Venezuela é regime com viés autoritário, mas não ditadura, diz Lula
Publicada em
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira que a Venezuela vive em um regime 'desagradável', com 'viés autoritário', mas não classificou o governo de Nicolás Maduro como uma ditadura.
'Eu acho que a Venezuela vive um regime muito desagradável. Não acho que é ditadura, é diferente de ditadura. É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como conhecemos em tantos países nesse mundo', afirmou o presidente em entrevista à rádio Gaúcha de Porto Alegre.
Lula voltou a dizer que só poderá reconhecer o resultado das eleições presidenciais venezuelanas se forem apresentadas as atas das mesas de votação, o que o governo venezuelano até agora tem se recusado a fazer.
'Agora teve uma eleição. A situação fala 'eu ganhei as eleições. A oposição fala 'eu ganhei as eleições'. O que eu estou pedindo para poder reconhecer: eu quero pelo menos saber se são verdade os números. Cadê a ata? Cadê a aferição das urnas?', disse. 'Eu só posso reconhecer se provarem que foi democrática, se mostrarem a prova de que foi limpa.'
O presidente revelou, ainda, que o governo venezuelano chegou a pedir que o assessor especial da Presidência Celso Amorim, que trata as negociações com o país, não fosse enviado a Caracas durante a eleição.
'Eu disse a eles que se Celso Amorim não pudesse ir eu comunicaria à imprensa que eles estavam impedindo. Aí eles deixaram', contou, comentando que se Maduro impedir a entrada de observadores internacionais, como vem ameaçando fazer, será 'ruim para ele'.
Na quinta-feira, depois de Lula ter falado que 'ainda' não reconhecia a declarada vitória de Nicolás Maduro e ter falado na possibilidade de novas eleições, o presidente venezuelano criticou o Brasil e o sistema eleitoral do país mais uma vez. Perguntado, Lula disse que não vai impedir que Maduro fale, mas lembrou que no Brasil é possível, pela internet, ver o resultado de cada urna usada em cada eleição no país.
A Venezuela passou por eleições presidenciais no dia 28 de julho. Apesar de vários indícios de que a oposição teria vencido por uma larga margem, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), ligado ao chavismo, anunciou uma vitória de Maduro por 51% dos votos.
Desde então a comunidade internacional tem pedido a liberação das atas das mesas de votação, o que o CNE vem se recusando a fazer. A oposição diz ter conseguido cópias das atas de cerca de 80% das seções de votação, e que essas indicariam uma vitória do candidato oposicionista Edmundo González com cerca de 70% dos votos.
Brasil, Colômbia e, inicialmente o México -- que se retirou esta semana -- estão liderando iniciativas de negociação entre as partes, mas sem avanços até o momento. Ambos, assim como a maior parte da comunidade internacional, vem cobrando a apresentação das atas de votação como ponto inicial de qualquer acordo.
De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, a proposta de novas eleições, ou de um governo de coalizão, citadas por Lula e pelo presidente da Colômbia, Gustavo Petro, são ensaios de propostas e não existe nada concreto ainda. A intenção do governo brasileiro é que Maduro dê sinais de que está disposto a negociar.
O telefonema com Lula pedido pelo presidente venezuelano, que ainda não foi marcado, depende desses sinais, disseram as fontes.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu, em Brasília)
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO