Tribunal exclui partido de eleição e aumenta temores sobre democracia na Guatemala
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Por Sofia Menchu
CIDADE DA GUATEMALA (Reuters) - Um tribunal guatemalteco ordenou a suspensão do partido político do candidato presidencial Bernardo Arevalo, que tem o combate à corrupção como principal bandeira, informou um promotor na quarta-feira, ameaçando seu lugar no segundo turno da eleição presidencial e provocando alertas dos Estados Unidos sobre um desafio à democracia do país centro-americano.
Arevalo disse em uma entrevista à CNN que contestará a suspensão e que ela não o excluiria da corrida para se tornar presidente no segundo turno, que será realizado em 20 de agosto.
'É evidente que ela não tem substância legal', disse ele sobre a ordem judicial, acrescentando que a lei guatemalteca estabelece que um partido político não pode ser suspenso no meio de uma eleição.
'De forma alguma obedeceremos a uma decisão espúria e ilegal como a emitida por esse tribunal.'
O processo eleitoral no país centro-americano já havia sido fortemente criticado por organizações internacionais e nacionais devido ao atraso nos resultados oficiais e à exclusão antecipada de outros candidatos presidenciais populares.
Samuel Perez, que está concorrendo a uma cadeira no Congresso pelo partido de Arevalo, o Semilla, disse que a legenda apresentou uma moção ao tribunal superior do país para bloquear a suspensão, que foi ordenada por um tribunal criminal separado.
'Esse é um procedimento preventivo para garantir que o tribunal eleitoral não seja forçado a cumprir ordens ilegais', disse ele, chamando a moção de um apelo para defender o voto do povo guatemalteco.
O promotor Rafael Curruchiche, uma figura proeminente que já teve como alvo os ativistas anticorrupção, disse anteriormente em um vídeo publicado no Twitter que as investigações mostraram irregularidades no registro de mais de 5.000 membros do partido de centro-esquerda.
Também na quarta-feira, o tribunal eleitoral finalmente confirmou os resultados do primeiro turno da eleição de 25 de junho, que colocou Arevalo no segundo turno contra a ex-primeira-dama Sandra Torres.
A formalização dos resultados iniciais havia sido adiada depois que o partido governista e seus aliados alegaram irregularidades, desencadeando uma revisão das cédulas.
O tribunal eleitoral disse que não havia sido notificado da suspensão do partido e indicou que não aceitaria a decisão.
'É algo que nos preocupa como tribunal, porque sabemos que as eleições são vencidas nas urnas', disse Irma Palencia, chefe do tribunal eleitoral, quando perguntada sobre a suspensão.
Uma autoridade graduada dos EUA alertou sobre uma ameaça à democracia.
'Estamos profundamente preocupados com as ameaças à democracia eleitoral da Guatemala. As instituições devem respeitar a vontade dos eleitores', disse Brian A. Nichols, secretário de Estado adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, em uma publicação no Twitter.
Donald J. Planty, ex-embaixador dos EUA na Guatemala, disse que tal suspensão nunca havia acontecido antes e representaria um 'novo e espantoso golpe'.
'Isso poderia realmente representar o início do fim da democracia na Guatemala', disse Planty.
O Cacif, a influente entidade empresarial da Guatemala, também expressou preocupação com a suspensão.
'É imperativo respeitar a decisão da autoridade eleitoral máxima e a vontade dos guatemaltecos expressa nas urnas', disse em um comunicado.
Arevalo é um ex-diplomata e filho de Juan Jose Arevalo, que foi amplamente considerado o primeiro presidente livremente eleito da Guatemala quando assumiu o cargo na década de 1940.
As pesquisas mostraram Arevalo como um outsider distante antes do primeiro turno, mas seu surpreendente segundo lugar levou muitos analistas a acreditar que ele poderia ganhar a presidência.
(Reportagem adicional de Valentine Hilaire, David Alire, Adriana Barrera, Cassandra Garrison e Natalia Siniawski)
Escrito por Reuters
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