PIB cresce 2,9% em 2022, mas queda no quarto trimestre aponta para desaceleração este ano
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Por Isabel Versiani e Rodrigo Viga Gaier
BRASÍLIA/RIO DE JANEIRO (Reuters) -A economia brasileira encolheu no quarto trimestre e fechou 2022 em desaceleração frente ao ano anterior, com a força do setor de serviços no pós-pandemia sendo ofuscada por uma retração da agropecuária e o desempenho mais modesto da indústria.
O resultado acontece em meio aos impactos da política monetária restritiva, que encarece o crédito e deve continuar pesando sobre a economia este ano, bem como a desaceleração global e as incertezas sobre os planos fiscais do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 2,9% em 2022, depois de ter avançado 5% em 2021, informou nesta quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No quarto trimestre, a economia sofreu queda de 0,2% sobre os três meses anteriores. Foi a primeira retração do ano, após o PIB ter crescido 0,3% no período de julho a setembro, em dado revisado de uma expansão de 0,4% informada antes.
O desempenho da atividade econômica veio em linha com expectativa de economistas apontada em pesquisa de Reuters.
Em relação ao quarto trimestre de 2021, o PIB apresentou alta de 1,9%, abaixo de expectativa de avanço de 2,2% nessa base de comparação.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a retração do PIB verificada no último trimestre de 2022 é um reflexo da alta dos juros promovida pelo Banco Central, comentário que vem em meio a fortes críticas do governo ao nível atual da Selic, de 13,75%.
Em evento para relançar o Bolsa Família no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a economia brasileira não cresceu 'nada' no último ano do mandato de seu antecessor Jair Bolsonaro e voltou a dizer que seu governo tem o desafio de retomar a expansão da atividade econômica.
De acordo com o IBGE, o destaque positivo no ano passado foi o setor de serviços, que acumulou alta de 4,2%, beneficiado pelo fim ou redução das restrições de controle da Covid e um mercado de trabalho forte, enquanto a indústria cresceu 1,6% e o setor agropecuário teve queda de 1,7%, refletindo a queda na produção de soja.
Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias cresceu 4,3% e a formação bruta de capital fixo, uma medida dos investimentos, teve alta de 0,9%. O consumo do governo aumentou 1,5% e as exportações contribuíram com salto de 5,5%.
A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, destacou que os números do quarto trimestre são coerentes com a expectativa de desaceleração diante da política monetária restritiva adotada pelo BC para conter a inflação, que reduziu os impactos da política fiscal expansionista adotada pelo governo Jair Bolsonaro para estimular a atividade no ano eleitoral.
'A política fiscal é mais rápida e aumenta logo a renda disponível especialmente para a baixa renda, que usa para consumir e não poupar. Os juros mais altos tem um atraso no seu efeito para a economia. Já era de se esperar uma desaceleração, e isso apareceu no fim do ano passado', disse Palis a jornalistas após a divulgação do PIB.
Ela afirmou que a indústria foi particularmente afetada no período também pela guerra na Ucrânia, redução da demanda da China diante das fortes restrições à Covid e alta das commodities.
A indústria sofreu queda de 0,3% no quarto trimestre sobre os três meses anteriores, com serviços crescendo 0,2% e a agropecuária, 0,3%. Já sob a ótica da demanda, o destaque negativo foi a formação bruta de capital fixo, que encolheu 1,1%, enquanto o consumo das famílias e do governo cresceu 0,3% cada um.
O PIB somou 9,9 trilhões de reais no ano passado. Já o PIB per capita (por habitante) alcançou 46.154,60 reais, com avanço de 2,2% sobre o ano anterior.
2023
De acordo com a mais recente pesquisa Focus com economistas realizada pelo BC ainda antes da divulgação dos dados do PIB do quarto trimestre, os mercados calculam que a economia brasileira crescerá este ano 0,84%, indo a 1,50% em 2024.
Nesta quinta-feira, analistas ressaltaram que os números mais recentes reforçam a percepção de desaceleração da economia em 2023, mesmo diante de fatores favoráveis à atividade, como a expectativa de uma safra recorde de grãos e o aumento dos benefícios sociais e do salário mínimo.
'Os efeitos positivos da reabertura econômica já se esgotaram, as maiores economias do mundo também encontram dificuldade para crescer e os preços das commodities estão em queda. Em um ambiente de baixo crescimento global, fica difícil para a economia brasileira alcançar um desempenho mais robusto', disse Claudia Moreno, economista do C6 Bank, que prevê alta de 0,5% do PIB este ano.
Para Carlos Lopes, economista do BVA, a desaceleração da atividade já em curso não 'facilita muita a vida do Banco Central'.
'Ela tem ajudado a inflação a ceder, mas não está cedendo na velocidade necessária', disse o economista. 'A desaceleração econômica é esperada e contribui para desacelerar a inflação, mas não significa que teremos corte de juros no curto prazo.'
O Ministério da Fazenda destacou em nota a política monetária 'significativamente contracionista' como obstáculo ao crescimento, assim como o setor externo, mas apontou expectativa de recuperação diante da safra recorde e de medidas do governo.
(Por Isabel Versiani, em Brasília, e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de JaneiroReportagem adicional de Luana Maria Benedito e Camila Moreira, em São PauloEdição de Pedro Fonseca)
Escrito por Reuters
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