A Jornada Inesperada de Rod Stewart: de Ícone Mod a Mestre dos Crooners
As transições de gênero musical do cantor que pareciam incomuns, revelam ter uma lógica por trás
Publicada em
A trajetória de Rod Stewart, desde suas raízes no movimento mod até alcançar o estrelato com o Great American Songbook, ilustra uma evolução artística coesa e lógica, perfeitamente alinhada à sua identidade musical. Transitando do Rhythm'n'Blues aos clássicos de Cole Porter, Stewart manteve-se sempre fiel a seu estilo.
Nascido em 10 de janeiro de 1945, no norte de Londres, Roderick Stewart cultivou desde cedo duas grandes paixões: futebol e música. Após tentativas frustradas na carreira futebolística, voltou-se para a música, vivendo em uma casa-barco em Shoreham e colaborando com o notável cantor e guitarrista folk Wizz Jones.
Sua odisseia musical o levou a Paris e Barcelona, onde adotou o estilo de vida Beatnik, termo cunhado por Jack Kerouac para descrever a juventude “anticonformista”. Contudo, após pouco tempo, Stewart foi deportado por vadiagem. De volta a Londres, ele se imergiu na moda mod e na soul music, unindo-se ao The Dimensions e, posteriormente, a várias bandas, incluindo a Shotgun Express com Peter Green, Peter Bardens e Mick Fleetwood. Seu destaque veio ao entrar no Jeff Beck Group em 1967, onde sua voz inconfundível atraiu uma base de fãs leal, valendo-lhe o apelido de Rod The Mod.
Mod, uma abreviação de modernista, é uma subcultura que surgiu na década de 1950 em Londres, espalhando-se pelo Reino Unido e influenciando tendências internacionais. A cultura mod, focada em música e moda, tem origem em um grupo de jovens londrinos estilosos do final dos anos 50, que se destacavam por ouvir jazz moderno. Características marcantes dessa cultura incluem a moda (geralmente ternos sob medida), música (soul, rhythm and blues, ska e, principalmente, jazz) e scooters (tipicamente Lambretta ou Vespa). Na metade dos anos 60, o movimento se vinculou a bandas de rock como The Who e Small Faces, e foi marcado por confrontos com a subcultura rival dos roqueiros, gerando o que o sociólogo Stanley Cohen chamou de "pânico moral".
Enquanto estava com o grupo de Beck, Stewart lançou um single solo, "Little Miss Understood", e assinou com a Mercury Records, coincidindo com sua entrada na banda Faces, ao lado de Ronnie Wood. Seu álbum de estreia, "An Old Raincoat Won't Ever Let You Down", mesclava os estilos que ele absorveu ao longo dos anos: rock'n'roll na versão de "Street Fighting Man" dos Rolling Stones, folk em "Man Of Constant Sorrow" e “Dirty Old Town”, além de “Handbags And Gladrags”, de Mike D'Abo, destacando-se por sua moralidade e narrativa. Mike D'Abo, ex-vocalista do Manfred Mann, também escreveu “Little Miss Understood”, uma visão sombria e corajosa da feminilidade moderna, sem julgar sua protagonista. Estas músicas carregavam uma mensagem e uma história.
O hit de estreia de Stewart em 1971, “Maggie May”, conta a história de um jovem seduzido por uma mulher mais velha, refletindo gratidão por um relacionamento que está prestes a terminar. A canção, que também faz referência a uma música folk que Stewart ouviu no início dos anos 60, resgata seu passado musical. Paralelamente, a banda Faces se tornou uma das mais populares do rock britânico no início dos anos 70, conhecida por suas músicas animadas, porém repletas de histórias humanas. Nesse período, Stewart consolidou-se como estrela solo, com sucessos como “You Wear It Well”, uma reinterpretação do hit soul de Maxine Brown “Oh No Not My Baby” e “Sailing”, cortesia dos irmãos Sutherland. Seu amor pelo Great American Songbook começou a se mostrar em 1974 com a reinterpretação de “Twistin’ The Night Away”, de Sam Cooke.
O auge de seu sucesso veio em 1975 com “Tonight’s The Night” e em 1977 com “Hot Legs” e “I Was Only Joking”, embora ele enfrentasse críticas por se afastar das raízes de rock'n'roll e R&B, aproximando-se de um som mais mainstream, polido e comercial. Na década de 1980, Stewart experimentou com synth-pop e música disco, mantendo uma base de fãs, apesar de ser visto por muitos como um traidor do rock.
A virada do milênio marcou um retorno às raízes para Stewart. Ele lançou uma série de álbuns abordando o Great American Songbook, começando com “It Had To Be You” em 2002. Combinando clássicos do jazz e do pop com sua voz rouca, esses álbuns alcançaram grandes vendas, mas também receberam críticas mistas. Enquanto alguns viam isso como um retorno às suas raízes jazzísticas e mod, outros acreditavam que ele estava optando por um caminho mais “genérico”. Independentemente das opiniões, Stewart provou ser capaz de se reinventar e manter relevância em uma indústria musical em constante evolução.
A história de Rod Stewart é marcada por metamorfoses e por uma habilidade única de adaptar-se a novos estilos sem perder a essência de sua identidade musical. De Mod a Crooner, de rock a jazz, sua jornada é um testemunho de sua versatilidade e paixão pela música.
Veja também:
EARTH, WIND & FIRE: A FORÇA DA POSITIVIDADE CRIADA POR MAURICE WHITE
LEWIS CAPALDI LANÇA EDIÇÃO ESTENDIDA DO SEU ÚLTIMO ÁLBUM
Descontos especiais para distribuidores
SALA DE BATE PAPO