Como a greve de Hollywood afeta a indústria da música
Entenda a origem de protestos na esfera do entretenimento
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Desde maio deste ano, milhares de roteiristas estadunidenses se juntaram para protestar contra as condições de trabalho na era do multimídia. Remuneração, regulamentação do streaming e a limitação do uso da inteligência artificial são algumas questões levantadas pelos profissionais, que exigem uma revisão dos seus contratos.
O estopim da greve aconteceu após seis semanas de discussões com a Alliance of Motion Picture and Television Producers, associação comercial que representa empresas de produção.
No mundo do entretenimento, roteirista e atores são pagos um valor fixo quando suas produções entram para serviços streaming. Mesmo que os programas sejam assistidos milhares de vezes, a equipe produtora não recebe um pagamento proporcional à exposição. O mesmo vale para lucros vindos de publicidade ou produtos derivados das séries e filmes – as mentes por trás da criação e as pessoas em frente às câmeras ficam de fora.
Os escritores buscam, também, dar um fim às “mini-salas de roteiristas”. Muitas vezes, um grupo de autores trabalha em um projeto e é demitido antes mesmo da produção começar. O sindicato dos escritores defende que os profissionais precisam de dez semanas de trabalho garantidas e um bônus de 25%.
Falando em bônus, o salário é outra questão. O grupo reivindica por um pagamento ajustado à inflação, já que os valores tiveram uma queda de 23% em função do atual modelo de produção. As séries estão mais curtas: costumavam ter 24 episódios, e hoje em dia chegam somente até 12. Além disso, o formato de streaming facilita o cancelamento das séries. Como muitas produções trabalham com contratos de exclusividade, prendem um roteirista a uma produção com menos ganhos e sem garantia de continuação.
Vale mencionar a Inteligência Artificial, que representa uma ameaça no ramo de revisão, tradução e até mesmo produção. Para a Associação de Escritores da América, é necessário regulamentar o uso da ferramenta.
Em um comunicado à imprensa, o comitê de negociação representante dos roteiristas escreveu, em tradução livre: “O comportamento das companhias criou uma economia de freelances dentro de uma força de trabalho sindicalizada, e sua postura imutável nessa negociação traiu seu comprometimento, desvalorizando ainda mais a profissão dos escritores”.
No mês de julho, o sindicato dos atores aderiu ao movimento. Suas exigências são similares às dos escritores, demandando um pagamento mais justo e ganhos regulamentados de 2% do valor que cada série produz no streaming. Ademais, enfatizam a criação de um regulamento para o uso de IA para escanear imagens dos intérpretes. A tecnologia pode ser usada para inserir vídeos de um ator em uma produção da qual ele não participou, por exemplo.
Com mais de cem dias de greve da parte dos roteiristas e quase dois meses para os atores, os protestos não tem perspectiva de acabar. De acordo com a NBC News, as negociações com as produtoras estão paradas. A atual presidente do sindicato dos atores, Fran Drescher, fez uma entrevista durante o programa Today Show em agosto, e afirmou que o conjunto estava financeiramente preparado para reivindicar por mais seis meses.
Hollywood e a indústria da música
Existem várias intersecções entre a terceira e a sétima arte. Muitos atores também são cantores, e encontram certa dificuldade para promover seu trabalho no momento atual. Esse é o caso de Troye Sivan, que, em uma entrevista à Billboard, só respondeu perguntas sobre seus lançamentos musicais, e evitou falar sobre a sua participação na série ‘The Idol’ e no filme ‘Três Meses’. “Estou em apoio total à grave e estou firme e forte com todos que estão aguardando, garantindo que todos sejam tratados de forma justa”, explicou.
Ao mesmo tempo, o conflito gerou incertezas sobre a realização de eventos no mundo da música, como o Billboard Music Awards. Entretanto, o MTV Video Music Awards aconteceu normalmente na última terça-feira (12). A dúvida se estende para premiações como o Oscar, marcado para março de 2024, e o Grammy, que ocorrerá em fevereiro do ano que vem.
Para o chefe de negociação do sindicato dos atores, Duncan Crabtree-Ireland, é quase impossível conciliar os interesses dos artistas que fazem parte da associação com as agendas da indústria da música. “Eles não devem facilitar qualquer tipo de promoção de trabalho assinado neste modelo de contrato, o que inclui ir a cerimônias e aceitar um prêmio”. Isso também vale para tapetes vermelhos e entrevistas.
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Escrito por Hadass Leventhal
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