Taxas de juros futuros avançam com ajustes pós-Copom e receios pelo cenário fiscal
Publicada em
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs subiram novamente nesta sexta-feira, com algumas taxas avançando em torno de 40 pontos-base, à medida que o mercado se reposicionava para um aperto monetário mais agressivo do que o esperado por parte do Copom e exibia receios com o cenário fiscal do país.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 estava em 14,86%, ante 14,654% no ajuste anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2027 marcava 15,03%, ante o ajuste anterior de 14,708%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2029 estava em 14,605%, em alta de 40 pontos-base ante os 14,201% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2031 tinha taxa de 14,27%, ante 13,884% na véspera.
Os investidores faziam ajustes nas taxas futuras de curto prazo nesta sessão, após o Copom ter acelerado na quarta-feira o ritmo de aperto da Selic, subindo a taxa de juros em 1 ponto percentual, a 12,25% ao ano, acima das projeções de parte do mercado.
Os membros do BC também sinalizaram duas altas da mesma magnitude no próximo ano. Com isso, as taxas curtas avançaram.
Assim como o mercado de juros, instituições financeiras também já começaram a reavaliar as projeções para a Selic no próximo ano.
O Itaú apontou nesta sexta-feira que passou a ver a taxa básica de juros em 15% em 2025, de 13,5% antes.
No longo prazo, os investidores seguem demonstrando preocupações com a trajetória das contas públicas, com dúvidas sobre o compromisso do governo com o equilíbrio fiscal e a tramitação do pacote de contenção de gastos no Congresso.
No cenário de espera pelo que se vê como decisões políticas sobre a questão fiscal, o mercado parecia sensível a quaisquer notícias, até mesmo as relacionadas a saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
'Hoje foi mais uma continuidade do movimento atual em torno da responsabilidade fiscal do governo. Eu diria que (o cenário) está tão fragilizado que qualquer notícia, como a questão da saúde de Lula, movimenta muito no curto prazo', disse Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos.
A hospitalização de Lula para uma cirurgia a fim de drenar um hematoma no crânio o afasta das articulações para o avanço do pacote fiscal, gerando receio pela aprovação das medidas. A estabilidade de sua saúde, por outro lado, levanta a possibilidade da reeleição em 2026, derrubando a expectativa por um presidente mais alinhado ao mercado e à responsabilidade fiscal.
Lula usou nesta sexta-feira sua conta no Instagram para publicar um vídeo em que aparece caminhando em um corredor do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e disse em um texto na mesma publicação que está 'firme e forte'.
Na frente de dados, Oliveira também chamou a atenção para algum impacto da divulgação do IBC-Br pelo BC mais cedo, que mostrou que a atividade econômica teve crescimento em outubro, iniciando o quarto trimestre com um resultado inesperado ainda que com perda de força.
'Se temos um crescimento que não é saudável, isso também interfere no nosso prêmio de risco', apontou.
No exterior, os mercados aguardam pela reunião do Federal Reserve da próxima semana, em que há expectativa de que a taxa de juros seja reduzida em 25 pontos-base.
O rendimento do Treasury de dois anos -- que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo -- tinha alta de 6 pontos-base, a 4,241%.
(Por Fernando Cardoso)
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO