Help! A canção foi um pedido de ajuda de John Lennon

Em 1965, a postura dos Beatles estava mudando. As músicas pop otimistas, que abordavam assuntos triviais (de forma nada simplória) deram lugar a um novo contexto, com mais questionamentos sobre o apetite do mercado e dos fãs. Para se trazer um contexto, um dos fatores que mais contribuiu para essa mudança foi o encontro que os Fab Four tiveram com Bob Dylan, em 1964.

John Lennon escreveu uma declaração no livro “Rock And Roll, uma história social”, de Paul Friedlander, contando que Bob Dylan chamou a atenção dos Beatles no que diz respeito à letra de suas canções. Nas palavras de Lennon, “Eu não estava muito ligado nas letras daquela época. Não pensava que elas fossem importantes. Dylan costumava dizer ‘Preste atenção nas letras, cara.’ E eu dizia: ‘Eu não presto atenção nas palavras’.” O ano de 1964 introduziu uma variedade de novas influências em sua vida: a maconha, o LSD e a própria música de Bob Dylan, cujas letras eram muito mais intelectuais do que qualquer coisa que Lennon ou McCartney tivessem criado. 'Help' foi claramente um ponto de inflexão porque, ao final de 1965, tudo havia se transformado. Lennon passou a adotar uma abordagem mais introspectiva para escrever suas músicas, o que definiu o som de Rubber Soul de 1965 e Revolver de 1966.

Olhando retrospectivamente, ficou claro para John que algo estava errado, uma noção compartilhada por seu amigo e parceiro de composição, Paul McCartney. Ao falar ao The Sunday Times em 2020, ele observou que a saúde mental nunca esteve no topo da agenda: “Havia muitas coisas que tínhamos que resolver [e] você não falou sobre saúde mental”, disse ele. “Era realmente algo que, como quatro caras, era mais provável que vocês zombassem do que levassem a sério. E zombar disso era para se esconder disso.”

“Sabe, John [escreveu] 'Socorro! Eu preciso de alguém'. E eu pensei: 'Bem, é apenas uma música', mas acabou sendo um pedido de ajuda”, disse ele. A música passou a não apenas ser classificada entre as melhores dos Beatles, mas também entre as performances mais emocionantes de Lennon. Em cada nota, não importa se foi criada por Lennon ou não, a faixa agora apresenta uma nova compreensão.

Help é um reflexo da tomada de consciência da banda como um todo, em um momento em que a Beatlemania estava passando dos limites. Em entrevista para a revista Playboy, em 1980, Lennon contou que “Quando Help! surgiu, em 65, eu estava realmente pedindo socorro. Muita gente pensa que é só rock-pauleira. Eu não cheguei a perceber, na época; escrevi a música porque tinha assumido o compromisso com o filme. Mais tarde é que senti que estava, de fato, pedindo ajuda.”

Depois, o músico complementou dizendo que estava com uma saúde mental deteriorada, bem acima do peso e precisando de ajuda, mas sem se dar conta de fato do que estava acontecendo. “Apenas um crítico enxergou: “John está gritando por ajuda.” Eu não percebi que estava… Eu estava chorando por ajuda, era o período “Elvis gordo”, você vê o filme, ele (eu) está acima do peso, inseguro, totalmente perdido!”

Se até então John Lennon tinha um bloqueio para versar sobre sentimentos dentro dos Beatles, a partir de Help essa casca começa a se quebrar. Em 1970, ele declarou para a Rolling Stones: “Help” e “Strawberry Fields” são as que eu considero as minhas melhores músicas, aquelas que eu realmente fiz de uma experiência pessoal e não me projetando em uma situação e escrevendo uma história sobre isso.”

Apesar de ser um enorme sucesso pop, Help representa muito mais do que bons números para os Beatles. Como todas as grandes canções, fica evidente que eram as expressões de um artista buscando se manifestar.

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