Que futuro aguarda Bolsonaro? Não será a volta ao Planalto, apostam até aliados
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Por Anthony Boadle e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O ex-presidente Jair Bolsonaro promete ser muitas coisas nos próximos anos: líder da oposição, uma pedra no sapato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um criador de novos líderes de direita.
Candidato presidencial? Não. Nem mesmo os aliados mais poderosos de Bolsonaro estão apostando neste futuro.
O ex-presidente está enfrentando mais de uma dezena de processos na Justiça Eleitoral devido à sua conduta na campanha do ano passado, quando repetidamente atacou a legitimidade do sistema de votação eletrônica do Brasil enquanto concorreu à reeleição.
Especialistas jurídicos e duas fontes da cúpula do Judiciário disseram à Reuters que esperam que ele perca pelo menos um desses casos, o que o impediria de concorrer à campanha presidencial de 2026. Ficaria inelegível por oito anos.
Até Ciro Nogueira, seu ex-ministro da Casa Civil, está cogitando alternativas, contando com o ex-chefe como cabo eleitoral, não como cabeça de chapa.
“Qualquer chapa com o apoio de um Bolsonaro inelegível venceria facilmente a eleição”, disse o senador Ciro Nogueira, que preside o PP, em entrevista à Reuters.
A perspectiva eleitoral de Bolsonaro contrasta fortemente com a do ex-presidente dos EUA e seu ídolo político, Donald Trump, outro populista de direita que desafiou os resultados de sua fracassada campanha de reeleição.
Apesar das acusações criminais apresentadas contra Trump na semana passada por causa de um pagamento clandestino que os promotores alegam ter beneficiado sua campanha de 2016, ele continua sendo o favorito nos mercados de apostas para ser o candidato republicano nas eleições presidenciais dos Estados Unidos no ano que vem.
Embora Bolsonaro também possa enfrentar riscos em cerca de meia dúzia de investigações criminais, é mais provável que uma decisão que sele seu destino político venha do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O processo mais rápido no TSE contra Bolsonaro gira em torno de um briefing que ele realizou para o corpo diplomático em Brasília em julho, enquanto presidente, acusando o sistema eleitoral de ser vulnerável a fraudes em declarações transmitidas ao vivo pela TV do governo e pelas redes sociais.
“Se não for este caso, será o próximo”, disse Henrique Neves, ex-magistrado da Justiça Eleitoral, ao ser questionado sobre a probabilidade de o TSE declarar a inelegibilidade de Bolsonaro para o cargo.
Bolsonaro nunca admitiu sua derrota apertada nas eleições de outubro e continua a questionar a confiabilidade do sistema de votação do Brasil. O TSE rejeitou sua reclamação formal contestando o resultado eleitoral e chegou a impor uma multa milionária a seu partido pelo que o tribunal chamou de litígio de má-fé.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que está pagando pela defesa de Bolsonaro, se recusou a comentar o caso e disse que Bolsonaro deveria concorrer porque não cometeu nenhum crime.
No mês passado, em evento com apoiadores na Flórida, o próprio Bolsonaro disse que esperava ser declarado inelegível, embora defendesse que falar com diplomatas era sua prerrogativa como presidente.
Apesar dos desafios, o retorno de Bolsonaro ao Brasil no final de março, após três meses nos Estados Unidos, mostrou que ele está ansioso para continuar sendo um protagonista político. Com três filhos em cargos eleitos e dezenas de milhões de seguidores nas redes sociais, não há dúvidas de que seu movimento ultraconservador continuará.
Além disso, os retrocessos legais no Brasil nem sempre são imutáveis. O próprio Lula foi impedido de concorrer à presidência em 2018 devido a uma condenação por corrupção no âmbito da Operação Lava Jato que acabou anulada pelo Supremo Tribunal a tempo de ele vencer a eleição do ano passado.
ESTRELAS CONSERVADORAS EM ASCENSÃO
Ainda assim, os conservadores aliados de Bolsonaro estão prontos para reorganizar as fichas para o próximo ciclo eleitoral.
Ciro Nogueira disse que vários líderes de direita que surgiram na esteira de Bolsonaro poderiam concorrer à presidência, em contraste com o Partido dos Trabalhadores, que tem poucos herdeiros óbvios do legado de Lula.
O senador citou estrelas em ascensão na direita, como o governador de São Paulo, Tarcisio Freitas, que foi ministro dos Transportes de Bolsonaro; o governador de Minas Gerais, Romeu Zema; e a ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
A mulher de Bolsonaro, Michelle Bolsonaro, seria 'uma ótima candidata a vice-presidente', disse o ex-ministro.
Costa Neto disse que o primeiro teste da influência política duradoura do ex-presidente virá quando ele fizer campanha por aliados nas eleições municipais do ano que vem.
Mas, com ou sem Bolsonaro, Costa Neto disse estar confiante no retorno da direita em 2026. Ele disse que uma decisão do TSE de impedir a candidatura de Bolsonaro só aumentaria o apelo político do ex-presidente.
Qualquer substituto de direita pode vencer com seu endosso, acrescentou, evitando as altas taxas de rejeição que Bolsonaro enfrentou como candidato no ano passado.
“Há boas razões para acreditar que uma candidatura de direita pode vencer em 2026”, disse Mario Sergio Lima, analista sênior do Brasil na Medley Global Advisors, citando questões sobre a economia e a falta de um herdeiro óbvio para Lula, 77.
Mas Lima estava cético em relação à influência pessoal de Bolsonaro.
'Ele provavelmente perderá seus direitos políticos e, sem eles, será muito difícil liderar qualquer tipo de projeto de direita', disse. 'Candidatos como Tarcísio ou Zema tentavam se distanciar dele para atrair os moderados.'
(Reportagem de Anthony Boadle e Ricardo Brito)
Escrito por Reuters
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