no cartão de vacinação contra a Covid-19, a Polícia Federal também afirma que a adulteração teria ligação com a tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023, quando vândalos bolsonaristas radicais invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes.
O relatório da PF, que foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), aponta ainda Bolsonaro como membro de uma organização criminosa que buscou desviar bens de alto valor entregues por autoridades estrangeiras, descredibilizar o processo eleitoral e tentar um golpe de Estado, entre outros crimes.
'Por ser tratar de investigação que apura a atuação de uma possível organização criminosa, que objetiva a obtenção de vantagens de caráter diversos (políticos, patrimoniais ou não), por meio da prática de várias infrações penais, identificou-se, até o presente momento, cinco eixos de atuação dessa organização criminosa', disse a PF no relatório, que foi visto pela Reuters nesta terça-feira.
Os eixos apontados pela corporação são ataques virtuais a opositores; ataques a instituições como o STF e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE); tentativa de golpe de Estado; ataques às vacinas e as medidas sanitárias de combate à pandemia de Covid-19; e o uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens como o uso de cartões corporativos para pagamentos de despesas pessoais e o desvio de presentes dados por governos estrangeiros para enriquecimento ilícito.
A PF afirma no relatório que a fraude no cartão de vacinação 'pode ter sido utilizada pelo grupo para permitir que seus integrantes, após a tentativa inicial de golpe de Estado, pudessem ter à disposição os documentos necessários para cumprir eventuais requisitos legais para entrada e permanência no exterior (cartão de vacina), aguardando a conclusão dos atos relacionados a nova tentativa de golpe de Estado que eclodiu no dia 08 de janeiro de 2023'.
Após ser derrotado pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial de 2022, Bolsonaro viajou para os Estados Unidos acompanhado da filha e de assessores próximos nos últimos dias daquele ano, não passando a faixa presidencial a seu sucessor.
Bolsonaro permaneceu nos EUA até o final de março de 2023 e não estava no Brasil no dia 8 de janeiro, quando ocorreram os ataques de bolsonaristas radicais às sedes dos Três Poderes.
Procurado pela Reuters, Bolsonaro respondeu por mensagem de texto que a PF realiza 'uma investigação seletiva' e ele está tranquilo e não deve nada. 'O mundo sabe que eu não tomei vacina', afirmou.
Além das investigações da PF, o ex-presidente já foi declarado inelegível por oito anos em junho do ano passado pelo TSE por causa de uma reunião convocada por ele com embaixadores sediados em Brasília na qual fez acusações sem provas contra a lisura das urnas eletrônicas e do processo eleitoral brasileiro.
Ele também é investigado nos inquéritos sobre as joias presenteadas pelo governo da Arábia Saudita e a tentativa de golpe.
No início deste mês, fontes ligadas a investigações que envolvem Bolsonaro disseram à Reuters que já discutiam o indiciamento do ex-presidente nos inquéritos.
O indiciamento abriria caminho para Bolsonaro ser denunciado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. Se a acusação for aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ele terá de responder a processo criminal que pode levá-lo à prisão, em caso de condenação.
Em publicação no X, o advogado Fábio Wajngarten, que representa Bolsonaro e foi chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência na gestão do ex-presidente, criticou o que chamou de 'vazamentos' em relação a investigações sobre Bolsonaro.
'Vazamentos continuam aos montes, ou melhor, aos litros. É lamentável quando a autoridade usa a imprensa para comunicar ato formal que logicamente deveria ter revestimento técnico e procedimental ao invés de midiático e parcial', escreveu.
(Reportagem adicional de Ricardo Brito, em Brasília)
Escrito por Reuters
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