Presidente da Ucrânia critica neutralidade de Bolsonaro em guerra em entrevista à TV Globo
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(Reuters) - O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, criticou em entrevista à TV Globo, que foi ao ar na terça-feira, a posição de neutralidade do presidente Jair Bolsonaro diante da invasão russa de seu país, fazendo um paralelo entre a ação militar de Moscou com a Segunda Guerra Mundial.
'Ontem eu falei com o presidente Bolsonaro e sou grato a ele por essa conversa. Não foi a minha primeira conversa com o presidente do Brasil. Eu não apoio a posição dele de neutralidade. Eu não acredito que alguém possa se manter neutro quando há uma guerra no mundo', disse Zelenskiy à emissora.
'Eu disse isso para o presidente: 'Preciso de uma posição do Brasil. Eu conto com o seu povo, eu sei que tipo de pessoas estão lá, elas são maravilhosas. Eu tenho certeza de que elas apoiam os mesmos valores que nós apoiamos. Independentemente da língua que falamos. Somos um só povo'. Nós respeitamos nossos vizinhos', acrescentou.
Zelenskiy e Bolsonaro conversaram na segunda-feira e, antes da reunião, o presidente Bolsonaro havia dito à imprensa que daria ao líder ucraniano a solução para o fim da guerra, fazendo uma comparação com a Guerra das Malvinas, em que a Argentina se rendeu ao Reino Unido depois de menos de três meses, em 1982, sem dar detalhes.
Em uma publicação no Twitter após a conversa, Zelenskiy disse que informou Bolsonaro sobre a situação no front e pediu a todos que se juntem na aplicação de sanções a Moscou.
Na entrevista à Globo, o presidente da Ucrânia disse que Bolsonaro expressou a ele o apoio brasileiro à soberania e integridade territorial da Ucrânia, mas ressalvou a posição neutra do Brasil.
'Vamos pensar sobre a Segunda Guerra Mundial. Foi assim. Muitos líderes ficaram neutros num primeiro momento. Isso permitiu que os fascistas engolissem metade da Europa e se expandissem mais e mais, capturando toda a Europa. Isso aconteceu por causa da neutralidade. Ninguém pode ficar no meio do caminho', disse Zelenskiy à emissora.
'Agradeço ao apoio da mídia, que é muito importante. Mas precisamos do apoio que mencionei ontem ao presidente, eu disse para ele: 'Queremos o apoio do Brasil'. Eu disse: 'Se amanhã alguém atacar vocês, não ficaremos neutros, independentemente do histórico da nossa relação com esse país que venha a violar a sua soberania. Se alguém capturar a sua terra, matar o seu povo, estuprar as suas mulheres, torturar as suas crianças, como poderei dizer que sou neutro? Eu não tenho esse direito, esse é o mundo moderno'', afirmou.
Desde o início da guerra, apesar de a diplomacia brasileira ter condenado a invasão, Bolsonaro estreitou sua relação com o presidente russo, Vladimir Putin, e nunca condenou pessoalmente a ação russa.
Sem aderir às sanções internacionais impostas ao país, o governo brasileiro manteve negociações com a Rússia, incluindo a compra de fertilizantes e, mais recentemente, a aquisição de diesel do país, mais barato que o mercado internacional, já que os europeus reduziram drasticamente a compra direta da Rússia.
Poucos dias antes da Rússia invadir a Ucrânia, Bolsonaro visitou o país e se reuniu com Putin, apesar dos apelos da União Europeia e dos Estados Unidos para que a visita fosse cancelada.
(Por Eduardo Simões)
Escrito por Reuters
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