Trump elogia início implacável de seu governo em discurso no Congresso e atrai protestos dos democratas
Publicada em
Por Bo Erickson e Steve Holland e Joseph Ax
WASHINGTON (Reuters) - Em tom triunfante, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse ao Congresso norte-americano na terça-feira que 'os Estados Unidos estão de volta', depois de reformular a política externa dos EUA, desencadear uma guerra comercial e demitir dezenas de milhares de funcionários do governo em seis semanas tumultuadas desde que retornou ao poder, atraindo vaias de alguns democratas que saíram em protesto.
O discurso no horário nobre, seu primeiro no Congresso desde que assumiu o cargo em 20 de janeiro, ocorreu após um segundo dia de turbulência no mercado, depois que ele impôs novas tarifas contra o México, o Canadá e a China.
Com 100 minutos, foi o mais longo discurso presidencial ao Congresso na história moderna dos EUA, de acordo com o The American Presidency Project.
Os líderes mundiais estavam observando atentamente o discurso de Trump, um dia depois de ele ter suspendido toda a ajuda militar à Ucrânia em uma forte reversão da política dos EUA. A suspensão ocorreu após uma discussão no Salão Oval em que Trump repreendeu com raiva o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, diante das câmeras de TV.
A pausa na ajuda à Ucrânia ameaçou os esforços de Kiev para se defender da Rússia, que lançou uma invasão em grande escala há três anos, e abalou ainda mais os líderes europeus preocupados com o fato de Trump estar levando os EUA muito longe em direção a Moscou.
Trump dedicou apenas alguns minutos de seu discurso à política externa. Ele sinalizou uma disposição de avançar com um acordo de minerais com a Ucrânia que foi deixado de lado após a desastrosa reunião da Casa Branca na semana passada.
'Ao mesmo tempo, tivemos discussões sérias com a Rússia e recebemos fortes sinais de que eles estão prontos para a paz', disse Trump. 'Isso não seria lindo?'
E ele repetiu suas promessas -- embora sem acrescentar detalhes -- de levar a paz ao Oriente Médio e expandir os Acordos de Abraão, assinados durante seu primeiro mandato que estabeleceram relações entre Israel e alguns de seus vizinhos árabes.
Embora Trump pareça culpar a Ucrânia pelo início da guerra, uma nova pesquisa Reuters/Ipsos revelou que 70% dos norte-americanos -- incluindo dois terços dos republicanos -- dizem que a Rússia é a maior culpada.
Trump prometeu equilibrar o orçamento federal, mesmo quando pediu aos legisladores que aprovassem uma ampla agenda de cortes de impostos que, segundo os analistas, poderia acrescentar mais de US$5 trilhões à dívida de US$36 trilhões do governo federal. O Congresso precisa elevar o teto da dívida do país ainda este ano ou os EUA correrão o risco de um calote devastador.
O discurso compartilhou algumas das marcas registradas dos comícios de campanha de Trump. Ele atacou repetidamente seu antecessor democrata Joe Biden, atacou criminosos imigrantes como 'selvagens' e prometeu banir o que ele chamou de 'ideologia transgênero', tudo isso enquanto apimentava seus comentários com afirmações exageradas ou falsas.
PROTESTOS DOS DEMOCRATAS
'Aos meus concidadãos, os Estados Unidos estão de volta', começou Trump, aplaudido de pé por seus colegas republicanos. 'Nosso país está à beira de um retorno como o mundo nunca testemunhou e talvez nunca mais testemunhe.'
Os democratas seguraram cartazes com mensagens como 'No King!' (Nâo há Rei!) e 'This Is NOT Normal' (Isso NÃO é normal), e cerca de metade dos democratas havia se retirado ao final do discurso.
Um congressista do Texas, Al Green, foi retirado do local após se recusar a se sentar.
Trump, um brigão político por natureza, se divertiu com os desentendimentos.
'Olho para os democratas à minha frente e percebo que não há absolutamente nada que eu possa dizer para deixá-los felizes ou para fazê-los ficar de pé, sorrir ou aplaudir', disse ele após a expulsão de Green.
O discurso foi realizado na Câmara dos Deputados, onde os legisladores se amontoaram temendo por suas vidas há quatro anos, enquanto uma multidão de apoiadores de Trump vandalizava o Capitólio em um esforço malsucedido para anular a vitória de Biden em 2020 sobre o então presidente Trump.
Os democratas escolheram a senadora moderada Elissa Slotkin para fazer seu discurso de refutação a Trump. Ela invocou um presidente republicano icônico ao criticar Trump.
'Como uma criança da Guerra Fria, sou grata por ter sido Reagan e não Trump no cargo nos anos 1980. Trump teria nos feito perder a Guerra Fria', disse Slotkin, uma ex-analista da CIA que venceu as eleições em Michigan em novembro, apesar de Trump ter vencido a eleição presidencial em seu Estado. 'As ações de Donald Trump sugerem que, em seu íntimo, ele não acredita que somos uma nação excepcional.'
MAIS TARIFAS A CAMINHO
Trump elogiou o empresário bilionário Elon Musk e seu Departamento de Eficiência Governamental, que reduziu o quadro de mais de 100.000 funcionários federais, cortou bilhões de dólares em ajuda externa e fechou agências inteiras.
O presidente creditou a Musk a identificação de 'centenas de bilhões de dólares em fraudes', uma alegação que excede em muito até mesmo o que o governo alegou até agora. Musk, sentado na galeria, foi ovacionado pelos republicanos.
Trump reiterou sua intenção de impor tarifas recíprocas adicionais em 2 de abril, uma medida que provavelmente agitaria ainda mais os mercados financeiros.
'Outros países usaram tarifas contra nós durante décadas, e agora é a nossa vez de começar a usá-las contra esses outros países', disse ele.
Nesse ponto, muitos republicanos permaneceram sentados, um sinal de como as tarifas de Trump dividem seu partido.
As tarifas de 25% impostas por Trump sobre o México e o Canadá, dois dos aliados mais próximos do país, e um adicional de 10% sobre as importações chinesas aprofundaram as preocupações dos investidores com a economia. O Nasdaq Composite caiu mais de 9% em relação ao seu recorde de fechamento em 16 de dezembro.
Trump, que muitas vezes assumiu o crédito pelas altas dos mercados de ações, não mencionou a queda desta semana. Ele também mal abordou os custos teimosamente altos, culpando Biden pelo preço dos ovos e dizendo que reduziria a inflação por meio do aumento da produção de energia.
Apenas um em cada três americanos aprova a maneira como Trump está lidando com o custo de vida, de acordo com a pesquisa Reuters/Ipsos, um sinal de perigo em potencial em meio a preocupações de que suas tarifas possam aumentar a inflação.
Trump pediu ao Congresso que aprovasse um plano abrangente de US$4,5 trilhões que estenderia seus cortes de impostos de 2017, reforçaria a segurança nas fronteiras e financiaria deportações em massa.
Trump observou que seu governo já havia lançado uma repressão na fronteira, citando o total recorde de 8.300 prisões de imigrantes na fronteira entre os EUA e o México em fevereiro. Essas detenções são frequentemente usadas como um indicador para estimar as travessias ilegais.
A proposta tributária republicana exige US$2 trilhões em reduções de gastos ao longo de uma década, com possíveis cortes na educação, na saúde e em outros serviços sociais.
O não partidário Committee for a Responsible Federal Budget (Comitê para um Orçamento Federal Responsável) estima que a agenda tributária completa de Trump, incluindo a eliminação de impostos sobre gorjetas, pagamento de horas extras e benefícios da Previdência Social, poderia custar entre US$5 trilhões e US$11,2 trilhões em uma década.
(Reportagem de Bo Erickson, Erin Banco, Gram Slattery, Andrea Shalal, Steve Holland e Gabriella Borter; Reportagem adicional de Nandita Bose, Kanishka Singh, Jasper Ward, Ted Hesson, Jason Lange, Richard Cowan, Trevor Hunnicutt e Tom Westbrook)
Escrito por Reuters