A crítica de Lenny Kravitz à frivolidade dos guitarristas de Instagram
O artista criticou os instrumentistas que remetem aos “shredders” nas mídias sociais
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Não faltam músicos talentosos nas redes sociais. Com a democratização da visibilidade dos instrumentistas, são muitos os que postam os seus trabalhos on-line, seja qual for o grau de profissionalidade do indivíduo. E, nessa tendência, há uma grande quantidade de pessoas que tocam extremamente rápido e com uma engenhosidade impressionante.
Lenny Kravitz, conhecido pela sua habilidade fenomenal na guitarra, deu sua opinião sobre esse movimento – não muito positiva. O cantor, multi-instrumentista, produtor, arranjador e ator estadunidense exprimiu sua visão honesta sobre o assunto ao dizer que considera outras aptidões mais importantes, em entrevista ao The Guitarist.
Quando perguntado se acredita que há muito foco em virtuosismo e, portanto, pouco em musicalidade na cena atual da guitarra, o cantor respondeu: “Eu acho que tudo isso está aí. Mas você vê as tendências no Instagram com músicos onde tudo é sobre velocidade, sabe? Tem muito disso, certo? E, você sabe, James Brown costumava dizer, 'Falando alto, mas não dizendo nada', então você pode tocar um milhão de notas e não ter absolutamente nenhum senso de sensação, ritmo ou intensidade.”
Kravitz acredita que velocidade não é um parâmetro bom o suficiente para diferenciar um artista. Afinal, ela não está diretamente atrelada a outros fatores que, para ele, são essenciais. Para além de algo a ser desenvolvido pelo artista, é algo quase inato – uma verdadeira conexão com a arte musical. BB King, um dos maiores guitarristas da história, era conhecido por ser um mestre da simplicidade e da precisão, em contraste com uma geração de guitarristas que, especialmente nas últimas duas décadas, passaram a valorizar solos complexos com inúmeras variações. BB King precisava apenas de duas notas para ser reconhecido, principalmente porque ele não dominava a técnica de acordes.
Citando o mestre, Lenny disse que os instrumentistas deveriam utilizá-lo mais como referência. “BB King poderia pegar uma corda, uma nota, um dedo e derrubar uma montanha, certo? Então eu acho que os músicos deveriam pensar mais sobre sensação, dinâmica e emoção, se você está pensando em alguma coisa.”
E a tendência não é de hoje. Kravitz conta que, nos anos 80, a sua adolescência foi marcada por uma valorização daqueles que tocavam de maneira mais veloz. O músico, no entanto, nunca compartilhou dessa visão. Mais importante do que apressar o movimento dos dedos e expor-se tecnicamente, ele priorizava a compreensão particular e singela de cada canção.
"Eu me lembro de crescer no ensino médio, e aquele que conseguia destruir mais rápido era o mais impressionante, mas eles não estavam preocupados com a parte do ritmo em si. Então, poderia ser um acorde, uma jam funk ou se você está tocando como Bob Marley e os Wailers, e seu trabalho é esse”, constatou.
Minimalismo complicado
Ainda na perspectiva de Kravitz, o considerado “simples” exige uma sensibilidade e delicadeza que vão muito além de fazer solos acelerados e rebuscados. A questão de aplicar emoção e alma nas cordas é tão difícil quanto.
“Pode ser como se você estivesse tocando James Brown, e seu trabalho é entrar e fazer o que a música exige e nada além. Essa é a sua atribuição. Esses caras que conseguem tocar um milhão de notas, 99% do tempo não conseguiriam fazer aquelas coisas consideradas 'simples' porque essas coisas não são simples. Ter um bom feeling e groovar é um dom em si mesmo.”
Dom inato ou desenvolvido?
E quanto ao Lenny Kravitz? O artista possui esse talento? O próprio foi honesto ao dizer que sim, e que é necessário aprender a tocar dessa maneira. Ademais, ele recordou que já realizou audições para sua banda — e encontrou músicos que não conseguiam tocar dessa forma.
"Sim, se é algo com que nasci, então eu o cultivei ao longo do tempo. O que é importante para mim é que, você sabe, você encontra muitas pessoas que pensariam: 'Oh, isso é muito simples.' Muitos músicos vieram para fazer testes e tocar na banda, e você dá a eles a parte mais simples, e eles pensam: 'Oh Deus, isso não é nada', mas eles não conseguem tocar.”
Para Lenny, tudo converge para a mesma raiz: a paixão pela música, um aspecto que ele afirma ter em abundância. "Então é sempre muito difícil; nem sempre é tão simples. É sobre a vibração e como você fala. E eu amo o que faço. Sou muito apaixonado pelo que faço no estúdio. É meu lugar favorito para estar. Adoro criar no estúdio e juntar essas paisagens musicais. É mágico para mim."
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