Votorantim tem queda no lucro em 2022 por efeito contábil e pressão de custos
Publicada em
Atualizada em
Por Andre Romani
SÃO PAULO (Reuters) - A holding Votorantim teve queda no lucro líquido em 2022 de 23,3% frente ao ano anterior, impactada em especial por efeitos contábeis não recorrentes e pressão de custos.
A Votorantim, um grupo industrial com negócios em setores como mineração, cimentos, bancos e energia, teve lucro de 5,46 bilhões de reais no ano passado, em comparação a 7,12 bilhões de reais em 2021.
'Tivemos alguns efeitos no lucro líquido em 2021 que não se repetem em 2022. Um deles, por exemplo, é a criação da Auren (empresa de energia). Quando a gente cria a Auren e aporta ativos, o resultado disso teve um lucro contábil para gente', disse à Reuters o diretor financeiro da Votorantim, Sergio Malacrida.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado, sem contar a Votorantim Finanças, que detém, por exemplo, fatia no banco BV, ficou em 10,46 bilhões de reais, contra 11,46 bilhões no ano anterior.
A Votorantim teve alta de 8% na receita líquida do ano, para 52,9 bilhões de reais, mas viu também uma pressão de custos em seus negócios, diante de problemas na cadeia de fornecimento global, segundo Malacrida.
'Observamos uma elevação de custos, e no caso de commodities, como o preço é dado de maneira exógena, que é o preço cotado em bolsa, os preços não subiram na mesma proporção', afirmou.
Para 2023, Malacrida disse a inflação de custos, em especial para os negócios de commodities metálicas, estabilizou, mas ainda em um nível alto. 'A grande pergunta é se isso segue ou não', afirmou.
A companhia espera que o nível de investimentos nas empresas de seu portfólio permaneça neste ano próximo de 5,5 bilhões de reais, valor que não considera os chamados movimentos inorgânicos, como potenciais fusões e aquisições.
Entre as transações anunciadas por empresas do portfólio da Votorantim em 2022 estiveram a parceria entre BV e Bradesco para a criação de uma gestora de investimentos e o follow-on da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), controlada da holding. Além disso, no início deste ano, a Votorantim criou com a canadense CPP Investments uma empresa para investir em transição energética.
'Continuamos em prontidão para outras oportunidades, mas a parte inorgânica, por definição, é muito difícil de planejar. O que temos agora são várias plataformas prontas para investir', disse João Schmidt, presidente da Votorantim.
O executivo destacou, porém, a dificuldade do cenário macroeconômico atual. 'Estamos em um ambiente de custo de capital alto, uma inflação ainda persistente e uma taxa de crescimento, como consequência disso, baixa. Então, em um cenário como esse, temos que ser muito prudentes nessa escolha', acrescentou.
No último trimestre de 2022, a Votorantim teve lucro líquido de 894 milhões de reais, queda de 66,3% ano a ano. Malacrida afirmou que o negócio de cimentos teve um desempenho mais forte, apesar de um período de chuva 'bastante rigoroso' no Brasil, enquanto nas atividade de commodities metálicas os preços baixaram, mas os custos não cederam na mesma proporção, o que impactou negativamente.
O executivo ainda destacou 'bom' resultado em energia, e também na Citrosuco, empresa de suco de laranja, setor no qual a escassez de oferta levou à alta de preços no período.
POTENCIAIS IPOS
Questionado se há a perspectiva de abertura de capital de mais alguma empresa do portfólio, Schmidt observou que o mercado de ofertas iniciais de ações (IPOs) está restrito em todo o globo, diante de custos de capital mais altos e incertezas econômicas e geopolíticas.
'Agora, é focar no negócio, é estratégia, execução, e se tiver uma oportunidade no futuro e o negócio tiver uma demanda de capital, é natural pensar o IPO como mais uma alternativa', afirmou.
O BV, uma parceria da Votorantim com o Banco do Brasil, chegou a avançar com um IPO nos últimos anos, mas suspendeu a oferta, enquanto Votorantim Cimentos também tentou há alguns abrir capital.
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO