Pressão de Trump obtém concessões -- algumas reais, outras nem tanto
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(Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está se impondo no cenário mundial emitindo ultimatos tanto para amigos quanto para inimigos e insistindo para que eles se alinhem aos interesses norte-americanos ou enfrentem as consequências.
Suas ameaças -- desde grandes tarifas comerciais até a apropriação direta de recursos -- fazem parte de uma abordagem transacional da diplomacia, muitas vezes acompanhada de exigências explícitas.
Muitos de seus alvos foram rápidos em oferecer concessões. Algumas foram reais, notadamente promessas de comprar mais produtos norte-americanos ou investir em atividades dos EUA. Em outros casos, foram uma reformulação de uma política que já estava em andamento, ou medidas com mais simbolismo do que substância.
A seguir, são mostrados alguns dos detalhes dessas respostas desde a posse de Trump em 20 de janeiro.
FRONTEIRAS
Os 10.000 soldados da Guarda Nacional que o México enviou para a fronteira com os Estados Unidos para trabalhar no controle da migração e impedir o fluxo de drogas são claramente novos acréscimos à sua presença de segurança na fronteira.
Essa medida foi suficiente para levar Trump a suspender sua ameaça de tarifas comerciais elevadas na semana passada. No entanto, a maioria dos especialistas duvida que os reforços tenham um impacto real.
No caso do Canadá, que também ganhou um adiamento nas tarifas, o país já havia anunciado em dezembro um investimento de 1,3 bilhão de dólares canadenses (cerca de US$909 milhões) em segurança de fronteira, visando o fentanil, a migração irregular e o crime organizado.
Ao anunciar a pausa nas tarifas impostas pelos EUA em 3 de fevereiro, o primeiro-ministro, Justin Trudeau, mencionou 'uma nova diretriz de inteligência' sobre o crime e o tráfico de fentanil, apoiada por 200 milhões de dólares canadenses. Ele também se comprometeu a nomear um 'czar do fentanil' -- um novo cargo cujo ocupante ainda não foi nomeado.
JAPÃO
O grande superávit comercial do Japão com os Estados Unidos há muito tempo irrita Trump, que não demorou a levantar a questão com o primeiro-ministro Shigeru Ishiba em sua primeira visita à Casa Branca na semana passada.
Embora não esteja claro se o Japão está na linha de fogo das tarifas, Ishiba sinalizou a disposição de favorecer os interesses dos EUA, prometendo aumentar o investimento japonês nos Estados Unidos para US$1 trilhão e comprar gás, etanol e amônia dos EUA.
É provável que os investimentos incluam uma promessa de US$100 milhões que o presidente-executivo do SoftBank Group, Masayoshi Son, fez em uma reunião com Trump em dezembro. Ishiba também mencionou os planos de novas fábricas nos Estados Unidos da Toyota Motor Corp. e da Isuzu Motors.
Trump também anunciou o que chamou de progresso na tentativa bloqueada da Nippon Steel, de US$14,9 bilhões, de adquirir a U.S. Steel. Ele disse que qualquer oferta deve assumir a forma de um investimento em vez de uma compra direta. Ainda não está claro como a Nippon Steel e a U.S. Steel planejam revisar o acordo proposto.
ÍNDIA
Anteriormente rotulada por Trump como um 'grande abusador' no comércio, a Índia há muito tempo faz questão de enfatizar sua disposição de abrir sua economia -- uma mensagem que o primeiro-ministro Narendra Modi enfatizará durante sua visita de dois dias aos Estados Unidos nesta semana.
'Não queremos dar a ninguém nenhum sinal de que gostaríamos de ser protecionistas', disse à Reuters o secretário de Finanças, Tuhin Kanta Pandey. 'Nossa posição é que não queremos aumentar a proteção.'
A Índia está considerando cortes tarifários em pelo menos uma dúzia de setores, de eletrônicos a equipamentos médicos e cirúrgicos, e produtos químicos, para impulsionar as exportações dos EUA em linha com os planos de produção doméstica de Nova Délhi, disseram autoridades do governo. Modi também pode propor o aumento das importações de energia e defesa dos EUA.
SEGURANÇA NA EUROPA
Trump começou a criticar os aliados europeus da Otan sobre a necessidade de aumentar seus gastos com defesa em seu primeiro mandato -- com algum efeito.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, disse na semana passada que uma nova promessa de gastos militares a ser decidida este ano seria 'consideravelmente' maior do que a meta de 2% da produção nacional que muitos aliados da Otan não estão conseguindo cumprir há uma década.
É evidente que a guerra na Ucrânia também concentrou as atenções na Europa nas necessidades de segurança. Mas ainda não se sabe como os governos, com seus orçamentos apertados, pagarão pelo aumento dos gastos com defesa.
Ainda mais incerto é o que acontecerá com a afirmação de Trump de que os Estados Unidos precisam receber uma parte das receitas da futura extração dos depósitos de terras raras e outros minerais essenciais da Ucrânia em troca do apoio ao esforço de guerra.
A Ucrânia lançou a ideia de abrir seus minerais críticos para investimentos de aliados no ano passado e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, disse em uma entrevista à Reuters na semana passada que estava pronto para fazer um acordo com Trump.
Mas Zelenskiy enfatizou que Kiev não estava propondo 'doar' nenhum recurso, mas oferecer uma parceria para desenvolvê-los em conjunto. Também não está claro quanto desses recursos se encontra no lado russo da atual linha de frente.
(Reportagem de Aftab Ahmed em Nova Délhi; John Geddie em Tóquio; Stephen Eisenhammer na Cidade do México; Caroline Stauffer no Canadá)
Escrito por Reuters