"Running Up That Hill": saiba mais sobre o processo de sincronização em Stranger Things
Executivos do Warner Music Group detalharam em uma entrevista a Billboard como o single foi adicionado a série
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Nesta última segunda-feira, foi divulgado pelo tabloide norte-americano Billboard uma entrevista com os produtores e executivos da gravadora Warner Music Group. O tema conversado foi em relação a como como "Running Up That Hill", da artista inglesa Kate Bush, foi implementado na trilha da série da Netflix, além de detalhar como as plataformas digitais proporcionaram novas oportunidades para os músicos e suas obras.
Não é novidade que a atual repercussão do hit “Running Up That Hill” tem tomado proporções gigantescas pelas principais plataformas musicais, além de ser uma das mais pedidas aqui na programação da Antena 1. Tudo isso graças ao fato de que o single foi adicionado para fazer parte da trilha sonora da 4ª temporada da série da Netflix, "Stranger Things".
Mesmo que tenha sido originalmente lançada na década de 80 pela cantora, e feito um sucesso razoável na época, a canção recebeu atenção renovada recentemente. A obra chegou a alcançar o topo da Billboard 200, lucrando posteriormente US$ 2,3 milhões, cerca de R$ 12 milhões em receita de streaming.
Além disso, no último mês de julho, Kate Bush também bateu nada menos do que três recordes do Guiness Book, como a artista feminina mais velha a alcançar o nº 1; mais tempo para uma faixa alcançar o nº 1 na parada oficial de singles do Reino Unido; e maior intervalo entre os números 1.
Relembre o single:
Com toda essa repercussão pelos principais rankings ao redor do mundo, surgiu uma discussão sobre um novo foco nos negócios de sincronização, que nada mais é do que músicas, sejam elas antigas ou atuais, que são colocadas em séries TV, filmes, videogames ou outros conteúdos. Todos estes impulsionados pelo crescimento dos serviços de streaming de vídeo, que comprovadamente geram um lucro gigantesco.
Segundo dados da Billboard, no ano de 2021, os royalties de sincronização para licenciamento de músicas em mídia, incluindo programas de TV e filmes, totalizaram US$ 302,9 milhões, representando um aumento de 14% em relação aos US$ 265,2 milhões de 2020.
“A TV em geral explodiu nos últimos três ou quatro anos, por causa da Netflix, Amazon Prime, Disney e porque todo mundo está tentando entrar nesse espaço”, Tim Miles, vice-presidente sênior de sincronização, do Reino Unido e Europa, da Warner Music Group disse a revista norte-americana The Hollywood Reporter .
“Mas nunca vimos nada assim em termos de conseguir um disco número um”, acrescenta Tom Gallacher, diretor sênior de marketing e digital da Rhino, braço de catálogos da Warner Music.
Vale destacar que as gravadoras que distribuem as músicas do selo de Kate Bush são Warner Music e Rhino Entertainment.
Os acordos de sincronização são extremamente difíceis e demorados para serem negociados, além de todo processo para estabelecer em um contrato repleto de cautelas com o direito de uso das músicas.
“Não é como a publicidade em que recebemos um rápido 'Podemos usar essa música?' e temos que descobrir se podemos e se eles podem pagar”, explica Miles. “A TV tem uma linha do tempo muito longa. E porque a música era tão crucial para esta cena, eles tinham que saber se a música poderia ser usada. E levou cerca de dois anos para realmente conversar com Kate e sua equipe sobre o que isso seria. Esta é provavelmente a negociação de TV mais longa que eu já vi, porque eles tinham que acertar. A música é obviamente tão poderosa. Eles devem ter alguns backups, mas tenho certeza que este era o favorito absoluto deles”.
Com a ascensão do single de Bush, acabou levando os consumidores a procurarem outras músicas da artista, como “Babooshka” e “Wuthering Heights”. “Então, as pessoas estão explorando o resto, o que é ótimo”, destaca Gallacher. “E estamos trabalhando com DSPs [Digital Service Providers], como Amazon, Apple e Spotify, para incentivar suas equipes editoriais a promover playlists selecionadas abrangendo o incrível catálogo mais amplo de Kate. Kate é sempre muito cuidadosa com o que faz, e ela leva tempo para cuidar de seu catálogo e quer ter certeza de que ele seja apresentado imediatamente.”
Além disso, os executivos da gravadora apontam que também tiveram uma boa sincronização na terceira temporada de Stranger Things com o single “Never Ending Story” do artista britânico Limahl, lançado originalmente em julho de 1984.
“Todos nós vimos isso e pensamos, caramba, se 'Running Up That Hill' for usado de maneira semelhante, teremos um prazer”, lembra Miles.
Confira a cena que ficou famosa por utilizar o hit:
“Às vezes eles estão em um filme que foi lançado há 10 anos, mas acaba de ser adicionado à Netflix”, explica o executivo.
O TikTok e outras plataformas digitais também têm impulsionado as músicas do catálogo. “Vimos outros [sucessos], não relacionados a filmes, por exemplo, com coisas do TikTok como 'Dreams' do Fleetwood Mac”, que em 2020 voltou às paradas da Billboard graças a um vídeo viral, diz Gallacher. “Existem todas essas faixas antigas agora surgindo de maneiras diferentes e sendo capazes de encontrar novos públicos que as tratam da mesma maneira que tratam uma música que acabou de sair na semana passada.”
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Processo de Sincronização
“Primeiro de tudo, obviamente somos pagos quando uma música é usada. Assim como o diretor é pago, o maquiador é pago, nós temos que ser pagos, mas é uma transação muito justa”, diz Miles. “Quando cobramos – e isso é amplamente conhecido na TV e no cinema – nos baseamos no orçamento do filme. Então, você pode ser um grande artista usando um filme minúsculo, e a produtora de filmes não terá que pagar muito dinheiro por isso. Obviamente, se esse filme se tornar um enorme sucesso, muitas vezes não obtemos nenhuma renda adicional. No entanto, se for um enorme sucesso e a música for usada, é claro que haverá um aumento nos fluxos e no interesse pelo artista. Mas igualmente, se for uma grande, grande produção, receberemos uma taxa justa por isso.”
Miles contou na entrevista que a equipe da gravadora Warner Music usa um sistema chamado Color Cues, desenvolvido para combinar cores que representam diferentes humores com obras musicais. “Estamos constantemente procurando maneiras de falar a linguagem dos criadores”, explica ele. “Então o que fizemos foi criar, eu acho, 50 cartas com cores diferentes. Então verde, por exemplo, significa natural, começo, unidade, construção. Analisamos estudos científicos sobre música e cor.”
“Running Up That Hill”, que ainda não está no Color Cues, estaria entre as cores verde (construção), preto (condução) e laranja (inventivo), com o fato de abranger tantas da música, diz Miles.
“Como equipe, somos inerentemente visuais em termos de como interpretamos a música, porque trabalhamos com criadores que criam conteúdo visual”, explica o executivo da Warner Music. “Então, fazemos muito trabalho preventivo para categorizar nossa música com base em sua aparência. Pode parecer bobo, mas a cor desempenha um papel fundamental em iniciativas como essa. Realmente ajuda quando conversamos com diretores e criadores quando eles estão procurando uma música que se encaixe e eles estão começando com o visual.”
Agora, não deixe de conferir o nosso letra e a tradução de “Running Up That Hill”, de Kate Bush:
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