Pires desiste de ocupar a presidência da Petrobras
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Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O economista e consultor Adriano Pires desistiu de ocupar o cargo de presidente-executivo da Petrobras, diante de dificuldades relacionadas a conflitos de interesses para comandar a estatal e suas atividades de consultoria, confirmou o governo em nota do Ministério de Minas e Energia (MME) nesta segunda-feira.
Em carta divulgada pela pasta, Pires disse que chegou a iniciar procedimentos para se desligar do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), onde é sócio-fundador e presta consultoria para empresas do setor de óleo e gás, mas percebeu que não poderia fazê-lo em tão pouco tempo.
'É por isso, senhor ministro, que sou obrigado a declinar de tão honroso convite', disse ele.
A desistência havia sido noticiada pela Reuters citando fontes com conhecimento do assunto. Mais cedo, o jornal O Globo antecipou a informação.
Procurada, a Petrobras não respondeu a pedidos de comentários.
No final de semana, o indicado do governo para ser o presidente do Conselho de Administração da empresa, Rodolfo Landim, desistiu do cargo.
Pires foi indicado ao posto pelo governo federal na semana passada, em substituição ao general da reserva Joaquim Silva e Luna, após críticas do presidente Jair Bolsonaro sobre alta nos preços de combustíveis.
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) pediu à corte na semana passada investigação de eventual conflito de interesse na indicação do economista para assumir a liderança da estatal.
Algumas das empresas que Pires presta consultoria têm negócios e contratos com a petroleira brasileira, algo visto como um primeiro obstáculo para que ele fosse aprovado nas regras de governança e conformidade da empresa.
De acordo com as fontes ouvidas pela Reuters na condição de anonimato, mesmo que Pires deixasse o CBIE e passasse o controle para terceiros, haveria um outro empecilho. O filho dele, Pedro Pires, também é um dos diretores do centro.
As regras de governança da petroleira não permitem vínculos até o terceiro grau de parentesco.
Já Landim disse que desistiu da indicação para comandar o conselho da Petrobras para se dedicar ao Flamengo, time presidido por ele.
Landim explicou que não conseguiria exercer os dois cargos ao mesmo tempo com grande dedicação e alta performance.
No entanto, fontes ouvidas pela Reuters disseram que Landim não teria passado nos teste de conformidade e integridade da companhia.
Landim foi denunciado junto com outras quatro pessoas pelo Ministério Público Federal (MPF) em julho de 2021 como parte da operação Greenfield. A investigação apura fraudes em fundos de pensão estatais --incluindo o Petros, da Petrobras-- e ainda não foi concluída.
Landim, ex-presidente da BR Distribuidora, também possui ligação com o poderoso empresário do setor de gás Carlos Suarez, dono de distribuidoras de gás ao norte do país e homem de negócios com fortes conexões políticas.
Procurado pela Reuters, Landim reiterou que desistiu da indicação por conta dos compromissos com o Flamengo, mas não respondeu sobre o processo de governança da companhia ou sobre o processo investigado pelo MPF.
(Reportagem adicional de Ricardo Brito, em Brasília; Sabrina Valle, em Houston; Letícia Fucuchima e Nayara Figueiredo em São Paulo)
Escrito por Reuters
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