Itamaraty suspende férias de embaixadores para tentar reação à crise ambiental
Publicada em
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Itamaraty decidiu suspender as férias de todo os embaixadores do Brasil na Europa e nos demais países do G7 pelos próximos 15 dias, em um esforço para coordenar uma resposta ao que está sendo chamado no governo de 'crise ambiental', disseram à Reuters duas fontes com conhecimento do assunto.
A decisão foi tomada pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, depois de uma reunião de emergência convocada pelo presidente Jair Bolsonaro no final da tarde de domingo. A preocupação é o estrago causado na imagem do Brasil pelas queimadas e o desmatamento na região amazônica.
A ameaça por alguns países europeus de não ratificar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia é uma das consequências da crise ambiental.
O aviso foi feito nesta segunda-feira através de uma circular confidencial e pegou os diplomatas de surpresa, mesmo em meio ao bombardeio internacional que o Brasil vem sofrendo pelas queimadas e desmatamento na Amazônia. Alguns embaixadores que estavam em férias --esse é o período de férias escolares no hemisfério Norte-- tiveram que voltar.
A intenção é tentar coordenar uma 'resposta diplomática' à crise. De acordo com uma das fontes ouvidas pela Reuters, a suspensão de férias não é incomum, mas normalmente é reservada à ações humanitárias, especialmente quando há risco de vida e necessidade de proteção a brasileiros.
Na semana passada, o governo iniciou, como mostrou a Reuters, uma ofensiva diplomática para tentar reverter os estragos que as queimadas na Amazônia estavam fazendo à imagem do Brasil. Foi distribuído a todos postos diplomáticos no mundo um documento de 12 páginas com 59 itens e dados para que os diplomatas defendessem o governo das acusações de mau gerenciamento do meio ambiente.
Além disso, também foi repassado um cartaz com 9 pontos sobre as queimadas preparado pelo Ministério do Meio Ambiente com a ordem de que todas as embaixadas e consulados os colocassem em sua página oficial nas redes sociais.
O material afirmava, entre outros pontos, que queimadas 'acontecem todo ano no Brasil' e que este é o período crítico do ano --na verdade, o auge da seca na região Norte ainda não começou. O nono ponto apontava que 'os incêndios que ocorrem agora não estão fora de controle'.
Até agora, a ofensiva nas redes sociais não teve muito sucesso. Diplomatas têm recebido e-mails e comentários nas redes, a sua maioria com reclamações pesadas à atuação do governo, tanto de brasileiros quanto de estrangeiros.
A crise internacional que assolou o governo começou com a divulgação de dados de acompanhamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostrando que o número de focos de queimadas este ano está mais de 80% maior do que no mesmo período do ano passado.
Fotos da floresta queimando e de cidades da região cobertas de fumaça começaram a circular nas redes sociais, o que causou um movimento internacional de reclamações e cobranças contra o governo do presidente Jair Bolsonaro.
(Edição de Alexandre Caverni)
Escrito por Reuters
SALA DE BATE PAPO