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Lula demite número 2 da Abin, mas resiste a trocar chefe da agência

Placeholder - loading - Presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto 11/01/2024 REUTERS/Adriano Machado
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto 11/01/2024 REUTERS/Adriano Machado

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Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu na terça-feira o número 2 da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alessandro Moretti, mas ainda resistia, segundo fontes que acompanham o tema, a trocar o diretor-geral do órgão, Luiz Fernando Corrêa, com quem tem proximidade, apesar de sofrer pressão para demiti-lo.

A exoneração de Moretti foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União de terça, assim como a nomeação de seu substituto, o cientista político Marco Aurélio Cepik, que possui estudos na área de inteligência e era o diretor da Escola de Inteligência da agência.

Moretti, que é delegado da Polícia Federal, estava de férias e voltou na quarta-feira a Brasília. Ele deverá prestar esclarecimentos à PF sobre as acusações de que teria dificultado as investigações da própria corporação sobre o suposto monitoramento ilegal de autoridades pela Abin durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com as fontes, a demissão foi decidida uma vez que o nome de Moretti foi citado nas investigações sobre um 'possível conluio' dos investigados na operação com a atual direção da Abin.

Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, Moretti disse que a apuração interna da Abin sobre a espionagem ilegal foi iniciada por determinação dele próprio quando era diretor-geral em exercício da agência, e que 'todo o material probatório coletado e produzido pela Abin foi compartilhado com a Polícia Federal'.

'Por esta razão, grande parte do material que instrui o inquérito da PF é fruto da apuração conduzida com total independência na Abin', acrescentou.

Além de Moretti, também foram demitidos outros quatro diretores da Abin, em uma grande reformulação da cúpula da agência após os avanços das investigações da PF.

NOVO ADJUNTO

O novo diretor-adjunto da Abin disse nesta quarta-feira que há indícios que havia, sim, uma Abin paralela no órgão. Em entrevista à GloboNews, no entanto, Marco Cepik não quis apontar culpados e defendeu que as investigações a cargos da PF e outros órgãos identifiquem os eventuais responsáveis.

Cepik afirmou ainda que o uso da ferramenta FirstMile, que promove o monitoramento da geolicalização das pessoas a partir de sinais do celular, não deveria ter ocorrido. Para ele, a Abin não pode monitorar ninguém e que, se isso tiver ocorrido, é claramente desvio de poder.

'A controvérsia é que ninguém quer ser o pai da criança', afirmou ele, ao acrescentar que, se fosse hoje, a ferramenta não seria utilizada.

COMPANHEIRO DE CONFIANÇA

Embora a situação do número 2 da Abin tenha sido resolvida, a situação do chefe da agência é diferente. Corrêa foi diretor-geral da PF durante o segundo mandato de Lula e é da confiança do presidente, como o próprio petista disse em entrevista a uma rádio nesta terça.

'O companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin é o companheiro que foi meu diretor-geral da Polícia Federal entre 2007 e 2010. É uma pessoa que eu tenho muita confiança, e por isso eu o chamei, já que eu não conhecia ninguém dentro da Abin', afirmou.

Lula tem sofrido pressão de parlamentares e do STF para demitir Corrêa, de acordo com as fontes.

Ministros do Supremo avaliam que ficaram expostos ao serem monitorados pela Abin e que o atual governo não soube lidar com a agência, mantendo bolsonaristas nos primeiros escalões.

Uma fonte do STF avaliou que Corrêa, mesmo sem responsabilidade jurídica, tem responsabilidade política e precisa ser trocado, mas admitiu as dificuldades do presidente.

'É uma gestão de transição, ele herdou uma estrutura viciada do governo Bolsonaro, e é um órgão corporativo. Não é fácil achar um substituto', disse.

Pelo menos dois ministros do STF foram monitorados ilegalmente pela Abin, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, responsável pelos inquéritos das milícias digitais e outros que atingem a família Bolsonaro, de acordo com fontes com conhecimento das investigações.

Por enquanto, disseram à Reuters fontes palacianas, Corrêa se mantém no cargo, inclusive pela dificuldade de se encontrar um substituto. Não há nomes com os quais o presidente se sinta confortável. Mas a saída do diretor-geral não é descartada.

A informação de que a agência também teria monitorado parlamentares de oposição durante o governo Bolsonaro fez com que o Congresso se movimentasse. Discutem-se propostas como mudanças no escopo da agência e questões de transparência, além da ampliação da atuação da Comissão Mista de Atividades de Inteligência (CCAI) para que possa supervisionar os trabalhos da agência.

Uma fonte ligada à Presidência do Senado disse, no entanto, que dificilmente ideias novas devem prosperar em curto prazo. Aperfeiçoamentos, disse, podem ser feitos com tempo, mas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), resiste em interferir em um problema que, por ora, é visto como do Executivo.

Escrito por Reuters

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