Soldados venezuelanos abrem fogo perto da fronteira com Brasil e deixam ao menos 2 mortos
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Por Carlos Suniaga e Nelson Bocanegra
KUMARAKAPAY, Venezuela/CÚCUTA, Colômbia (Reuters) - Soldados da Venezuela abriram fogo contra membros de uma comunidade indígena perto da fronteira com o Brasil nesta sexta-feira, deixando ao menos dois mortos e diversos feridos, à medida que o presidente Nicolás Maduro desafia esforços da oposição para levar auxílio humanitário ao país economicamente devastado.
Os Estados Unidos, que estão entre dezenas de países do Ocidente que reconheceram o líder da oposição Juan Guaidó como presidente legítimo da Venezuela, vêm armazenando carregamentos de auxílio humanitário na cidade de fronteira colombiana de Cúcuta para levar ao território venezuelano neste final de semana.
Com tensões elevadas depois que o líder da oposição Juan Guaidó invocou a Constituição para se declarar presidente interino, Maduro tem negado a existência de uma crise humanitária, apesar da ampla escassez de alimentos e medicamentos e da hiperinflação.
Maduro, que chegou ao poder em 2013 e foi reeleito no ano passado em uma votação amplamente considerada como uma fraude, diz que os esforços da oposição para levar auxílio ao país são um 'show barato' orquestrado pelos Estados Unidos para minar o seu governo.
Maduro mandou fechar a fronteira sul da Venezuela com o Brasil e ameaçou fazer o mesmo com a fronteira colombiana antes do prazo de sábado determinado pela oposição para levar a assistência ao país.
Um show de arrecadação de fundos para a Venezuela, apoiado pelo bilionário britânico Richard Branson e com a participação de grandes estrelas latinas como Luis Fonsi, de “Despacito”, levou dezenas de milhares a Cúcuta nesta sexta-feira.
Alguns analistas políticos dizem que o impasse de sábado é menos sobre atender às necessidades da Venezuela e mais sobre testar a lealdade dos militares a Maduro, ao recusar ajuda.
Com a inflação chegando a mais de 2 milhões por cento por ano e com controles monetários restringindo a importação de bens básicos, muitos venezuelanos não têm acesso a remédios e uma crescente parcela dos quase 30 milhões de habitantes do país sofre de desnutrição.
A violência desta sexta-feira começou no vilarejo de Kumarakapay, no sul da Venezuela, depois que uma comunidade indígena bloqueou um comboio militar destinado à fronteira com o Brasil, que eles acreditavam estar tentando impedir a entrada do auxílio, de acordo com dois líderes do grupo.
Em seguida, soldados entraram no vilarejo e abriram fogo, disseram os líderes. “Eu os enfrentei para apoiar o auxílio humanitário”, disse à Reuters o líder da comunidade Richard Fernández. “E eles vieram nos atacando. Eles atiraram contra pessoas inocentes que estavam em suas casas, trabalhando.”
O Ministério de Informação da Venezuela não respondeu de imediato a pedido por comentário.
Os Estados Unidos condenaram os assassinatos que aconteceram na Venezuela.
“Nós estamos com as famílias das vítimas exigindo justiça”, disse autoridade do Departamento de Estado.
Enquanto isso a China, que apoia Maduro junto com a Rússia, advertiu que a entrada do auxílio humanitário não deve ser forçada, porque isso pode levar a casos de violência.
O derramamento de sangue na comunidade indígena se contrastou com o ambiente festivo do show “Venezuela Aid Live”, de Branson, em Cúcuta.
Espectadores venezuelanos e colombianos, alguns chorando, levantavam bandeiras entoando “liberdade”, sob um sol escaldante enquanto mais pessoas chegavam para assistir ao show.
Artistas como José Luis 'El Puma' Rodríguez, que é venezuelano, pediram que o governo socialista renuncie, enquanto fãs cantavam suas músicas.
“É demais pedir liberdade após 20 anos de ignomínia, de uma ditadura marxista populista?”, disse o cantor. “Aos venezuelanos que estão aqui, não desistam, o sangue derramado não foi em vão.”
Guaidó tem afirmado que a oposição levará auxílio humanitário de países vizinhos à Venezuela no sábado e pediu que as forças de segurança desobedeçam Maduro e permitam a entrada dos carregamentos.
(Reportagem adicional de William Urdaneta, em Kumarakapay, Venezuela; Steven Grattan em Cúcuta, Colômbia; Julia Symmes Cobb e Helen Murphy em Bogotá; Brian Ellsworth, Vivian Sequera, Corina Pons e Sarah Marsh em Caracas; Lesley Wroughton em Washington e Anthony Boadle em Brasília)
Escrito por Thomson Reuters
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