Trump apresenta plano de paz que favorece Israel e enfurece palestinos
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Por Steve Holland e Dan Williams
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, propôs nesta terça-feira a criação de um Estado Palestino como parte de uma solução de paz para o Oriente Médio, atraindo críticas dos palestinos pela imposição de condições rígidas e por dar a Israel o direito de manter o controle sobre os contestados assentamentos na Cisjordânia.
Trump anunciou seu plano de paz para Israel e Palestina em um evento na Casa Branca com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a seu lado. O plano inclui o que Trump chamou de um congelamento de quatro anos em atividades ligadas a novos assentamentos por Israel.
Embora o objetivo declarado de Trump tenha sido o de encerrar décadas de conflito, o plano promovido favorece Israel. O fato foi ressaltado pela ausência dos palestinos no anúncio do presidente norte-americano e parece improvável que as negociações entre israelenses e palestinos, paralisadas desde 2014, sejam retomadas.
Trump estabeleceu um cronograma de quatro anos para que os palestinos acertem um acordo de segurança com Israel, suspendam o ataques do grupo militante islâmico Hamas e preparou instituições governamentais para estabelecer um Estado palestino com a capital em Abu Dis, localizada ao leste de Jerusalém.
Isso também representa um problema em potencial para os palestinos.
Abu Dis fica a pouco mais de 1,5 quilômetro da murada Cidade Velha de Jerusalém, onde ficam locais sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos. Os palestinos que vivem em Abu Dis estão separados dessa área por um alto muro de concreto, erguido pelos israelenses, e por vários postos de controle.
É improvável que o local satisfaça os líderes palestinos que querem uma localização mais central. O plano de Trump diz que esse muro deveria servir como fronteira entre as capitais dos dois Estados, acrescentando que Jerusalém deveria continuar sendo a capital soberana e indivisível de Israel.
'A minha visão apresenta uma oportunidade de ganho para os dois lados, uma solução realista para dois Estados que resolve o risco do Estado Palestino para a segurança de Israel', disse Trump.
'TAPA NA CARA'
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, que falou a jornalistas na cidade de Ramallah, na Cisjordânia, atacou duramente o plano que Trump chamou de 'o acordo do século'. Para o líder palestino, o plano é 'o tapa na cara do século'.
'Jerusalém não está à venda, nossos direitos não estão à venda e não serão barganhados e seu acordo, essa conspiração, não passará', disse Abbas.
Já Netanyahu disse que o plano de Trump oferece aos palestinos um caminho para um futuro Estado, mas afirmou que isso pode requerer deles 'um tempo bastante longo para chegarem ao início desse caminho'.
'Se eles concordarem em acatar a todas as condições estabelecidas no plano, Israel estará lá. Israel estará poderá negociar a paz no mesmo momento', disse o premiê israelense.
Trump disse ter enviado uma carta a Abbas pedindo que ele estudasse o acordo.
Sob a proposta de Trump para a paz no Oriente Médio, os Estados Unidos irão reconhecer os assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada.
O documento da Casa Branca diz que Israel concorda com um congelamento por quatro anos em novos assentamentos para assegurar a possibilidade da solução de dois Estados. Mas uma autoridade de alto escalão de Israel posteriormente minimizou a noção de que haveria um congelamento dos assentamentos na região.
OUTRAS REAÇÕES
O grupo militante islâmico Hamas, que controla Gaza, afirmou que enfrentará as propostas 'agressivas' de Trump.
'A declaração de Trump é agressiva e provocará muita ira', disse à Reuters Sami Abu Zuhri, do Hamas.
'A declaração de Trump sobre Jerusalém é um absurdo e Jerusalém sempre será uma terra para os palestinos... Os palestinos enfrentarão esse acordo e Jerusalém continuará sendo uma terra palestina', acrescentou.
No Líbano, o Hezbollah, apoiado pelo Irã, atacou o plano como uma forma de destruir os direitos dos palestinos, e acusou países árabes de serem cúmplices de um 'acordo da vergonha'.
Os Emirados Árabes Unidos consideraram o plano 'um importante ponto de partida para o retorno às negociações' entre palestinos e israelenses. O Egito também divulgou uma declaração encorajadora.
(Reportagem adicional de Ali Sawafta em Ramallah, Ari Rabinovitch em Jerusalém)
Escrito por Reuters
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