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Alta taxa de ocupação dos leitos pediátricos por Covid-19 torna pandemia alarmante

De acordo com o último levantamento da Secretaria Municipal da Saúde, os números superam 85% nos leitos e 84% nas UTIs pediátricas

Placeholder - loading - Mãos de mãe e filha no hospital. - iStock
Mãos de mãe e filha no hospital. - iStock

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Com o retorno obrigatório das aulas presenciais no estado de São Paulo, estabelecido pelo governo em outubro do ano passado, e o uso de máscaras somente nos transportes públicos e nos hospitais - decretado em março de 2022 - a saúde das crianças tem sido impactada e ameaçada de diversas maneiras.

De acordo com informações da prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), neste momento, a taxa de ocupação na enfermaria pediátrica da rede municipal está em 86% e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em 84%. Além disso, cerca de 80% do total das internações infantis na rede municipal corresponde a casos de síndrome respiratória.

A SMS ressaltou que a taxa de ocupação é dinâmica e pode variar ao longo do dia. Outro ponto a ser discutido é que o número de vagas de UTI na pediatria na cidade de São Paulo foi recentemente ampliado de 96 para 116 e os leitos de enfermaria infantil somam 404.

Devido à sazonalidade das doenças respiratórias e, especialmente, às alterações nas condições climáticas, é comum o aumento nos atendimentos e internações, particularmente, nos meses de março, abril e maio.

Será que a saúde pública está preparada para atender a população com diversas doenças respiratórias e na faixa etária (0 a 4 anos) que ainda não têm vacina contra o coronavírus aprovada pela Anvisa? Vejamos:

Na tabela abaixo, é possível analisar as notificações de casos e internações por síndrome respiratória, separadas por semana epidemiológica e faixa etária do ano de 2022 até o momento. Os dados são para residentes do município, sendo assim, estão inclusas as notificações nos equipamentos municipais, estaduais, federais, filantrópicos e particulares da capital.

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Os dados foram coletados em um período de 15 semanas, do dia 2 de janeiro até o dia 16 de abril, que são chamadas de epidemiológicas. Para compreender os dados de uma maneira mais aprofundada, é necessário saber o que são as semanas epidemiológicas.

Contextualizando o significado desse termo, há um consenso internacional sobre um período de tempo padrão que agrupa mortes e outros eventos epidemiológicos, ou seja, tudo relacionado à saúde.

A divisão dos 365 dias do ano em 52 ou 53 semanas epidemiológicas é o que forma o calendário epidemiológico. Dessa maneira, é possível realizar comparações epidemiológicas que ocorrem em um determinado ano, ou período dele, em relação aos anos anteriores.

As semanas epidemiológicas se iniciam no domingo e finalizam no sábado seguinte. A primeira semana do ano termina no primeiro sábado de janeiro, com a condição de que cubra pelo menos quatro dias no mês, mesmo que com isso comece em dezembro do ano anterior.

Analisando a tabela acima, é possível verificar que entre aqueles com 0 e 19 anos, houve um aumento nos casos e internações na semana epidemiológica 12, com queda nas semanas seguintes.

Além disso, a partir dos dados, pode-se perceber que há uma alta na taxa de internação das crianças mais novas, aquelas menores de um ano até 9 anos de idade, que provavelmente não estavam vacinadas na época. Ou seja, quanto mais tempo demorar para imunizá-los, maior é o risco de gerar uma contaminação generalizada nas escolas - mesmo que o uso de máscaras e o distanciamento social sejam comprovados cientificamente como métodos de prevenção contra a doença.

Além disso, o fato de que, assim como está sendo retratado no gráfico, quanto mais nova for a criança, menos ela entenderá quais são os cuidados e cautelas que devem ser tomados para prevenir a contaminação.

Vale pontuar que esse período é justamente o que se refere ao início do ano letivo, onde as crianças mais jovens retornaram às aulas sem a obrigatoriedade de máscaras. Mesmo com todos os profissionais que atuam nas escolas - sejam eles professores, auxiliares, pedagogos, coordenadores, inspetores etc. – vacinados, quando uma criança entra na instituição de ensino sem ter tomado a vacina contra o coronavírus, ela tem uma menor taxa de proteção contra a doença. Essa situação, além de ser perigosa para o aluno em questão, coloca em risco a saúde de toda a equipe escolar e dos colegas de sala.

Assim, podemos estabelecer uma comparação com esses mesmos dados coletados, no município de São Paulo, no ano passado, em 2021. Confira a tabela abaixo:

Nota-se que a incidência de internação pediátrica de 2021 neste período epidemiológico é maior quando comparada ao mesmo período deste ano. Isso devido à alta contaminação e disseminação do vírus da Covid-19 na época. Outro ponto alarmante é quanto a semana epidemiológica 9 de 2021, no que se refere ao período dos dias 28 de fevereiro até o dia 6 de março, um pouco antes da determinação da segunda onda de covid-19 no Brasil pelo governo e especialistas.

Sem contar que nessa época a vacinação contra a Covid-19 nem era possível para crianças, quanto menos as mais novas. Lembrando que essa faixa etária, de 5 a 11 anos só foi se vacinar no início de 2022.

E, então, vem o questionamento: como é possível proteger crianças de até 5 anos, que ainda não podem tomar vacina?

O Instituto Butantã protocolou um pedido de liberação da vacina para as crianças brasileiras de 3 a 5 anos. A solicitação está em análise a fim de amenizar esse dilema e inseguranças vividos. É possível que a CoronaVac, desenvolvida pelo próprio instituto, seja escolhida para essa faixa-etária.

Embora não tenhamos uma data específica para o recebimento da resposta, sabe-se que este imunizante vem sendo usado em outros países como a China para a imunização dessa população infantil.

Para as crianças dessa idade que possuem algum tipo de imunodeficiência ou comorbidade, é aconselhado que continuem o ensino a distância a fim de evitar uma possível infecção mais grave. Àquelas que não possuem a chance de ficar em casa, infere-se que as escolas redobrem os cuidados, maneje os espaços da melhor forma, promova a troca de máscara ao longo das atividades e amplie o distanciamento.

Como muitos sabem, para ter acesso a esses tipos de dados sobre o monitoramento das redes hospitalares, basta apenas acessar o Boletim Diário Covid-19, disponível no site da prefeitura de São Paulo. Confira um exemplo do último dia 30 de abril:

Nota-se que não há nenhum dado que especifique a ocupação dos leitos e UTIs pediátricas, isso porque infelizmente ele informa o número de internações em sua totalidade e não por idade, por isso não consta essa ocupação infantil.

A Antena 1 entrou em contato com hospitais infantis da cidade de São Paulo, em busca de dados de internações pediátricas e ocupações de UTIs pediátricas. Confira abaixo as informações coletadas daqueles que retornaram às solicitações:

Hospital Sírio Libanes - “ Dos dias 15 a 30 de abril, o número de crianças que testaram positivo para covid foi 15, enquanto apenas 2 foram internadas pela Covid-19 e nenhuma na UTI"

Hospital Menino Jesus - “No Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, na última sexta feira (29), duas crianças estavam internadas com quadro de Covid-19, ambas em leitos de enfermaria.”

Hospital Santa Casa - Obtivemos retorno, porém os dados não foram enviados ainda

Hospital Albert Einstein- Obtivemos retorno, porém os dados não foram enviados ainda

Hospital São Camilo - Obtivemos retorno, porém os dados não foram enviados a tempo

Hospital São Luís - Não retornou a tentativa de contato

Hospital Sabará- Retornou porém não atendeu as informações que foram solicitadas

Além disso, também entramos em contato com a secretaria de saúde de algumas cidades do interior da cidade de São Paulo, para mais informações em relação a internações pediátricas e ocupações de UTIs pediátricas. Confira abaixo as informações coletadas daqueles que retornaram às solicitações:

Osasco- “A taxa de positividade em menores de 09 anos no município de Osasco passou de 0.3% em março para 16% em abril. Já a taxa de ocupação de leitos (UTI e Enfermaria) passou de 12% para 82% no mesmo período. Vale ressaltar que esse aumento era esperado, principalmente se for considerado o retorno às aulas presenciais, a desobrigação do uso de máscaras em locais públicos e ainda a sazonalidade de doenças respiratórias. Então, a ocupação de leitos se dá, principalmente, pelas doenças respiratórias.”

Jundiaí- “A Vigilância Epidemiologia da Unidade de Gestão de Promoção da Saúde (UGPS) informa que Jundiaí apresenta queda sustentada no número de casos de internações por COVID-19, em crianças e adolescentes entre 0 a 17 anos. Em janeiro foram 11, fevereiro registraram 3, março foi acometido 1 e em abril 1.”

Campinas - Não retornaram a tentativa de contato

Indaiatuba - Não retornaram a tentativa de contato

Guarulhos- Retornou porém não atendeu as informações que foram solicitadas

São Caetano - Retornou porém não atendeu as informações que foram solicitadas

Estimativa de casos recentes de SRAG por faixa etária (Info Gripe)

A partir de método similar ao utilizado para estimar o total de novos casos semanais de SRAG, levando em conta a oportunidade de digitação no Brasil e em cada unidade da federação, também é possível estimar o número de novos casos por faixa etária. A figura abaixo apresenta tal estimativa para todo o país.

No agregado nacional observa-se cenário de estabilização em todas as faixas etárias da população adulta. Nas crianças e adolescentes observa-se manutenção do sinal de queda após ter atingido um pico em março. Dados laboratoriais apontam que, no grupo de 0 a 4 anos, o crescimento expressivo entre fevereiro e março está fundamentalmente associado ao vírus sincicial respiratório (VSR). Nas crianças de 5 a 11 anos de idade, no entanto, o predomínio entre os resultados positivos continuou sendo de SARS-CoV-2 (COVID-19), seguido dos casos de rinovírus. A partir do mês de março a detecção de rinovírus nessa faixa etária passa a superar aquela associada ao SARS-CoV-2.

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Divulgado na última quarta-feira (27/4), o Boletim InfoGripe da Fiocruz confirma que a incidência de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças apresenta queda em diversos estados, refletindo também a queda na curva nacional.

As estimativas apontam para 3,5 (3,0 – 4,1) mil casos, dos quais cerca de 1,7 (1,3 – 2,3) mil são em crianças de 0 a 4 anos, na Semana Epidemiológica (SE) 16, que compreende o período de 17 a 23 de abril. O estudo tem como base os dados inseridos no Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) até 25 de abril.

Justamente essa faixa etária de crianças de 0 a 4 anos ainda não está vacinada, o que soma mais de 15 milhões de brasileiros.

A Pfizer também se mobilizou quanto a essa questão, já que recentemente enviou dados ao Food and Drug Administration (FDA) para pedir autorização emergencial para vacinação desse público no início do ano, mas até agora não houveram mais atualizações ou respostas. O órgão adiou essa decisão por, no mínimo, dois meses com a justificativa de que precisa de mais informações das empresas fabricantes.

Entretanto, até a chegada dessa autorização formal necessária, crianças e bebês sentem fortemente o impacto da infecção, assim a saúde de cada uma delas é colocada em alto risco. Segundo um levantamento, desde o início da pandemia, cerca de 19.928 crianças de 0 a 4 anos foram internadas por Covid-19, às quais, aproximadamente 1.157 morreram.

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No gráfico acima, com o coeficiente de incidência alto, e muito preocupante, de casos confirmados dessa faixa etária fica claro o quanto é necessário a prioridade e atenção que os órgãos e fabricantes devem ter com as vidas desse público.

O Boletim também indica que a contribuição dos casos associados ao vírus sincicial respiratório (VSR) segue sendo a maior entre os vírus testados, correspondendo a 44,3% do total de casos de SRAG com resultado laboratorial positivo das últimas quatro semanas, ainda que esteja fundamentalmente restrito a crianças pequenas.

Os dados laboratoriais sinalizam predomínio de casos associados ao VSR na faixa etária de 0 a 4 anos; e de rinovírus e Sars-CoV-2 no grupo de 5 a 11 anos. Os casos de Covid-19 mantêm queda entre os resultados laboratoriais positivos para vírus respiratórios, correspondendo a 35,4% nas últimas quatro semanas.

NOVO BOLETIM INFOGRIPE

Confira agora o Boletim do InfoGripe, divulgado nesta quinta-feira (5/5), pela Fiocruz:

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Segundo a análise dos dados, é apontado um possível início de crescimento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) na população adulta em diversos estados ao final do mês de abril, refletindo na curva nacional. Se diferencia do observado ao longo dos meses de fevereiro e março, quando o sinal de crescimento esteve fundamentalmente restrito à população infantil (0 a 4 e 5 a 11 anos).

Referente à Semana Epidemiológica (SE) 17, de 24 a 30 de abril, o estudo tem como base os dados inseridos no Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) até o dia 2 de maio. Nesse período, as estimativas apontam para 4,7 (4,1 – 5,5) mil casos, dos quais cerca de 2,3 (1,7 – 3,0) mil são em crianças de 0 a 4 anos.

O pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, ressalta que, no momento, a principal suspeita é que esse sinal de possível aumento na população adulta esteja associado ao Sars-CoV-2 (Covid-19), que tem apresentado leve crescimento?na positividade entre os casos leves, mas pode também estar associado a um eventual retorno do vírus Influenza A (gripe). "Os dados laboratoriais associados aos casos de SRAG ainda não nos permitem precisar. As próximas atualizações poderão trazer maior clareza. De qualquer forma, é importante que a rede laboratorial esteja atenta a possibilidade de circulação simultânea desses dois vírus respiratórios, testando para ambos sempre que possível para que possamos ter dados adequados para a caracterização de quais desses vírus estão causando essas internações".

Embora não se destaque no dado nacional, o Boletim alerta que o vírus Influenza A vem sendo observado em diversas faixas etárias no estado do Rio Grande do Sul, especialmente nas últimas cinco semanas. Nas crianças de 0 a 4 anos, o estudo mostra que o aumento de SRAG foi marcado pelo crescimento nos casos positivos para vírus sincicial respiratório (VSR) e leve aumento nos casos de rinovírus. Já grupo de 5 a 11 anos, observa-se sinal de interrupção de queda nos resultados positivos para Covid-19 na segunda quinzena de fevereiro e aumento na detecção de outros vírus respiratórios no mês de março, com predomínio de positivos para rinovírus.

Para acessar o Boletim na sua íntegra, clique aqui.

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