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Lula reabre relações com América Latina em viagem à Argentina e volta do Brasil à Celac

Placeholder - loading - Lula e Fernández se reúnem no Itamaraty um dia depois da posse do petista 02/01/2023 REUTERS/Adriano Machado
Lula e Fernández se reúnem no Itamaraty um dia depois da posse do petista 02/01/2023 REUTERS/Adriano Machado

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Por Lisandra Paraguassu

BUENOS AIRES (Reuters) - Três semanas depois de tomar posse pela terceira vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugura no domingo a retomada de sua política externa com uma visita à Argentina e a retomada das relações do Brasil com a América Latina, no aguardado retorno do país à Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).

Lula decidiu não ir ao Fórum Econômico de Davos --para onde foram enviados os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Meio Ambiente, Marina Silva-- para dar preferência aos parceiros regionais. É o sinal claro da intenção do presidente de retomar pontes rompidas durante o governo de Jair Bolsonaro.

O Brasil havia abandonado a Celac em 2019, por ordem de Bolsonaro, que rechaçou participar do grupo regional em que estavam Cuba e Venezuela. Nesse meio tempo, rompeu relações diplomáticas com a Venezuela, praticamente desistiu das instâncias de negociação com a Argentina, um dos maiores parceiros comerciais brasileiros.

'Passado apenas três semanas da posse o Brasil volta ao mundo, e com a primeira escala obrigatória na região, começando pela Argentina. Isso é a grande mensagem. O presidente Lula já ressaltou muito essa imagem do Brasil voltando ao mundo', disse o embaixador Michel Arslanian Neto, secretário de Américas do Itamaraty.

O governo brasileiro comunicou no dia 5 de janeiro à secretaria-executiva da Celac o retorno do Brasil ao fórum regional, em uma das primeiras medidas de reconstrução da política externa. O Itamaraty criou, inclusive, um departamento temporário para reinserir o Brasil na Celac, depois de três anos de ausência não apenas nas decisões, mas em iniciativas regionais, como por exemplo ações de integração energética e até na área de saúde, durante a pandemia.

'Foram três anos de distanciamento. Estamos retomando aproximação com parceiros da região como política de Estado, independentemente da orientação política', disse o embaixador.

A retomada inclui, na agenda de viagem, um encontro bilateral com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e com o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, os dois países da região ignorados por Bolsonaro por questões ideológicas, que devem ser os principais encontros de Lula fora da agenda da Celac e da visita oficial ao governo argentino. Também está marcada uma reunião com o diretor-geral do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), QU Dongyu.

GASODUTO DE VACA MUERTA

Já com a Argentina, a intenção também é retomar um relacionamento que caiu no esquecimento nos últimos anos, apesar de o país vizinho ser o principal parceiro comercial do Brasil na região. Arslanian Neto ressalta que os mecanismos bilaterais não foram totalmente abandonados justamente pela forte relação entre os dois países, mas pouco se avançou nos últimas três anos.

Em 2022, as exportações brasileiras para a Argentina chegaram a 15,3 bilhões de dólares, 29% a mais que no ano anterior. Mesmo assim, ainda não voltaram aos valores de 2017, quando alcançou 17,6 bilhões.

Na primeira visita depois de três anos praticamente inertes, há pouco por enquanto para se anunciar de concreto. Os dois presidentes devem assinar um acordo para cooperação científica e logística na Antártida.

Os argentinos tentam avançar em outro ponto, a retomada das obras no gasoduto de Vaca Muerta, que liga o campo de exploração até a fronteira com o Rio Grande do Sul, o que ajudaria a diminuir a dependência do Brasil do gás boliviano --a estimativa é que Vaca Muerta seja o segundo maior campo de gás do mundo.

Os argentinos querem ajuda para terminar a obra, e o governo brasileiro acena com a possibilidade de ajuda através do BNDES.

No entanto, uma fonte ouvida pela Reuters revela que o banco não deve mais financiar empreiteiras brasileiras para obras no exterior, como fez no passado, mas apenas a compra de bens --equipamentos e peças-- fabricados no Brasil, para serem usados na obra.

Lula chega a Buenos Aires na noite de domingo, acompanhado de cinco ministros --Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad, Nísia Trindade (Saúde), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação da Presidência) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). Na segunda, tem uma sequência de reuniões com o presidente argentino, Alberto Fernández, e ministros para discutir os temas de interesse dos dois países.

Na terça, o presidente participa da Celac e na quarta pela manhã vai ao Uruguai para uma visita ao presidente Lacalle Pou.

Escrito por Reuters

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