'Porgy and Bess': A Ópera Que Mudou a Música e Dividiu Opiniões!
Do sucesso nas vozes de Ella Fitzgerald e Louis Armstrong às críticas ferozes — saiba tudo sobre essa obra icônica e controversa
Publicada em
Era uma noite inesquecível em Nova York, 1935. Imagine: os irmãos Gershwin, já renomados, prestes a estrear uma nova obra na Broadway. Só que desta vez, o espetáculo não apenas iluminaria os palcos, mas paralisaria os Estados Unidos.
Na plateia da primeira apresentação de “Porgy and Bess”, estrelas de Hollywood como Katharine Hepburn e Joan Crawford assistiam encantadas. O final da noite foi marcado por aplausos estrondosos, seguidos por uma festa glamourosa, onde George Gershwin, ao piano, tocou trechos da trilha sonora.
Mas, na manhã seguinte, o espetáculo começou a ser questionado. Surgiram dúvidas sobre sua temática, sua abordagem e a linha tênue entre homenagem e apropriação cultural. Essas questões, levantadas há mais de 80 anos, seguem presentes até hoje. À medida que a Metropolitan Opera inaugura sua temporada com uma nova produção de “Porgy and Bess”, a primeira desde 1990, o debate continua vivo.
Com canções icônicas como “Summertime”, “I Loves You, Porgy” e “It Ain’t Necessarily So”, a trilha sempre transitou entre o erudito e o popular. Ela é uma fusão de orquestrações grandiosas e coros poderosos, que misturam a música sinfônica europeia com o jazz americano.
A pergunta que persiste, porém, é: trata-se de uma ópera ou um musical? Embora tenha retornado à Broadway em 2012, em uma versão mais enxuta, desde 1976, quando foi relançada pela Houston Grand Opera, o espetáculo passou a ser amplamente reconhecida como a "Grande Ópera Americana".
Por décadas, a música da obra foi imortalizada por lendas do jazz como Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Billie Holiday e Nina Simone. No entanto, enquanto sua trilha ganhou o mundo e se consolidou como um marco da cultura americana, muitos artistas negros continuam a ter uma relação ambígua com a ópera. Apesar das oportunidades que ela proporcionou, a obra também perpetuou estereótipos que, para muitos, eram limitadores.
A questão da apropriação é um ponto crítico. “Porgy and Bess” foi escrita por uma equipe branca e baseada na visão de George Gershwin sobre a cultura negra. Mas, também tem um fator: os irmãos Gershwin exigiram que a ópera fosse apresentada exclusivamente por artistas negros — uma decisão destinada a evitar o uso de blackface, que ainda era comum nas grandes apresentações — e isso abriu oportunidades para cantores negros.
Maya Angelou, que participou de uma produção da ópera em 1955, descreveu-a como "uma grande arte" e "uma verdade humana". Em contrapartida, Harry Belafonte recusou protagonizar a adaptação cinematográfica, considerando-a “humilhante do ponto de vista racial”. Para muitos críticos, a obra oferece uma representação mais idealizada e estilizada do que uma visão autêntica da vida negra nos Estados Unidos. Hall Johnson, um maestro e compositor negro, reconheceu o direito de Gershwin de criar sua versão da cultura negra, mas também ressaltou que a ópera refletia mais a visão pessoal de Gershwin do que uma realidade vivida por negros americanos.
Mais de 80 anos depois, “Porgy and Bess” ainda provoca reflexões e reações intensas. Como a ópera mais popular já escrita sobre a experiência negra americana, sua relevância permanece inquestionável. Ao mesmo tempo, sua complexidade histórica e cultural continua a gerar desconforto — um lembrete constante do poder e das contradições dessa obra singular.
Veja também:
PARTICIPE DA PROMOÇÃO “OUÇA E CONCORRA”!
MTV Europe Music Awards: As Mulheres Dominam! Veja quem são as indicadas!
Descontos especiais para distribuidores
SALA DE BATE PAPO