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Alas do PT voltam a pressionar Haddad e cobram fórmula 'flexível' do arcabouço fiscal

Placeholder - loading - Aloizio Mercadante, presidente do BNDES 6/02/2023 REUTERS/Ricardo Moraes
Aloizio Mercadante, presidente do BNDES 6/02/2023 REUTERS/Ricardo Moraes

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Por Ricardo Brito e Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - No momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, começa a apresentar as linhas de sua proposta para o novo arcabouço fiscal a autoridades e lideranças do Congresso, nomes do PT voltaram a pressionar o titular da pasta, publicamente e nos bastidores, cobrando um texto flexível, que preveja até dose de expansionismo fiscal para estimular o crescimento econômico.

Haddad já se reuniu nesta segunda-feira com os líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e do Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) em busca de apoios políticos ao texto, por recomendação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O ministro trabalha para que Lula aprove uma versão do arcabouço fiscal até o sábado, antes de o chefe de Executivo, Haddad e outros aliados viajarem à China.

Entretanto, mesmo sem o texto sequer ter sido divulgado, Haddad tem sido alvo de fogo amigo dentro do próprio partido, como já aconteceu na questão da reoneração dos combustíveis.

A cobrança, segundo um influente parlamentar petista, é para tentar impedir que Haddad encampe uma proposta muito ortodoxa e que dificulte ainda mais a retomada do crescimento econômico, crucial para o sucesso do terceiro mandato do presidente Lula. Na sexta, o governo reduziu a expectativa oficial de crescimento para 2023 de 2,1% para 1,6%.

Esse parlamentar disse reservadamente que qualquer que seja a configuração do arcabouço pelo governo haverá queixa do mercado por 'má vontade' e que uma eventual proposta que contemple zerar o déficit primário no próximo ano poderia inviabilizar a atual gestão e deixá-la, ainda mais, na dependência do chamado centrão, grupo comandado por Arthur Lira na Câmara.

Uma preocupação, segundo essa fonte, é com o relator que o presidente da Câmara vai escolher para conduzir a proposta. Dois nomes vistos com receio pelos petistas, contou, são os deputados Mendonça Filho (União-PE) e Pedro Paulo (PSD-RJ).

O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), disse que iria sugerir a Lira nomes para a relatoria da proposta, sem revelar quais. O petista negou que haja divisão entre a bancada do PT e o ministro Haddad e afirmou que há, sim, uma 'sintonia fina' com o titular da Fazenda.

'Temos uma confiança muito grande nele e na sua equipe', disse, ao ressaltar que há quem confunda a opinião de uma pessoa do partido com a posição da legenda ou da bancada. 'São coisas bem diferentes'.

No final de semana, a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, vocalizou no Twitter parte das preocupações discutidas nos bastidores por parlamentares petistas.

'Se é verdade que a economia crescerá menos este ano segundo indicadores divulgados pelo governo, precisamos então aumentar os investimentos públicos e não represar nenhuma aplicação no social. Em momentos assim, a política fiscal tem de ser contracíclica, expansionista', defendeu.

Questionada por jornalistas nesta segunda se a cúpula do PT estaria minando ou apresentando resistência ao novo arcabouço, a presidente do partido garantiu que 'não tem nada disso'. 'Por que nós faríamos isso?... Não podemos opinar sobre o que não conhecemos'.

No mesmo seminário no Rio de Janeiro sobre contas públicas, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, também comentou o tema. Disse que Haddad pode esperar 'total lealdade e parceria, ao contrário das especulações que são publicadas', mas defendeu o debate em torno do arcabouço.

“Agora, não nos peçam para deixar de dizer o que pensamos e ajudar o governo a acertar”, ressalvou o economista, fundador do PT e tido como mais heterodoxo na economia dentro da sigla, na comparação com Haddad.

'Não tem expectativa de substituir ninguém nem muitos menos de competir', afirmou.

Embora tenha ressaltado que há uma boa relação do PT com Haddad, o líder Zeca Dirceu disse que somente o ministro poderia dizer se as falas de Gleisi ou de Mercadante atrapalhariam ou pressionariam. Para ele, no ambiente da bancada, não atrapalha em nada. 'A bancada segue unida apoiando Haddad e Lula, que na verdade jogam juntos e afinados', destacou.

PRESSÃO ESPERADA

Nesta manhã, Haddad minimizou a pressão que tem sido alvo e rechaçou a divisão entre 'ala política e econômica'.

'Não faz sentido esse tipo de divisão, toda decisão é técnica e política, ainda mais uma decisão dessa importância, por isso é o presidente da República que dá a última palavra (sobre o arcabouço)', disse.

Nos bastidores da Fazenda, a pressão de parte do PT tem sido tratada de forma natural, seria o papel do partido. Uma fonte lembrou que, no primeiro governo Lula, o PT pedia a demissão de ministros e que ao final tudo funcionou bem.

No mês passado, o titular da pasta obteve uma importante vitória ao conseguir garantir a retomada da cobrança de impostos federais sobre combustíveis em meio a uma disputa de visões entre a equipe econômica e alas do governo e do PT, que viam a medida como impopular e inflacionária.

Experiente parlamentar petista, o senador Humberto Costa (PE) disse que confia muito no trabalho de Haddad e defendeu que o arcabouço leve em conta um grau de flexibilidade em casos de retração econômica e que se permita usar o dinheiro em caixa quando houver crescimento. Cobrou paciência dos correligionários.

'É uma pressa desnecessária, tem que conhecer (a proposta), ouvir o ministro e se a posição for essa, vamos apoiar que é a posição final do governo', disse. 'Não se pode ter posição pré-definida; não conhece e já está atacando', criticou.

(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)

Escrito por Reuters

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