Queda de isolamento em SP aumentará casos e mortes por Covid-19, diz presidente do Butantan
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SÃO PAULO (Reuters) - A queda nas taxas de isolamento social no Estado de São Paulo levará a um aumento no número de casos de Covid-19 e de mortes provocadas pela doença respiratória causada pelo novo coronavírus, disse nesta quinta-feira o presidente do Instituto Butantan e coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus no Estado, Dimas Covas.
De acordo com ele, a queda na adesão ao distanciamento social também implica que o Estado perderá o esforço feito no início da pandemia, quando o índice de isolamento chegou a ficar acima de 50% e próximo a 55%. Atualmente, esse indicador tem ficado abaixo de 50% durante os dias de semana e um pouco acima deste patamar aos fins de semana.
'O índice de isolamento é uma medida indireta da taxa de transmissão de vírus, da taxa de contágio. Quanto mais elevado, menor a taxa de contágio. Quanto menor, maior de contágio', disse Covas em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
'Como caiu o isolamento, obviamente que a taxa de contágio aumentou... Isso vai começar a se refletir 15 dias depois', acrescentou.
De acordo com a secretaria estadual de Saúde, São Paulo tem 54.286 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus e a Covid-19 já matou 4.315 pessoas no Estado.
Autoridades do governo estadual apontam que a queda na participação percentual do Estado no número total de mortes e casos de Covid-19 do Brasil mostra que o isolamento social adotado em São Paulo funcionou.
De acordo com os números apresentados, São Paulo respondia por 68% dos casos nacionais de coronavírus em 15 de março, índice que baixou para 27% na quarta-feira. Em relação às mortes provocadas pela doença, o Estado tinha 68% delas em 1 de abril, e chegou à quarta-feira a 31% dos óbitos nacionais.
'Nós podemos demonstrar que a curva de São Paulo foi achatada e que a necessidade de seguir com o isolamento social em todo o Estado de São Paulo é fundamental neste momento', disse o secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi.
Covas, entretanto, alertou que os dados atuais refletem as medidas tomadas há 15 dias, e que esse esforço pode ser perdido com a queda no isolamento social.
'Os números de hoje refletem o que aconteceu duas semanas, duas semanas e meia, três semanas atrás. Vocês se lembram que o índice de isolamento social naquela época era maior do que o índice observado nos últimos 15, 20 dias', disse.
'O panorama dessa taxa de isolamento hoje aponta para uma piora desses indicadores: número de casos, número de mortes. É o que nós estamos observando, dia a dia um progredir dessas duas curvas.'
INSUFICIÊNCIA RENAL
Autoridades de saúde paulistas têm apontado a taxa de ocupação dos leitos de UTI (unidade de terapia intensiva) como um dos fatores críticos a ser observado durante a pandemia e, atualmente, a ocupação está em 69% no Estado como um todo e em 85,5% na região metropolitana da capital paulista.
Mas o médico Luiz Carlos Pereira, diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, um dos principais hospitais de referência para o tratamento da Covid-19, disse que mesmo com os leitos disponíveis, a situação dos contaminados que precisam deste tipo de suporte é dramática.
Segundo Pereira, a taxa de mortalidade dos pacientes de UTI é de 1 para cada cinco, e muitos dos que sobrevivem não voltam incólumes para casa.
'De cada 10 pacientes, quatro estão evoluindo para insuficiência renal. Desses pacientes que vão receber alta, alguns deles vão precisar continuar fazendo diálise. Alguns deles ainda vão ter sequelas pulmonares', alertou, ao pedir que as pessoas permaneçam em casa para evitar o contágio.
(Por Eduardo Simões)
Escrito por Reuters
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