O Canto do Cisne do Camaleão do Rock

Em janeiro de 2016, dois dias após o seu 69º aniversário, David Bowie nos deixou para encontrar o “Starman” que o esperava no céu. Antes da sua morte, no entanto, o astro do rock dividiu o seu talento e a sua criatividade com o mundo, pela última vez.

Antes de se despedir, Bowie lançou o seu último disco e, com ele, alcançou pela primeira vez na sua carreira o primeiro lugar do Billboard 200, nos Estados Unidos. Além disso, com o seu Canto do Cisne, ele dominou completamente as paradas britânicas e entregou um projeto completamente diferente de tudo que ele já havia gravado até então.

“Blackstar”, o seu 25º álbum de estúdio e possivelmente uma das maiores obras da sua carreira, misturou elementos do hip-hop com o saxofone para fugir do rock e apresentar ao mundo uma estética jamais vista da sua personalidade.

O Canto do Cisne é uma expressão criada na Grécia Antiga e usada metaforicamente pelo filósofo Sócrates para referir-se a tentativa de um indivíduo apresentar um ato grandioso antes da sua morte iminente:

“Quando sentem a hora da morte se aproximar, essas aves, que durante a vida já cantavam, exibem então o canto mais esplêndido, mais belo; elas estão felizes de ir ao encontro do deus do qual são os servidores. (...) Eu, pessoalmente não acredito que eles cantem de tristeza; acredito, ao contrário, que, sendo as aves de Apolo, os cisnes possuam um dom divinatório e, como pressentem as alegrias que gozariam no Hades, cantam, nesse dia, mais alegremente do que nunca.”

E com Bowie pudemos presenciar exatamente isso: um presente de despedida incorporando uma verdadeira obra-prima! Enfrentando um câncer no fígado longe dos holofotes, o artista dedicou-se a produzir e compilar em segredo 7 canções inéditas, que dispararam para o topo das paradas, conforme os seus fãs sofreram o luto da sua perda.

David Bowie é possivelmente a figura mais excêntrica e encantadora da história da indústria musical. Afinal, o âmago da sua existência única e multifacetada apresentou ao mundo diversos personagens e alter egos capazes de canalizar uma deslumbrante metamorfose artística.

E em “BlackStar” não foi diferente. De acordo com o diretor Johan Renck, para promover o single homônimo do projeto, Bowie rodou um curta-metragem surreal no qual fez o papel de um profeta cego no espaço, encontrando um grupo de espantalhos crucificados.

Ao longo da sua carreira, com maquiagens e figurinos icônicos, Bowie incorporou diversos personagens independentes e genuínos, que o ajudaram a eternizar a sua música e quebrar uma série de paradigmas sociais.

Em "The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars", por exemplo, ele interpretou um rockstar alienígena que aglutinava a personalidade de Iggy Pop com a música de Lou Reed. Já em “The Thin White Duke”, ele assumiu uma postura mais sombria, vestindo trajes aristocráticos e carregando consigo um cigarro indispensável - características que posteriormente foram usadas como inspiração para a aparência de Oppenheimer, no filme vencedor do Globo de Ouro de Christopher Nolan.

De toda forma, sabemos que, em vida, Bowie causou micro revoluções na música, na moda e na cultura popular, eternizando o seu nome entre os maiores artistas de todos os tempos. Em morte, inspirou as novas gerações e registrou um raio laranja como um dos ícones mais emblemáticos da história da indústria do entretenimento.

Bowie representa uma ideia de liberdade: ser o que você quiser, vestir-se como você quiser, ser homossexual ou heterossexual - o que é uma mensagem extremamente importante e libertadora", comentou Victoria Broackes, curadora da exposição "David Bowie Is".

Durante toda a sua trajetória, o Camaleão do Rock incorporou diversos gêneros e estilos musicais. Mas sobretudo, atuou como um símbolo de coragem, autenticidade e ousadia até o seu último suspiro.

Assim, como é dito em “Heroes”, Bowie poderia ser um herói por apenas um dia. Mas o mundo optou por enfatizar: Bowie foi um herói em todas as fases e eras da sua vida e continuará sendo para sempre e além!

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