Podcast Lado Pessoal - Lindalia Junqueira - CEO da Ions & Hacking.Rio

Apresentado pela Millena Machado, Lado Pessoal vai te levar até o universo particular dos CEOs. Com um formato descontraído, você vai conhecer aspectos da vida pessoal, decisões impactantes, mudanças de localidade, e, ainda, qual música inspirou os momentos importantes na vida de cada um dos CEOs.

Transcrito:

PODCAST Nº 13 – Setembro/2022 (2ª temporada)

Legendas:

MM: = Millena Machado (Apresentadora do podcast, Lado Pessoal).

LJ = Lindalia Junqueira (Entrevistada)

Está no ar... Lado Pessoal, com Millena Machado, o Podcast de entrevistas da Rádio Antena 1

Um podcast oferecido pela Pós Graduação da PUC Campinas, o próximo passo na sua carreira!

Música de introdução deste Podcast: I Just Called To Say I Love you – Stevie Wonder.

[0:00:49] – MM: Olá! Está no ar, Lado Pessoal, o podcast Rádio Antena 1, que entrevista os executivos mais admirados, que comandam as mais relevantes empresas do mundo! Hoje eu converso com uma mulher muito especial, diferenciada, e muito influente também! Ela é um radar, uma antena parabólica, observa tudo, capta, transforma inovando e espalha, multiplicando; já acelerou dezenas de empresas e foi a primeira brasileira selecionada no Programa Nasa Research, mas conhecida como Lindi, hoje a gente vai conhecer o lado pessoal de Lindalia Junqueira, CEO da Ions Innovation & Hacking.Rio. Falei direitinho, Lindi?

[0:01:32] – LJ: Falou... Nossa, Millena! Depois de te ouvir falar não preciso nem de guia mais, entendeu? Você já me colocou lá no espaço, na Lua... Obrigada aí pela entrevista, Millena, Antena 1, vamos poder compartilhar um pouco da história, da experiência, inspirar outras mulheres, outros seres, né, que queiram mexer com tecnologia, inovação, empreendedorismo.... Vamos lá!

[0:02:01] – MM: Vamos Lá! Seja muito bem-vinda! É... eu quero saber tanta coisa de você, achei a sua trajetória tão interessante, mas a gente tem uma tradição aqui no nosso podcast, que é começar perguntando sobre a música que vocês, nossos convidados, escolhem pra gnete abrir o nosso programa, e eu sei que você escolheu Astronaut In The Ocean do Masked Wolf. Porque você escolheu essa música? O que ela fala sobre você? Achei a letra bem interessante também.

[0:02:32] – LJ: Olha, primeiro que quando eu era... era filha de imigrantes portugueses, pobres né, eu nem sabia o que era um astronauta, mas eu sabia que eu queria ser pianista e voar pro espaço. Então, é... como você mesmo me [...?] e certo, e foi a primeira brasileira selecionada pela Nasa, em 2010, lá num programa que eles criaram, né, de Singularity University, poder compartilhar todos os exponential technologies no mundo, e isso a gente, de fato, criar uma nova face humana né, não de usar a tecnologia pra outra coisa senão para melhorar a qualidade de vida das pessoas. E aí, é legal que eu também tô, agora, esse ano é a década dos oceanos né, da ONU, que eu falar na ONU em Portugal, e eu falei assim: “astronauta no meio do oceano?” Essa música me intriga porque ela fala assim: “será que você está sabendo pra onde você tá indo?” Então, eu acho que é um pouco provocativa nesse sentido.

[0:03:39] – MM: Mas eu me lembro de você ter lido que voc~e tem vontade de ter uma fazenda de algas, justamente pra cuidar mais do mundo, pra produzir mais oxigênio; achei tão interessante isso, porque as pessoas, geralmente, quando querem empreender né, estatisticamente, inclusive, empreendem por necessidade, precisam de dinheiro né, ou empreendem porque têm o sonho de ter um negócio próprio, e eu já sei que você tem também uma história de empreendedora e eu quero, depois, falar sobre isso, ou então por que tem um propósito, mas é um percentual bem menor que tem um propósito e você se encaixando nele, achei muito curioso isso.

[0:04:16] – LJ: É, depois de 57 anos né, a gente é de nohack né, eu já fiz, como você falou, algumas coisas que me fizeram aprender e reaprender, é.... o de compartilhar isso, como diz Cora Coralina, “feliz daquele que aprende o que ensina” , né, e aí eu falei assim: “gente, o mundo é um só”; depois dessa pandemia fica clara que voc~e, hoje, num suspira, num dedo o que acontece em qualquer canto do mundo pode interferir, e a guerra ainda, em pleno século XXI”, então, falei: “gente, vai faltar alimento no mundo”, então isso já é uma... uma questão crítica, as mudanças climáticas traz uma questão a se pensar, se preocupar...rs... Já é uma realidade, você vê que o aeroporto de Londres a pista queimou de tanto calor né, está tendo muito incêndio na Europa. Então eu falei assim: “não adianta a gente falar é... de impacto social, impacto ambiental, se a gente não começar a usar essas novas tecnologias pra inovação social, pra gente construir novos ecossistemas; então eu estou estudando essa coisa de produção de alga, tem até uma fazenda, não só aqui no Brasil em Ilha Grande e no sul, mas tem também na Tanzânia, em que elas usam somente mulheres pra cultivar e extrair e faz... alga serve pra alimento, serve pra saúde, serve pra cosmético, novo cimento, serve pra tanta coisa que eu falei assim: “nossa! É isso que eu quero fazer e poder trazer, unir tecnologia com a natureza, fazer com que isso possa atingir o maior número de pessoas esse tipo de benefícios. Porque você falou nisso? Cara, você leu mesmo né! [risos]. Perfeito, está falando a meu respeito, que massa, Millena!

[0:06:26] – MM: Uma coisa que também me deixou, assim, surpresa foi: vendo de forma resumida a sua jornada voltada pra tecnologia, pra inovação, pra essa coisa de compartilhar, de impactar socialmente, você empreendeu de uma forma bem tradicional, que é com restaurante oriental...rsrsrs...As pessoas são assim né? Elas nem sempre estão nesse rumo da coerência 100%, não que isso seja incoerente, mas é curioso né, empreender numa coisa é tão assim... vamos dizer, antiga, como restaurante, a gastronomia, desde que o homem nasceu ele precisa comer né? Rsrsrsrs...

[0:07:07] – LJ: É... Nossa, já tem impressora 3D pra alimento, já tem muita robótica na... nos restaurantes, já tem muita tecnologia, mas [...?], é isso que eu te falei, tecnologia é só meio, e é você... você falou: “a gente empreende por propósito, por necessidade, e no fundo eu tinha uma necessidade, tinha que criar 3 filhos né, hoje eu tenho um filho de 32 anos que está morando na África, um de 30 e um de 22 e, na época, assim, eu comecei muito cedo a trabalhar, eu comecei a trabalhar com 15 anos por necessidade, então eu sempre trabalhei e estudei; na faculdade de engenharia eu também trabalhava e estudava, e me casei durante a faculdade, é uma história gozadíssima que um dia eu te conto como é que eu conheci o meu marido, foi a primeira e única vez que eu fui ao fórum, que ele é advogado, 6 meses depois eu estava casada, e aí um ano depois eu estava grávida e fazendo já, né, trabalho, eu estava na área de planejamento estratégico da Shell, e aí você passa a ter que conciliar essa coisa de mãe e executiva, e aí fui pro Banco Nacional, o Nacional Seguros, escrevo a primeira área didata sem ter... e didata business marketing lá, enfim, trabalhando de domingo a domingo, amiga, eu fiquei assim, né, a gente, no Brasil já tem um ritmo intenso, o pessoal fala que a gente trabalha menos no Brasil do que em outros lugares do mundo, é muito diferente disso, assim, a gente trabalha muito mais do que outros lugares do mundo que eu conheço; ia, o maridão, né, eu já estava no segundo filho, o maridão assim: “cadê você!” Né, eu estava sempre ou trabalhando ou estudando, não sei o quê, cuidava dos meninos, mas, por exemplo, se o menino às vezes ficava doente, o meu filho, eu falava assim: “Mô, corre aí no pediatra que é aí na esquina...rsrs...”, porque muitas vezes eu... eu já era, por exemplo, vice-presidente de marketing de uma grande indústria, que é a J Macedo, que tem 8 moinhos no Brasil e 1 em Portugal, que é da farinha de trigo Dona Benta, assim, e aí eu.... a reunião de conselho com o presidente era segunda feira de manhã em Fortaleza, Mi, no domingo eu já viajava pra poder estar lá; aí chegou um dia que ele deu um ataque, ele falou assim: “ó, ou trabalho ou a família; eu vou me separar, vou tirar teus filhos de você...” Uma coisa assim, bem... bem... Assim, pensa! Eu não tive dúvida, assim, entre o trabalho e a família eu optei pela família e em 24 horas eu pedi demissão, né. Estou com ele até hoje, estou casada com ele a 34 anos, [...?], mas é uma construção. E, com isso, eu falei: “ e agora, o que eu vou fazer?” E como meu pai começou aqui, veio de Portugal, carregando saco de 60 Kgs de café nas costas, na estiva, e com talento que ele tinha mesmo só tendo o primário, ele foi evoluindo nessa indústria de café até se tornar um dos sócios, foi um dos que fundou a ABIC, que é a Associação Brasileira da Indústria de Café, o selo de qualidade café, enfim, teve a primeira exportadora acerca de grãos de café no Brasil, e aí ele tinha uma série de restaurantes né, porque às vezes ele ajudava um outro português, né, o português precisa de empréstimo, não tinha às vezes no banco, não tinha essa cosia de patrocínio, então ele ajudava e com isso, como a pessoa não podia pagar ia dando um percentual pra ele; e ele tinha um sócio chinês; então ele tinha sócio que era o Chan, e aí falei assim: “sabe de uma coisa? Se é pra criar uma coisa diferente...” não existia há 25 anos atrás, nenhum restaurante em Shopping: aí a veia de inovadora e empreendedora, não existia chinês em shopping; então a gente criou o modelo e, no meu caso, eu tive que vender tudo que eu tinha pra investir, pra arriscar, né, eu fui pra cozinha mesmo, eu eo Chan-Li, o chinês lá, não sabia nem falar chinês, e aí a gente começou o negócio. Meu marido que era advogado acabou largando o negócio e veio trabalhar comigo, virou meu sócio e hoje ele é que cuida da rede de restaurantes né, e faz todo esse processo; mas foi muita luta. Então assim, o tempo todo você vai passando de executiva pra empreendedora, volta pra consultora e volta pra tudo né, pra pesquisadora e assim vai.

[0:11:38] – MM: Qual é o nome da rede de restaurantes? Quero prestigiar.

{0:11:44] – LJ: Chama Mr. Chan, que é o nome do Chan...

[0:11:44 – MM: Ah, é super famosa!

[0:11:48] – LJ: É... Começou no Shopping Tijuca, depois foi pra Downtown, Nova América, São Gonçalo, etc. A gente criou um, agora, com o meu filho que morou muito tempo em Singapura e o nossos restaurantes em shoppings estavam fechados, que eu não quis demitir ninguém, eu acho que a gente constrói famílias né, acho que os negócios também servem pra... pra gente desenvolver pessoas e se desenvolver, e aí ele não tinha delivery, porque em shopping é raro ter delivery, ele criou o Mccann Asian Food, e aí já com delivery, com [...?], enfim. Agora meu filho é que é o meu CEO.

[0:12:27] – MM: Ah...rs... Que legal! Rsra... Mulher, do céu, que bacana! Olha, só até aqui já deu pra ver que, realmente, você faz jus a todos os reconhecimento que você recebeu até hoje, aos convites, as indicações de prêmios, mulher de maior impacto da América Latina, dá pra ver mesmo que você, quando se lança a alguma coisa, a algum desafio... Mas aí, dá pra concluir até aqui que tudo vale a pena né, emprestando até a pessoa do Além Mar...

[0:12:58] – LJ: Fernando Pessoa...

[0:12:58] – MM: Que vem da sua ascendência né, portuguesa ou não? Tem horas que você já consegue, agora, ponderar mais e refletir e falar; “não, não vou passar por isso de novo, agora é outra coisa”; como é que está aí a tua vida neste momento?

[0:13:14] – LJ: É, quando você se lança a arriscar, a ousar, e inovação as vezes voc~e não é a primeira, não é uma inovação, obviamente que você sofre uma pressão interna e externa muito grande. É... eu não diria que eu não... me arrependo, mas eu diria que, de fato, as coisas que eu aprendi, espero, nas coisas que eu errei, que eu não erre de novo. Então, eu lembro que eu já fui chamada de maluca, amiga, 500 mil vezes; “essa mulher é louca, imagina! Isso aí não vai ser possível, isso aí não existe”. Eu quando criei, na Globo, que a gnete criou a primeira área de inovação, a primeira área de Open Innovation, trazendo, em 2005, nem se falava em Sart-up, nem se falava em modelo de inovação colaborativa, né, de inovação aberta. Nossa! A gente começou com 9 pessoas, e o pessoal assim; “são 9 malucos, isso aí... dá trabalho aqui, né, 25x7, nem vai dar tempo de ficar desenvolvendo”; em 3 meses eu tinha 1.800 voluntários, de todas as áreas, criamos mais de 347 projetos, ganhamos até o prêmio de inovação do IBC Award, que é um dos maiores prêmios de broadcasting, em 2012, e aí você aprende a .... é... de fato, a saber que você sabe, [...?] , como diz lá no [...?] , ou você né, se arrisca, é meio hacker mesmo do sistema e vai lá faz e mostra que dá certo e depois segue em frente ou não funciona. Então assim, de fato eu passei né, muito sufoco de estresse no trabalho, porque tinha, como mulher, sempre que trabalhar e entregar mais do que os homens, tinha que continuar estudando, me aperfeiçoando, não podia deixar de.... de... enfim, como você falou, fazia de qualquer maneira algo que fizesse sentido, por mais que, às vezes, no dia a dia tem coisas que você não gosta mas tem que fazer, igual o... aquele... o Cortella diz, o filósofo Cortella diz: ele adora ser professor, mas ele odeia corrigir prova né... [Risos].... Então, tem coisas que a gente tem que fazer. E aí chegou num ponto que eu, de fato, tive burnout, assim; eu, de fato tive uma estafa física e mental tão grande! Fiquei internada, etc., não conseguia.... parecia uma morta viva, assim. Então, isso foi uma lição muito importante, e eu compartilho com todas as pessoas, que nem todo mundo revela isso né, que já teve depressão, que já teve burnout, assim, voc~e tem que sempre pousar de guerreira, de mulher forte, de mulher invencível, assim, e no fundo isso é importante porque muita gente tem e não fala, e muita gente acha que vai passar, que é só descansar, tirar umas feriazinhas de uma semana, duas, que vai passar e não vai; você tem que ter ajuda médica, ajuda psicológica e vai ter que, de fato, repensar quais são os teus limites, até onde você pode e deve ir com... Porque... Eu tenho um amigo meu, também, Busarello, que é um grande inovador em São Paulo, que ele falou assim: “Dália, essa diferença entre você dar o sangue e suar a camisa”. Eu falei: “qual é a diferença?” “Pô, se você sua a camisa, né, você se entregou mas trocou a camisa e põe outra novinha, senão você morre, irmã”. Não é?

[0:16:59] – MM: É...

[0:16:59] – LJ: Aí eu falei: “Cacara! É isso”. Então, é... Hoje em dia, por mais que eu mergulhe, eu me dedique, eu delego, obviamente, muita coisa, eu trabalho com muitas redes de colaboração na qual você depende, também, do grau de dedicação e de tempo que cada um pode ter, mas se voc~e cria um objetivo a mais longo prazo, assim, e falar assim: “eu vou atingir isso aqui, no curto prazo, pra as pessoas se engajarem e mostrar que é possível, mas, depois, isso é um caminho de longo prazo que você sabe, não vai mudar o mundo é... em 1 ano né! Deus criou o mundo em 7 dias, mas assim, você não é Deus. Então, isso tudo são aprendizados que eu levo, por isso que eu saí do mundo corporativo no qual eu também trabalhava até às 3 da manhã e 6 da manhã já tinha que estar de pé, e como empreendedora você não trabalha menos não, você trabalha mais; você tem que se preocupar com marketing, com RH, com finanças, com toda a sobrevivência da sua empresa e da sua família, mas você passa, então, a encarar que o seu limite, o da sua saúde, está em primeiro lugar, senão você não vai poder fazer revolução nenhuma se você estiver internada num hospital.

[0:18:25] – MM: Eu quero saber, um pouco mais sobre esse seu método de trabalho que é atuar em redes, como é que funciona isso; achei muito interessante quando você citou, também, que é assim que você percebeu que as coisas funcionam, que você teve que fazer diferente. Eu acho que a grande dificuldade das pessoas, de um modo geral, pelo que eu percebo, e a gente já está na segunda temporada do podcast Lado Pessoal, é a gente entender ou conseguir deixar hábitos pra trás, porque a gente até certo ponto e aí você pensa assim: “bom, deu certo até aqui né, “vão ter que me engolir”, é assim que eu sei fazer, é assim que eu sou”; e a gente também acaba tendo que se engolir né, porque é difícil fazer diferente, a gente tem a incerteza de que fazendo diferente vai dar certo ou não, então fala: “pera, vou continuar decidindo desse mesmo jeito”, e a gente vai criando rotinas e consolidando hábitos e não se abre pro novo; e, por tudo que você tá colocando pra mim até aqui, eu consigo entender que você tá sempre se lançando pro novo. Como é que você faz, então, pra deixar esses hábitos, essas crenças que deram certo até aqui pra trás, pra você virar a página? E como é que é essa história de trabalhar em rede?

[0:19:43] – LJ: Olha, é.... Eu, quando em 2017, vi mais uma crise no Brasil, e muita gente indo embora né, muitos dos talentos que a gente desenvolveu de start-ups que a gente desenvolveu indo embora, eu falei assim: “tá na hora de fazer alguma coisa que seja... é... um coletivo apartidário; é aquela coisa, assim, que voc~e costuma reclamar do síndico mas não quer descer pra reunião de condomínio; então, se você não desce e não participa da gestão pública, porque o público é nosso, o dinheiro público é nosso, você não consegue, de fato, mudar né, como você falou, padrões e hábitos; e o padrão e hábito da tua comunidade, da tua região, do estado, do país, influencia diretamente nos teus padrões e hábitos pessoais. E aí eu crio um movimento junto com a Natalie Witte chamado “Juntos pelo Rio”. A gente começou, também, numa reunião com umas 100 pessoas, umas 100 pessoas no Rio, em 3 meses tinha quase 1200 pessoas, a gente dividiu em cloches setoriais, então tinha área de saúde, educação, de energia, de segurança, de mobilidade, transporte, e interessante porque aí era todo mundo, não tinha hierarquia, você podia ter o presidente de uma grande empresa de energia junto com o estagiário de uma Ong que também mexesse com isso. Então, governo, academia, investidores, empresas, empreendedores, a penta hélice se juntou, porque a gente só muda se a gente estiver na mesma estratégia, na mesma direção, se é melhor ou pior estratégia, mas tem que ser a mesma, e você depois vai aprimorando, aprimorando, e a gente tem que fazer o barco remar, pelo menos na mesma direção. E aí, tanto nos programas de inovação aberta que você você tem que trabalhar com equipes multidisciplinares dentro e fora, quanto nesse movimento chamado “Juntos pelo Rio”, você vai aprendendo, assim, as pessoas sempre perguntavam pra mim: “e agora, o que a gente faz?” Eu falei: “Não sei, a gente tá aqui pra vocês ajudarem a procriar”. Então, o brasileiro ainda tem esse padrão de esperar que alguém lá de cima né, Deus, o Papa, o Presidente, diga o que a gente vai fazer, ao invés de a gente construir, junto, procriar esse mesmo modelo. Então, as pessoas passaram a desenvolver esse lado de liderança, a colocar hipóteses, a colocar caminhos, a propor, fazer uma proposta de solução, se dá certo compartilhar com o outros. Então, quando você não se coloca como cabeça e sim como parte desse corpo, dessa alma, dessa... sabe, desse movimento que tá se formando, o link é muito forte, porque todos têm o mesmo propósito, ninguém é melhor ou pior que ninguém, não existe ego; obviamente que existe uma gestão, porque assim, naquele momento na google acontece muito isso, se eu sou líder de projeto daquela célula, naquele momento, daqui a 3 meses eu posso ser um estagiário da outra; você vai mudando os seus papeis de acordo com a necessidade e especialidade, a experiência que precisa naquele momento. É que muito isso foi o Zé Aranha que fundou o Gênesis da PUC né, é... como você trabalhar e construir e fazer com que as pessoas se tornem conectores; então, de uma rede pra outra você tem conectores. E foi assim que o Hacking.Rio nasceu. A gente quer fazer evento, e evento dá um trabalho, amiga, é uma pros poucos! É um risco danado! Você fala em risco, a gente fica um ano sem dormir, sem saber quem vai na festa, entendeu?

[0:23:47] – MM: Rsrsrsrsrs... [...?] E paga a conta também, né?

[0:23:51] – LJ: É, o pessoal fala assim: “nossa! Chega de reclamar, vamos mostrar as soluções que deram certo né, e compartilhar com empresas e pessoas que já estão fazendo”; e aí tem essa coisa do hackington, e o que é um hackington? Vem da palavra marathon, uma maratona de desenvolvimento, hackers do bem, porque o cara que invade os sistemas é cracker, é outro nome, e eles gostam de resolver problemas complexos, de maneira assim, em 42 horas irmã; como assim? Em 42 horas as equipes ficam viradas sem dormir até resolver e mostrar como é que funciona a solução e não estar. Eu falei: “gente, já tem uns bons hackers na universidade, vamos fazer um coletivo de [...?] cada um faz o seu, a gente se junta, vai dar mais visibilidade pra esse povo; as soluções também vão poder chegar no mercado e eu já via um gep muito grande naquela época de vagas abertas na área digital. Como assim? Tem curso de graça pra programador, pra desenvolvedor, pra pessoal de ciência de dados, e por quê o pessoal não faz? Então tinha essa barreira de achar que tecnologia era só pra quem era gênio né, só pra quem é fera em física, matemática, não sei o quê da engenharia... Não, gente, é pra todo mundo, programação é processo, é igual cozinhar: agora faz isso, depois faz aquilo, pra o robô virar à direita, se acontecer isso ele vira pra direita, se acontecer aquilo ele vira pra esquerda; então, é processo. Resultado, amiga, um hacker, então, tem 50, 80 pessoas assim, no máximo. A gente fez 15 hackington simultâneos, foram 2.800 pessoas em 2018, num final de semana.

[0:25:37] – MM: Uhum... Nossa!!! Lindalia!

[0:25:38] – LJ: Tem noção? E o cara tem que comer, tem que dormir, tem que interagir com os mentores, quase assim, 11.000 m2, e a gente não tinha nem.... nem rádio naquela altura. Gente, foi a coisa mais difícil que eu fiz.

[0:25:52] – MM: Como é que você faz pra... pra de uma ideia né, uma coisinha que é pequenininha, que tá dentro de você e virar essa coisa fenomenal aí, trazer essa multidão de gente com você? O quê que te move né, da onde vem tudo isso?

[0:26:09] – LJ: Millena, que pergunta difícil né?

[0:26:14] – MM: Nunca refletiu? Rsrsrs

[0:26:14] – LJ: É... Não sei o que os outros pensam, né? Tem que perguntar pros outros, como é que eles acham que... porque eles acreditam tanto em mim? Mas eu acho que essa credibilidade, é.... pra fazer essas conexões você tem que ter credibilidade, as pessoas precisam acreditar em você, vem justamente do exemplo né, você tem que liderar pelo exemplo, assim, não adianta você falar e não fazer. Então, eu sou a primeira a regaçar a manga, a trabalhar junto com as pessoas. Então, pelo exemplo, pela verdade e pela vulnerabilidade, né. Aprendi que... às vezes assim: “ah, eu não posso mostrar fraqueza pro outro senão o outro não vai me admirar”. É exatamente o contrário. Quando você mostra que você tem coisas que você consegue, tem coisas que você não consegue, tem coisas que naquele momento você tá com dificuldade; você mostra essa sua vulnerabilidade, é... gente, as pessoas estendem a mão, e aí esse vínculo se fortalece, porque num outro momento sou eu que vou ajudar essa outra pessoa. Então, assim, eu sou só ajudada porque eu ajudo muitas pessoas nos bastidores, e sem esperar troca; aí você fala assim: “mas que visão ingênua, Lindalia, e aí?” Porque existe, de fato, é... essa energia, nós somos energia, nosso corpo é 70% água e a gente é energia, às vezes eu penso numa pessoa e a pessoa me liga, é uma coisa de louco isso. E se você exerce isso e as pessoas veem a sua verdade no seu propósito, a sua vulnerabilidade, quando que você está bem, quando você está mal, quando que a gente pode se juntar nessa causa, e mostra, a primeira a ir pra frente de batalha e arregaçar a manga, as pessoas vêm junto. Então, eu não sei o que os outros diriam, mas eu, de fato, hoje o valor mais importante pra mim é credibilidade; é o que eu falo, fazer e as pessoas acreditarem e vir junto.

[0:28:24] - MM: Maravilha, que maravilha! E aquele seu sonho inicial que você me contou no comecinho da entrevista que era tocar piano, realizou?

[0:28:30] – LJ: Caramba! Não é que eu comecei a tocar piano com 5 anos de idade, sem ter piano? Isso era muito forte em mim. E sem ser alfabetizada ainda!

[0:28:40] – MM: Aí você já sabia ler e escrever, já era um fenômeno?

[0:28:41] – LJ: Não... Então, o meu pai, ele tocava Sax, mas aprendeu sozinho, autodidata assim, ele tinha um ouvido incrível! E eu, pequena, não conseguia segurar aquele negócio, aquele sax pesado, e aí eu comecei a ver, me interessar por música e adorei a coisa do piano né; eu não tinha piano, mas aí imaginava o piano, comecei a estudar, tinha uma professora que se voluntariou a me dar aula, via, assim, a minha vontade de aprender né, e eu imaginava que eu estava tocando numa mesinha que eu tinha, e com isso até os 12 anos eu fui estudando assim. Eu só tive um piano depois dos 12, que recebi uma doação, e com 15, então, em 3 anos depois eu já estava formada pela Academia Lourenço Fernandes como professora de música, de harmonia musical, etc., já comecei a dar aula com os 15, e aí participamos dos recitais, cheguei a ganhar um prêmio como melhor intérprete Lourenço Fernandes. E depois, quando eu fui pra faculdade, eu acabei fazendo duas faculdades, engenharia e música, eu fiz duas faculdades ao mesmo tempo, engenharia e cursei música. Aí o pessoal assim: “mas o que tem a ver? Você acha que tem coerência? Não tem nada a ver música”. Gente, música é matemática [risos]. É, música é matemática, tem as terças, as sextas, as nonas, é matemática, harmonia é matemática; a frequência de luz ou de som, tudo isso é matemática e física, e aí eu não consigo viver sem música, eu acho que na pandemia todo mundo viu isso, todo mundo acha: “ah, a música é supérflua ou o rádio ou o cinema, uma televisão, né, todo mundo viu o quanto é importante o papel do jornalista, quanto é importante o papel da música e do músico, o entretenimento, porque é isso, a alma precisa desse alimento.

[0:30:36] – MM: É, é verdade. E você passou 7 anos abstraindo né, e a matemática também é assim né, é abstração total, você ficou imaginando o seu piano lá. Mulher... que fenômeno que você é, hein! Nossa, que privilégio.

[0:30:54] – LJ: Não, quem tem imaginação tem tudo, amiga! [risos]. A cabeça voa.

[0:30:59] – MM: É verdade, é verdade. E o outro sonho de ser astronauta, hein, vai realizar quando?

[0:31:03] – LJ: Ah, não quero não! Agora eu quero ir pras profundezas do mar.

[0:31:07] – MM: Não quer mais?

[0:31:07] – LJ: Então, eu fui pra Nasa mas, obviamente, que eu não subi nem no espaço sideral nem na lua, só o nosso astronauta, ex-ministro Marcos Pontes é que subiu lá. Mas, sinceramente, agora tem voos já pra população civil, vocês viram aí.

[0:31:25] – MM: Turísticos, é... ao redor da Terra.

[0:31:28] – LJ: Foi lançado voos turísticos. Tem gente que já comprou o voo lá pra 2050, eu falei: “nossa, se eu for pra lá e depois não volto? Eu, hein! Rsrsrsrs.

[0:31:39] – MM: Deixa um pouquinho né?

[0:31:39] – LJ: Eu podia falar o seguinte: eu gosto de imaginar, de... de descobrir, porque assim, o que eu achava interessante na questão da Nasa é que, às vezes, pra você criar uma espaçonave, impulsionar o negócio até um local que você, de fato, nem tinha certeza que tinha antes dos satélites, etc., você teve que desenvolver uma cadeia de inovações, entendeu? Então, se existe hoje barrinha de cereal, etc., foi porque eles tinham que desenvolver novas formas de alimento que não precisasse de armazenagem de geladeira, enfim. É... Outras tantas tecnologias, o próprio Elon Musk fala isso; na verdade, o Elon Musk é um cara, vou te falar, polenta à beça né, ele, o moonshot dele, o ideal dele não é nada de Space X, de [...?], é energia. Não, o que ele luta é pra uma nova matriz energética, que é a maior planta solar do mundo lá no Marrocos; ele abriu em 2015 um paper pra transformar a energia magnética e de levitação num trem de 1200 km por hora e gratuito pra população, que quando mais você roda mais gera energia, que é o raio. Então, no fundo, o moonshot dele é energia; mas aí ele cria o Sapce X pra que todo mundo se engaje naquela coisa, assim: “isso é impossível!”, e começa a construir as várias tecnologias e inovações necessárias ao meio do caminho pra chegar lá. Entendeu? Então, você fica perguntando: “ah, qual vai ser o futuro da mobilidade?” Vai ser o tal do carro elétrico, né, o carro inteligente do habiterra, vai ser esse riper, vai ser o levitation, carro da Coreia; não, pode ser a bicicleta né? [risos]. Gente, a gente não precisa....rsrs... porque, cara, você vai botar uma bateria gigante num carro, aí você fala assim: “ah, tô despoluindo”, Está aí a bateria e você vai descartar aonde? Não é? Eu acho que a gente tem que começar a se perguntar nesse ciclo de vida do início ao fim o que a gente quer? A gente, no fundo, tem que, agora, é fazer a sobrevivência da espécie. E eu acho tão legal isso, porque isso está estimulando que várias pessoas possam se sentir inovadores, empreendedores, criar um negócio na sua comunidade, não precisa ser um Unicor do mundo todo; não, gente! Você pode ganhar dinheiro criando um negócio na sua comunidade engajando aquela comunidade. Então, a pandemia também trouxe, de certa maneira, esses alertas, o olhar de todo mundo pra gente ver a importância da música, da vida, da sustentabilidade e que tudo é uma economia circular. Falo à beça né, Millena... Caramba! Corta aí!

[0:34:29] – MM: Não, está ótimo! Você não fala nada à beça, a gente queria até que falasse mais, o problema é só que o nosso podcast dura, aproximadamente, meia hora, e você sabe que já está na hora de a gente ir encaminhando pro nosso encerramento, na hora de você oferecer uma música. Aqui a gente tem uma segunda tradição que é a gente terminar a entrevista com uma música também pra que o nosso convidado possa oferecer essa música e contar pro mundo porque ele escolheu essa música e pra quem ele oferece; e eu vi que você escolheu Hold My Hand, da Lady Gaga. Você já assistiu o filme Top Gun: Maverick?

[0:35:05] – LJ: Já; cara, incrível né?

[0:35:07] – MM: Adorei, também já assisti.

[0:35:09] – LJ: Incrível! E como.... Esse ator não envelhece! [risos]. E ele, de fato, pilota avião, pilota aquilo tudo, eu falei: “nossa!”... E eu me achando aqui, só porque eu fui pra Nasa, não faço nada perto dele. E eu acho que essa coisa do Hold My Hand é isso né, a gente falou acho que o tempo todo nesse podcast. Voc~e foi me levando, a gente não tinha combinado né? Mas eu acho que você foi me levando pra esse lado da... da colaboração, do coletivo, de um ajudar o outro, por isso que eu gosto, também, tanto daquela música Happy, porque.... hoje, você o tempo todo tem que agradecer, tem que acordar já falando assim: “obrigada por estar viva, obrigada por poder realizar coisas”. Às vezes você fala assim: “cara, não precisa ser coisas assim estratosféricas, as coisas mais simples”; só o fato, às vezes, de você poder ver o sol, poder...E aí o pessoal fala assim: “ Ih, Lindalia agora pirou, está abraçando árvore”; nem tomei esse chá de ayahuasca, nada dessas coisas [risos]. Mas é que, pra mim, não existe mais felicidades inteligentes, não existe tecnologia sem smart people. Então, eu estou muito voltada pra essa coisa assim: “gente, vamos dar as mãos, vamos juntos.

[0:36:24] – MM: Lindalia, super obrigada... Nossa! Foi maravilhoso te receber aqui no nosso podcast, muito inspirador mesmo, obrigada pela atenção, por ter separado um pouquinho do seu tempo, que é tão precioso né? E foi muito especial conhecer a sua trajetória, desejo ainda mais sonhos pra você realizar, porque você é extremamente realizadora. Parabéns, Mulher, viu! Que você engaje e inspire cada vez mais pessoas; siga liderando, a gente sabe o trabalho que dá, como cansa, vocês mesma aqui já resumiu até questões físicas que você passou por isso, mas que você não desista não, porque a gente precisa de pessoas como você, assim, com essa energia, visionária, e com essa simpatia toda acessando o coração de cada um de nós, e isso é muito especial, viu, parabéns!

[0:37:13] – LJ: Eu que agradeço minha linda, você, agora já faz parte do meu coração; então assim, da nossa legião de hackers do bem, que bom que você hackeia aí tanta coisa nesse mundo da comunicação, leva essas mensagens pro povo, e fico a tua disposição, se o pessoal tiver qualquer dúvida, pergunta, manda pra mim, se eu não souber acesso quem sabe... [risos].

[0:37:38] – MM: É isso aí, essa é a função do jornalista!... Haha... Já vi que você é um pouco jornalista também... rsrsrs... Gostei!

[0:37:48] – LJ: Valeu irmã... Valeu minha irmã! Estamos juntas!

[0:37:49] – MM: Um beijo, até a próxima! Muito bem! Esse, então, foi o lado pessoal de Lindalia Junqueira, CEO da Ions Innovation $ Hacking.Rio. O próximo podcast... hum... o que será que vai aparecer por aqui, hein? Surpresa! Eu espero você.... Um beijo! Tchau, tchau!