Trump ameaça elevar ainda mais tarifas sobre a China enquanto mercado segue em queda
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Por Katharine Jackson e David Lawder e Philip Blenkinsop
WASHINGTON/LUXEMBURGO (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou nesta segunda-feira aumentar ainda mais as tarifas sobre a China, levantando a possibilidade de uma nova escalada em uma guerra comercial que já eliminou trilhões de dólares dos mercados globais.
Trump disse que imporia uma taxa adicional de 50% sobre as importações vindas da China na próxima quarta-feira, se a segunda maior economia do mundo não retirar as tarifas de 34% que havia imposto sobre produtos dos EUA na semana passada. Essas tarifas chinesas vieram em resposta às taxas 'recíprocas' de 34% anunciadas anteriormente por Trump.
'Todas as negociações com a China sobre as reuniões solicitadas conosco serão encerradas!', ele escreveu nas redes sociais.
O anúncio injetou mais turbulência nos mercados financeiros globais, que caíram constantemente desde o anúncio de Trump. Uma tarifa de 10% entrou em vigor sobre todas as importações no mercado norte-americano no sábado, e taxas direcionadas de até 50% devem entrar em vigor na quarta-feira.
As ações nos EUA interromperam brevemente sua queda pela manhã, após uma reportagem indicar que Trump estava considerando uma pausa tarifária de 90 dias. Depois elas ficaram negativas novamente, após a Casa Branca classificar a reportagem como 'notícia falsa'. O índice de ações S&P 500 estava caminhando para uma queda de 20% em relação à sua máxima de fevereiro.
As ações asiáticas e europeias também despencaram, pois os investidores temem que os impostos que Trump comparou a 'remédios' possam levar a preços mais altos, demanda mais fraca e potencialmente uma recessão global. O Goldman Sachs aumentou as chances de uma recessão nos EUA para 45%.
Já a União Europeia disse que começaria a cobrar taxas retaliatórias sobre alguns produtos dos EUA na semana que vem, mesmo com autoridades dizendo que estavam prontas para negociar um acordo 'zero por zero' com o governo Trump.
'Mais cedo ou mais tarde, nos sentaremos à mesa de negociações com os EUA e encontraremos um compromisso mutuamente aceitável', disse o comissário de Comércio da União Europeia, Maros Sefcovic, em uma entrevista coletiva.
Os assessores de Trump dizem que o presidente está cumprindo uma promessa de reverter décadas de liberalização comercial que, segundo ele, minou a economia dos EUA. Mas eles também disseram que Trump está disposto a negociar com dezenas de países que entraram em contato para conversas.
'Ele está dobrando a aposta em algo que sabe que funciona, e vai continuar a fazer isso', disse o economista da Casa Branca Kevin Hassett na Fox News. 'Mas ele também vai ouvir nossos parceiros comerciais, e se eles vierem até nós com acordos realmente excelentes, que beneficiem a indústria e os fazendeiros americanos, tenho certeza de que ele vai ouvir.'
As taxas retaliatórias da China são a resposta mais firme até agora ao anúncio de Trump, que foi recebido com condenação perplexa de outros líderes. Pequim chamou o comportamento de Trump de 'bullying econômico'.
Depois que as ações na China continental e em Hong Kong despencaram nesta segunda-feira, o fundo soberano da China interveio para tentar estabilizar o mercado.
As ações em Taiwan despencaram quase 10% -- a maior queda percentual em um dia já registrada.
Líderes em Wall Street emitiram alertas sobre tarifas dos EUA, com o CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, dizendo que elas poderiam ter consequências negativas duradouras, enquanto o gestor de fundos Bill Ackman afirmou que elas poderiam levar a um 'inverno nuclear econômico'.
Ackman é um dos poucos apoiadores de Trump que questionaram a estratégia. O bilionário Elon Musk, que está liderando o esforço de Trump para cortar gastos do governo, pediu tarifas zero entre EUA e Europa no fim de semana.
Nesta segunda-feira, o conselheiro comercial de Trump, Peter Navarro, desqualificou o CEO da Tesla, chamando-o de 'montador de carros'.
TÁTICA OU NOVO REGIME?
Investidores e líderes políticos têm lutado para determinar se as tarifas de Trump são parte de um novo regime permanente ou uma tática de negociação para obter concessões de outros países.
Alguns membros da UE temem que uma resposta enérgica possa ter consequências ainda maiores para os exportadores europeus de produtos em geral, de conhaque francês e vinho italiano até carros alemães.
A Audi, a Volkswagen, está segurando carros que chegaram aos portos dos EUA depois de 2 de abril em razão da tarifa de automóveis de 25% recentemente imposta. Já o fornecedor de peças de aeronaves Howmet Aerospace pode interromper algumas remessas caso sejam impactadas por tarifas, de acordo com uma carta vista pela Reuters.
O primeiro-ministro japonês Shigeru Ishiba, um dos aliados mais próximos dos EUA na Ásia, conversou por telefone com Trump, para pressioná-lo por um acordo, e disse que visitaria Washington no momento apropriado.
Outros governos na Ásia também sinalizaram disposição de se envolver.
O presidente de Taiwan, Lai Ching-te, ofereceu no domingo tarifas zero como base para as negociações, enquanto uma autoridade do governo indiano disse que Déli não planeja retaliar.
Os investidores agora estão apostando que o risco crescente de recessão pode fazer com que o Federal Reserve dos EUA corte as taxas de juros já no mês que vem. Trump repetiu nesta segunda-feira o apelo para que o banco central reduza as taxas, mas o chair do Fed, Jerome Powell, até agora indicou que não há pressa.
(Reportagem das redações da Reuters; texto de Andy Sullivan, Matthias Williams e John Geddie)
Escrito por Reuters