Podcast Lado Pessoal - Luiz Fernando Musa - CEO do Grupo Ogilvy Brasil
Com Millena Machado
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Apresentado pela Millena Machado, Lado Pessoal vai te levar até o universo particular dos CEOs. Com um formato descontraído, você vai conhecer aspectos da vida pessoal, decisões impactantes, mudanças de localidade, e, ainda, qual música inspirou os momentos importantes na vida de cada um dos CEOs.
Transcrito:
Legendas:
MM = Millena Machado (Apresentadora do Podcast, Lado Pessoal).
LFM = Luiz Fernando De Salvo Musa (Entrevistado)
Está no ar Lado Pessoal, com Millena Machado, o Podcast de entrevistas da Rádio Antena 1!! Vinheta da Antena 1.
Música de introdução deste Podcast: Someone To Watch Over Me
MM: Olá!!! Sejam todos bem-vindos... bem-vindas!! Está no ar Lado Pessoal, o podcast da Rádio Antena 1, que bate um papo sincero e descontraído com os executivos mais poderosos do Brasil. Eu sou Millena Machado, e hoje revelando seu lado pessoal pra gente o CEO do grupo Ogilvy Brasil e Chairman e Fundador da David, Luiz Fernando de Salvo Musa... Mais conhecido como Musa... Musa, seja muito bem-vindo! Prazer te receber aqui.
[0:01:01] - LFM: O prazer é meu, Millerna, obrigado! E... Muito bom estar com vocês e nesse projeto novo no canal, seu aí,.... Parabéns!
[0:01:08] - MM: Obrigada! Eu já quero começar perguntado por que essa música interpretada pela Amy Winehouse, Someone To Watch Over Me, é importante pra você, e em que momento, porque você escolheu essa música pra gente abrir aqui o nosso papo?
[0:02:27]: LFM: Mas é...rsrs...
[0:02:28]: MM: Você gosta de Fábio Júnior? Eu adoro! [risos]
[0:02:31]: LFM: Ôpa! Então, sempre, Fábio Júnior sempre... Mas aí está num outro lugar né? Deixa ele lá...[risos].
[0:02:38]: MM: É... a Rádio...
[0:02:39] – LFM: Tem uma história engraçada porque a gente... eu nasci em São Paulo, e... e morei no Brooklin, e ele era o cara que... era ali... o vizinho, era do bairro que estava começando a fazer sucesso, eu era criança, tal, e tinha alguém no bairro que estava começando a trilhar um caminho de sucesso, aí comecei a ficar... prestando a atenção, e desde moleque e tal. Então é aquela... É aquele evento que a gente tem perto da gente, alguém, assim, do bairro que você nasce e que começa a dar certo e você fala: “— pô!” né, que acaba ajudando a inspirar, acaba ajudando a fazer com que a gente consiga a querer coisas também; daí que vem essa relação de infância na verdade, então...
[0:03:21] – MM: Ahh... que bom! É, porque estava caminhando pra eu te fazer uma próxima pergunta: você é romântico? Você gosta de cuidar das pessoas, de preparar surpresas? Sofre por amor?
[0:03:33] – LFM: Não sei se eu me encaixo, necessariamente, na definição de romântico, mas na definição de cuidado de... de ter prazer quando o outro está feliz é bom, é bom; quando a gente faz pelo outro, melhora até pra gente do que pro outro, acho que tem... tem... Mas é um aprendizado, é um processo, não é alguma coisa, pelo que a gente... alguma coisa que você vai descobrindo ao longo da vida.
[0:03:52] – MM: Quantos anos têm seus filhos?
[0:03:56] – LFM: Tem pra todo tipo: eu tenho a Clara de 16 anos, o João de 14 e a Maria com 4, então temos pra todo lado aí.
[0:04:00] – MM: Ahhhh... [risos].
[0:04:02] – LFM: Duas meninas em cada ponta e um menino no meio.
[0:04:07] – MM: Pelo menos uma companhia aí pra você, masculina. O que você costuma fazer quando está perto do menino, por exemplo, esportes? Como que é a convivência com as meninas também?
[0:04:19] – LFM: Ah é bom... Com as meninas eu aprendo todo dia, muito né; eu acho que tem... primeiro assim, a convivência com a Clara... Enfim, a Clara é a primeira, então eu costumo brincar que ela que me ensinou a ser pai, na verdade ela está me ensinando até hoje porque ela é a... ela é super madura, assim, super presente na minha vida e... e está naquela idade que ela já tem as respostas pra quase tudo; então... principalmente da minha vida né. Então é... é... é muito bom; e aí, depois, também, tem uma pequenininha de 4 anos que cresce com os irmãos mais velhos, tal, a gente está sempre aprendendo; agora, o João... O João tem um talento incrível pra fazer churrasco, ele nessa pandemia consumiu todo... ele adora essa parte de cozinha, tal, e o churrasco entrou na vida dele nesse último ano e meio; então, cozinhar, na verdade, ele fazer churrasco, ele domina a churrasqueira e... e toda semana tem... toda semana tem um assunto novo, tem uma carne nova, tem um corte novo, tem uma faca nova, tem um jeito de fazer; o João é o... é o churrasqueira oficial da família, assim.
[ 0:05:31] – MM: Ótimo! Imagino quão deve ser estimulante pra você né, pela sua natureza publicitária, de observar, de realmente questionar, de se envolver com tudo. O que mais chama em você nessa nova geração, então, positivamente e negativamente? Dá aí um exemplo de cada pra gente, assim...
[0:05:50] – LFM: Olha, eu acho que positivamente ele já vem com uma consciência.... uma consciência social, uma consciência de... necessidade de preservação, com muito menos preconceito, com muito mais aceitação, acho que, de uma maneira, tudo é muito mais normal pra eles, sem julgamentos, eles já vêm com esse chip, tudo é muito mais natural e eu acho que a preocupação, assim, com o outro, e a preocupação... essa relação é muito mais... muito mais fácil e... e eu acho que assim, essa forma de descobrir o mundo, essa forma do que fazer, do que fazer, de como mudar, de mudar o status quo; eu acho que eu tenho essas relações, e aí eu estou falando, principalmente aí de....dezesseis, quatorze, mais a...a... Tanta descoberta infantil, a descoberta de coisas novas, de como... como isso é importante, e até uma geração que já nasce no mundo e tem questões de preocupações que a gente... que a gente vem brigando contra e pra eles já é... mais do que a briga, pra eles já é um fato, assim, culminando que tudo é possível, tudo é normal. É muito... tem uma coisa muito mais sensível ali, muito mais inclusiva nessa geração, tá; e isso aí a gente aprende um pouquinho todo dia né? E a... e a beleza da descoberta, beleza de sonhar, beleza de querer coisas, a beleza de correr atrás de coisas e, às vezes, a gente.... às vezes a gente reclama um pouco de tudo de como estão as coisas, tal, mas, imagina, eu vejo a grande preocupação que a gente tem é nesse mundo aí , que a gente está aí a um ano e meio quase aí com uma restrição social brava. Imagina você estar no meio do... de uma...no começo da sua vida, começando a querer sonhar, começando a projetar pra frente um futuro que ele é imediato, a gente não tem clareza sobre... Ainda bem que agora a gente está começando a ter uma visão um pouquinho melhor aí sobre pra onde as coisas vão, principalmente, em países é... onde você tem esse percentual de vacinas andando, então isso traz uma esperança, mas... mas acho que os que tem um lado muito difícil aí pra você ficar adolescente ou estar começando, pensando na tua vida adulta ou começando a sonhar o que fazer num mundo que está completamente confuso e não paro. [0:08:21]A gente nessa idade tinha mais ou menos uma projeção e sabia como as coisas eram ou como as coisas seriam, tinha uma normalidade; eles estão lidando com muitos fatores de dúvida e angústia e ainda não podem, talvez, e estão tendo cada vez menos é...é... contato social. Então, isso é uma preocupação, pra essa galera, principalmente assim: como é que eles estão se relacionando? Como é que eles vão desenvolver essas relações? Enfim, eu acho que o peso pra eles é enorme, mas, não só pra essa geração, eu falo do pessoal que trabalha, que está no começo de carreira, todos os questionamentos que vieram na vida pessoal de cada um com essa pandemia, trouxeram grandes questões e questões que, provavelmente, acho que provavelmente não, certamente, a gente não viveu e a gente não teve que lidar.
[0:09:06] - MM: É...
[0:09:06] – LFM: E escolhas muito grandes. Por outro lado, acho que, também, que apertou pra eles o valor da simplicidade né, das pequenas coisas como que são importantes, contar com o avô, contar com a avó, contar com pai e mãe, contar como amigos, também fortalece essa percepção de como é importante o outro, as pessoas. E você falou de... da publicidade e é isso, a gente precisa... No que a gente trabalha, acho que a gente precisa botar gente, precisa conseguir olhar o outro e... entender as dores e as visões diferentes aí. É mais do que empatia, é se colocar mesmo no lugar e entender as dores e não omitir o problema do outro pela nossa barra né, o problema do outro pode ser pequeno pra mim, mas se pro outro é grande a gente tem que ter sabedoria de... ouvir, entender, respeitar e... e fazer isso. Então eu acho que é um aprendizado grande aí pra todo mundo... pra todos nós que estamos passando por isso.
[0:10:03] – MM: Verdade. E... E você é muito atento a isso também né; no meio publicitário você é conhecido por tonar clientes seus amigos, né? Pra você é muito natural lidar com pessoas né?
[0:10:18] – LFM: Eu acho que, na verdade, assim, eu costumo brincar, por exemplo, é... a David ou a Ogilvuy ou o cliente, a Unilever ou a Pfizer ou... enfim. Na verdade é uma relação de empresas, mas que acontece entre pessoas, então a Ogilvy da Millena são as pessoas com quem ela se relaciona na Ogilvy.. A Ogilvy é.... de...de... da Maria ou do José ou outro cliente, são as pessoas. Então eu acho que no final, claro, a relação ela tem sim, ela é profissional, é pautada encima do trabalho, mas a gente acaba esbarrando em pessoas que você tem afinidades e é uma relação, de novo, de pessoas em qualquer negócio. Eu acho que... daí, assim, alguns casos, a gente torna amigo, alguns casos a gente vai encontrar sinergia, e é verdade, tem, assim, tem cliente que eu trabalhei há 20...15 anos, e que eu me relaciono, até hoje, como amigo né, uma coisa não interfere na outra. Eu acho que assim, é... eu acho que essa questão humana e essa sensibilidade é super importante, inclusive num negócio que lida com a criatividade, que lida com... é.... é... que lida com o ser humano, também, do outro lado, que lida com o consumidor, que lida com essas relações, com expectativas. Então, assim, é... o nosso desafio é criar essa relação, é criar a relevância, é entender essas coisas. Então, assim, eu acho que é olhar muito além da relação entre duas empresas, é olhar pras pessoas que estão aí, são elas que fazem a diferença. [0:11:50] - O [...] emitiu uma frase que... que resume bem o nosso negócio, mas eu acho que... serve pra qualquer negócio, “que o nosso maior ativo entra e sai pela porta todo dia”; quando, na verdade a gente tinha porta e pessoas no escritório, mas, o nosso maior ativo entra e sai pela porta todos os dias.
[0:12:12] – MM: Essa... Essa sua facilidade em lidar com pessoas vem de onde, hein? Você acha que puxou da sua mãe, do seu pai, de algum avô ou é alguma coisa que você desenvolveu por você mesmo, assim?
[0:12:27] – LFM: Ah... eu não sei se... é um olhar controverso que eu tenho essa facilidade ou não...
[0:12:34] – MM: Rsrsrs
[0:12:34] – LFM: Eu acho que a gente vai aprendendo... É... Há controvérsias, a gente vai moldando, a gente vai...Alguns pioram, a gente tenta melhorar sempre; mas eu acho que... aí a gente vai sendo moldado, a gente vai aprendendo coisas, eu acho que tem um lado aí.... Vamos lá! Eu acho que... eu venho... Primeiro assim, a família é do Interior de São Paulo, meus avós materno e paternos eram de Limeira e [...], então, eu tive muita relação com meu avô e minha avó materna; minha vó era colunista social, ambos eram professores, meu avô depois virou advogado e minha avó era colunista social, então, eu cresci ali, e ela escreveu mais de 30 anos num jornal de Limeira, na Gazeta de Limeira, então... E era uma pessoa que se relacionava, os dois... os dois tinham uma relação muito boa dentro de casa com os filhos; é um baita exemplo pra mim, sempre foram um baita exemplo, e eu acho que a gente aprende essas coisas em casa né, eu acho que tem coisas que a gente aprende em casa e a gente acaba desenvolvendo. Eu não fui sempre assim não, teve um momento que...que a gente... sei lá... que a gente está cego pra algumas coisas ou está correndo atrás de uma coisa só e não tem essa compreensão mais ampla das relações. Mas eu acho que é um pouco isso, isso vem um pouco .... vem um pouco de casa, vem um pouco de você aprender, vem um pouco... de você... passar por essa questão de ser pai ou mãe e abraçar isso, e essa troca, e a gente vai... acho que o lado espiritual, religioso, transcendental, também é importante, eu acho que o lado de se entender; eu acho que o mais difícil é a gente entender o que a gente quer. Agora... de conhecer a gente, entender o que a gente quer; [0:14:24] Mas tem uma coisa, Millena, que eu acho que mudou muito pra mim; eu perdi meu pai, perdi meu avô, eu já perdi algumas pessoas importantes na vida, é.... algumas... Meu pai morreu muito cedo, eu era...eu tinha, sei lá, trinta e poucos anos, morreu com 63 anos, meu avô que era uma figura muito importante também faleceu logo depois e minha avó, enfim. E o legado que essas pessoas deixam, pelo menos, é...é... o legado são de pequenas coisas; o legado não é um legado ... financeiro, não é um legado é....é... O legado é de memória, é de pequenos lugares onde você consegue voltar e a história que você tem pra contar sobre essas pessoas. Então eu acho que se você for pensar no lado pessoal ou profissional, quando você pensa no legado, o teu legado não vai ser o prédio, a parede, o cliente “a’, o cliente “b”, vão ser histórias de... de... de coisas que você viveu e que alguém vai contar. Então assim.... a hora que vem essa consciência, muitas vezes a consciência vem de uma perda, consciência vem de um momento de dor, e que você depois quer voltar ali, e você tem histórias pra contar, histórias pra vivência, conta a partir de pequenas coisas, eu acho que vem dessa consciência também. Então, em cada relação, se a gente puder construir um pouquinho disso, você está criando ali esse... esse legado, de certa forma... eu não diria ... não é um legado emocional, é o legado que conta mesmo, que é um lugar, que quando o outro falta ou o outro não está você tem pra onde ir.
[0:16:12] – MM: Uhum...
[0:16:11] – LFM: E, geralmente, você tem pra onde ir não é físico, não é financeiro, é de algum evento, é de alguma história que você viveu. Acho que vem um pouco dessa consciência, mas toma tempo, não foi sempre assim não.
[0:16:25] – MM: Me conta, então, uma... uma história memorável aí da sua infância, algo que te marcou, que você realmente sempre recupera em algum momento específico aí da sua vida ou quando você está muito feliz ou em dúvida ou triste... o que você gosta de lembrar da sua infância?
[0:16:44] – LFM: Ah... Nossa... da infância tem de tudo! Tem desde coisas como... eu... eu... gordinho, não conseguia ter rodinha de bicicleta que me aguentasse... Então, eu tive que aprender a andar ....
[0:16:56] – LFM: Eu tive que aprender a andar de bicicleta na marra numa... amiga minha que era... inclusive que trabalhava em casa, a filha dela que me ajudou a fazer isso, uma história interessante, até coisas do tipo... até.... É, eu nasci na beira de uma vilinha ali no Brooklin, e todas as relações ali de jogar futebol na rua, de... de quando meu pai conseguiu comprar o primeiro carro e chegou com.... Enfim, você tem... você tem...ir ao jogo de futebol, aprendi... aprendi com meu pai, sou São Paulino, ia no Morumbi e isso me lembro com dois, três, quatro anos de idade, estar lá no frio, e depois, assim, quando meu pai não estava, então eu me lembro de ligar a ele no escritório dele, ele trabalhava numa multinacional na época, na IBM, inclusive, e eu ligava: “— pai, hoje tem jogo? Vamos no jogo? Ah, pô, vamos no jogo”. Então, eu acho que essas coisas é que ficam, entendeu?
[0:17:52] – MM: Uhum...
[0:17:53- - LFM: E é um pouco disso que... que... Eu acho que pequenos rituais que se estabelece com as pessoas eu acho que a gente não pode perder, os rituais. Eu acho que tem algumas coisas que são importantes. Então... Eu, por exemplo, tomava café da manhã todos dia com minha mãe, lendo jornal e a gente falava do mundo, da vida; então, era um momento que a gente conversava, eu acho que a mesa tem muito isso, então eu procuro... eu procuro fazer do momento...Por mais que as pessoas cresçam e por mais que a vida de cada um vá pra um lugar, a gente tem pequenos rituais. Então, vamos jantar ou qual é o nosso lugar que está... de sair uma vez por semana ou cada 15 dias, ir almoçar e falar da vida e ouvir do outro e... e saber um pouco; então, eu acho que é isso, são nesses momentos, esses pequenos rituais,; eu acho que rituais são importantes ainda, sabe? São coisas que a gente não pode perder, sejam rituais no trabalho, sejam dentro de casa. Então, essa história que eu falei agora virou um clássico né, final de semana com as crianças: “—quando que vai ter o churrasco que o João vai fazer?” Ou vai visitar a casa de um amigo: “—Não, o João vai fazer churrasco”. Então, rituais que vão ficando e eu acho que esse é o grande legado, porque você vai montando esse... essas memórias, e quando você me pergunta da minha infância, é muito isso. Então, eu lembro dos jogos de futebol com meu pai, lembro das... é... é... das brigas também né, nos jogos, enfim. E tudo isso a gente conta e faz diferente ou faz igual ou vai resgatar ou a vida do Interior nos finais de semana e os almoços que a gente fazia na casa da avó, os Natais, ou.... E eu vou juntando né, eu tenho, assim, os quadros do meu avô, os... sei lá... as coisas de... O Natal e a louça do Natal da casa da minha avó, está na casa da minha mãe. Então, contar isso pros meus filhos é um jeito de conectar eles com os bisavós; sabe, existe toda essa... São tudo essas pequenas coisas vão juntando... vão juntando essas historinhas aí. E minha filha até, de 16 anos, na pandemia, começou agora um projeto dela né, de começar a buscar e entrevistar pessoas mais velhas da família.
[0:20:08] – MM: Olha... que interessante!
[0:20:07] – LFM: Pra buscar essas histórias. E... aí tem uma tia, uma tia-avó, quer dizer, uma tia-avó minha, na verdade é... dela é, nem sei o que é, tia-bisavó...
[0:20:18] – MM: É.
[0:20:18] – LFM: Ela é surda, e ela cresceu com os meus avós, tal, é...é... e aí ela quis saber mais da história dela, escreveu uma carta, ela mora em Santos, tem noventa e tantos anos, escreveu uma carta... Ela respondeu a carta. Então, assim, por causa dessa transitoriedade. Então, quando eu vejo os meus filhos, também, indo buscar histórias, assim, é...é... é muito bacana, entendeu? Minha filha, outro dia eu estava fora, ela me liga: “— Pai, você não vai acreditar! Eu fui no cabeleireiro aqui em São Paulo com a mamãe, e não sei o quê, e o cabeleireiro era de Limeira, e eu lembrei que a vovó, o seu avô e a sua avó eram de Limeira; e você não sabe! Ôrra! Ele conheceu... Nossa! Porque ela disse que deu o maior apoio pra ele quando ele foi drag queen ou quando ele teve...”
[0:21:05] – MM: Olha!!!
[0:21:07) – LFM: E assim mesmo: “— Meu Deus, pai! A vovó já era muito moderna naquela época”. [Risos]. Então, ela estava... Ela encontrou a história da avó, aleatória, em São Paulo que, realmente, porque minha avó.... eles eram um casal super... assim... bem colocados no mundo, e olha só, o cabeleireiro que estava contando uma história de como ele estava ... eram juntos no momento difícil de 1980, 90, sei lá, e ela sentiu orgulho do tipo: “—Ah... que bacana! Quer dizer, isto que é uma discussão hoje, você vê que a gente fazia... Então, eu acho que esse tipo de coisa é o que fica.
[0:21:45] – MM: Esse apego, esse carinho, que eu percebo, também, muita gratidão, embora você não tenha usado a palavra ‘gratidão’, mas a maneira como você se recorda e...e... e coloca tudo de um jeito tão... tão especial, valorizando isso, demonstra a gratidão né, de tudo que envolveu você, do tempo que você ficou com seus avós, que eles dedicaram a você, de quanto eles te inspiraram, seus pais. Agora, veja só, você comentou que seu pai trabalhava na IBM; a IBM é sua cliente aí na Ogilvy, não é não?
[0:22:17] – LFM: É também; foi uma coincidência enorme da vida.
[0:22:20] – MM: Olha! Que coincidência...
[0:22:21] – LFM: É... é verdade, é.. é verdade.
[0:22:21] – MM: Imagino pra você a emoção que deve ser né?
[0:22:26] – LFM: É, eu acho que a gente tem que estar atento a essas coisas; eu acho que essa questão da gratidão é que assim, todo mundo que passa, todo mundo que você se relaciona tem alguma coisa do mundo dele que não é do teu mundo, do mundo dela que não é do teu mundo, e que você pode tirar uma coisa diferente, uma coisa boa, e pode gerar um impacto diferente ou... Então, eu acho que é daí, eu acho que... meu encantamento com pessoas vem daí, desse olhar. E, eu acho que pra isso... ficou uma coisa, assim, que eu aprendi ao longo da vida que, muitas vezes a gente está no lugar sem estar, né...
[0:22:59] – MM: Uhum...
[0:22:59] – LFM: Então, sei lá! Eu estou aqui, agora, conversando com você. Eu não estou fazendo nada, eu estou aqui conversando com você.
[0:23:07] – MM: Sim
[0:23:08] – LFM: Ou eu posso estar almoçando ou jantando com a minha filha, ou... enfim. Às vezes as pessoas estão, mas elas não estão, porque a cabeça você está no olhar pro trabalho, você está preocupado com alguma coisa. A gente se distrai e a gente faz de conta, a gente está lá fisicamente mas, emocionalmente, a gente não está. E aí, na verdade, a sua mente está ruim.
[0:23:28] – MM: Uhum...
[0:23:27] – LFM: Então, se é que é pra ser assim é melhor que não seja. Essa consciência demorou a cair minha ficha. Muitas vezes... No outro meu casamento, as crianças eram pequenas, eu estava, geralmente, final de semana, desesperado com o trabalho, com coisa pra fazer e não sei o quê... Então, até estava, eu estava fisicamente, mas eu não estava por inteiro. Então, às vezes, assim, quando a gente está numa conversa ou quando a gente está fazendo alguma coisa, que sejam três minutos ou que sejam três horas, mas... ‘puta’ ter certeza que a gente está por inteiro ali, além de ser respeitoso com o outro, a troca acaba sendo muito maior, e eu acho que você começa a estabelecer pontos que, se você está fechado no teu mundo, ou se a tua cabeça está em outro lugar e só está fisicamente ali, a chance de você não estabelecer uma conexão de verdade, real...E mais do que ouvir né, é... é realmente estar ali. Eu acho que isso é um aprendizado também, e de novo, nem sempre fui assim, a gente vai aprendendo nos erros né.
[0:24:31] – MM: É. Agora está sendo generoso em contar pra gente, em inspirar, em encorajar as pessoas a também serem mais intensas né, mais... mais verdadeiras, mais... mais autênticas, aproveitarem, realmente aí, cada instante, viverem intensamente cada instante.
[0:24:49] – LFM: É... Eu costumo brincar, assim. É assim, a gente tenta, a gente tem, é o que temos, entendeu? [Rssss] É o tema. Porque quando você tenta, tira aquilo que você não tem, não vai rolar, entendeu?
[0:25:00] – MM: Exatamente!
[0:25:00] – LFM: Então, é o que temos. Quer, quer, não quer... é o que temos, é o que temos hoje, entendeu?
[0:25:06] – MM: E termos o que plantamos também, né, Musa? Chegamos até aqui pela nossa... como semeamos né, como preparamos, é a nossa colheita. Agora, me conta uma coisa, uma provocação aí... Você se considera mais analógico, mais digital ou você já está no phygital? Está na moda, agora, ser phygital? Rsrsrsrs...
[0:25:26] – LFM: Nossa, cara! Eu... A gente está na fenda da... a gente viveu...s gente está no vale ....
[0:25:33] – MM: [Risos] A gente... rsrsrs
[0:25:35] – LFM: A gente... a gente que eu estou dizendo... eu, aqui, né...
[0:25:37] – MM: [Risos] Eu também... eu sou mais nova, mas também...rsrs.
[0:25:40] – LFM: Mas, assim...A gente diz: eu! Eu diria os três mundos né; o mundo do...do... do analógico, da chegada da televisão chegando ali, quatro canais, o Rádio, entre outras coisas...
[0:25:54] – MM: Nossa!!!
[0:25:55] – LFM: A gente viveu essa coisa...
[0:25:57] – MM: Lembra do telegrama? Rsrs...
[0:25:58] – LFM: A gente... Não, a fotografia, já tirava a foto e não via na hora...
[0:26:02] – MM: Verdade!
[0:26:03] – LFM: Principalmente explica pro teu filho que você tirava as fotos e dali a uma semana você ia ver se tinha foto boa ou não, você tinha que mandar num lugar, revelar, enfim...
[0:26:10] – MM: Verdade!
[0:26:10] – LFM: Aí, depois, a gente viveu a transição, a gente viveu a chegada da tecnologia, e agora a gente está vivendo, na verdade, a tecnologia como parte integrante da vida da gente, como algo... que é... como algo que é, não é uma questão: “ah, se é bom ou se é ruim”; ele é uma extensão, as redes sociais é uma extensão da pessoa, como a pessoa se coloca na rede social é como ela se coloca... e não deveria ser assim, como ela se coloca na vida. Hoje é...é... né; então, eu acho que, assim, a gente é, mas eu volto, você sabe que, pra tudo isso, eu volto ao ponto... eu prefiro... eu prefiro não me definir, nem analógico, nem digital, nem nada, me definir, assim. Se a gente conseguir olhar pras pessoas a gente consegue entender todo o contexto né; eu acho que, no final, o que move as pessoas são as emoções; é... é... é o humor, é a tristeza, é a paixão, porque no final volta ali, volta ao clássico, volta [...]. Você tem 4, 5 emoções que é o que você tem que tocar, e aí isso não muda né, o ser humano é abastecido disso, né. Então, eu acho que esta compreensão é... é importante, então, no final do dia eu prefiro me definir como um cara que tenta se entender e entender as pessoas em volta; acho que é mais por aí, viu, com ou sem tecnologia, a tecnologia ela já é um given, já está aí.
[0:27:39] – MM: [risos] É verdade. Ah, por falar nisso, eu sei que você gosta de jogar cartas, é poker né, o seu jogo preferido. É... cartas nas mãos ainda ou já está no poker virtual já? Ahhh... Essa pergunta vai ser reveladora, vamos ver....rs
[0:27:54] – LFM: Não...Você sabe que... Não, eu sempre... eu sempre fui mais do poker ao vivo, porque no poker, ali, na mesa com os amigos, porque é menos sobre o poker em si, mas sobre as pessoas... </
Escrito por Millena Machado
SALA DE BATE PAPO