Durante séculos, acreditava-se que a Lua afetava o comportamento humano. Tanto o filósofo grego Aristóteles, quanto o naturalista romano Plínio, o Velho, acreditavam que a loucura e a epilepsia eram causadas pelo satélite natural.A ciência evoluiu muito desde então, mas a hipótese de que a Lua pode ter alguma influência no nosso humor não foi deixada totalmente de lado. O psiquiatra Thomas Wehr publicou um ártico detalhando os casos de 17 pacientes com transtorno bipolar de ciclos rápidos – isso quer dizer que a mudança entre o estado depressivo e o estado de mania acontece de forma mais dinâmica que o habitual."O que me impressionou nesses ciclos foi que eles pareciam surpreendentemente precisos, de uma forma que você não esperaria necessariamente de um processo biológico", diz Wehr, professor emérito de psiquiatria do Instituto Nacional de Saúde Mental em Bethesda, nos Estados Unidos. Isso dez com que o pesquisador questionasse se havia alguma influência externa orientando esses ciclos. Considerando a antiga crença de que a Lua afeta o comportamento humano, "a coisa óbvia a considerar era se havia alguma influência lunar", ponderou o professor.No estudo, Wehr fez algo que até então outros pesquisadores não haviam feito: gravou o mesmo indivíduo ao longo do tempo e continuamente em diferentes fases, em uma abordagem sistemática. Em alguns casos, ele acompanhou as datas das flutuações do humor dos pacientes por anos.Ao fazer isso, o cientista descobriu que seus pacientes se enquadravam em duas categorias: na primeira, o humor parecia seguir um ciclo de 14,8 dias; no segundo, o ciclo era de 13,7 dias - embora algumas vezes essas fases se alternassem.Muita coisa não se sabe sobre a Lua, mas conhecimentos que já são consolidados são suas fases e a influência delas para as marés dos oceanos. E o humor dos pacientes de Wehr parecia estar em sincronia com os ciclos de aproximadamente duas semanas do satélite natural.Outra evidência para essa relação – entre Lua e humor – é o fato de que, a cada 206 dias, os ritmos regulares dos pacientes eram interrompidos por outro ciclo lunar, aquele responsável pela “superlua”, que acontece quando a órbita elíptica da Lua chega mais perto da Terra.Anne Wirz-Justice, cronobiólogo do Hospital Psiquiátrico da Universidade de Basel, na Suíça, descreve as associações entre humor e ciclos lunares de Wehr como "críveis", mas "complexas". Segundo o especialista, não se tem ideia de quais são os mecanismos por trás dessa relação.Possíveis explicaçõesO sono é um aspecto bastante importante para pessoas bipolares, cujos episódios de alteração do humor são frequentemente impulsionados pela interrupção do sono ou dos ritmos circadianos.Considerando essa hipótese, Wehr percebeu que à medida que os dias passam, a hora do despertar fica acontece gradativamente mais tarde. Isso significa que a duração do descanso aumenta progressivamente, até ser abruptamente encurtada. Este ponto de virada é frequentemente relacionado ao início da mania.Para o pesquisador, o sono das pessoas dificilmente seria afetado pela luz da Lua. Isso porque, no mundo moderno, há poluição e luzes artificiais, o que faz com que a luz vinda do satélite seja obscurecida.O psiquiatra suspeita que um outro aspecto da influência lunar esteja perturbando o sono de seus pacientes: a atração gravitacional exercida pela Lua. Uma hipótese é que isso desencadeia flutuações sutis no campo magnético da Terra, às quais algumas pessoas podem ser sensíveis."Os oceanos são condutores elétricos porque são compostos de água salgada, e conforme eles fluem com as marés, há um campo magnético associado aí", explica Robert Wickes, especialista em clima espacial da University College London, na Inglaterra.No entanto, nada está muito claro ainda. Permanece a dúvida se o efeito da Lua no campo magnético da Terra é forte o suficiente para induzir mudanças biológicas.Outra hipótese é que os pacientes de Wehr estejam respondendo à atração gravitacional da Lua da mesma forma que as marés, já que os humanos têm 75% de água em seus corpos.Muitos estudiosos refutam esta possibilidade, pois a quantidade de água que carregamos é mínima perto dos oceanos. Mas, ainda que os motivos permaneçam desconhecidos, pelo menos por enquanto, uma coisa é certa: os pacientes bipolares do pesquisador são rítmicos, e esses ritmos parecem se relacionar com certos ciclos da Lua.