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Com o comércio de soja e lítio na balança, Argentina de Milei tem um dilema com a China

Placeholder - loading - 29/11/2023 REUTERS/Agustin Marcarian
29/11/2023 REUTERS/Agustin Marcarian

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Por Lucinda Elliott, Joe Cash e Maximilian Heath

BUENOS AIRES/PEQUIM, 7 Dez (Reuters) - O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, tem um dilema com a China.

O economista libertário insultou a China comunista em uma campanha inflamada, mas assume o cargo no domingo precisando mais do que nunca do segundo maior parceiro comercial do país, já que uma recessão se aproxima e as reservas de moeda estrangeira se esgotam.

Desde que venceu a eleição de 19 de novembro, a equipe de Milei adotou um tom mais diplomático, refletindo os laços complexos com a China, o principal comprador de soja e carne bovina argentina, um investidor importante em seu lítio e o fornecedor de um swap cambial de 18 bilhões de dólares -- na verdade, uma forma de provisão de crédito que ajudou a Argentina a evitar a inadimplência.

Miguel Schiariti, presidente da câmara do setor de carnes Ciccra, tem esperança de um relacionamento 'cordial', apontando para os comentários recentes da nova ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino. A China compra mais de três quartos das exportações de carne bovina da Argentina.

Mondino disse à Reuters, em uma entrevista em 2 de dezembro, que o novo governo analisaria os acordos 'secretos' entre os dois países para garantir que todos eles estivessem em conformidade com a lei, mas enfatizou que a Argentina não cortaria os laços com a China e procuraria, de fato, reforçar o comércio privado.

'O setor privado é quem faz os negócios', disse ela, acrescentando que a Argentina queria 'exportar o máximo possível para todos'. O novo governo estará empenhado em reverter os déficits comerciais, disse ela, inclusive com a China -- cerca de 10 bilhões de dólares no ano passado.

'Temos muitas dívidas... então precisamos de um superávit.'

'PROJETOS SERÃO REVISADOS'

Nem todos estão convencidos de que as coisas serão tão fáceis, com megaprojetos sensíveis, inclusive hidrelétricos e nucleares, que precisam de relações sólidas entre os países.

Na província de Santa Cruz, no sul do país, turbinas fabricadas na China devem chegar no início do próximo ano para um projeto de barragem hidrelétrica de 5 bilhões de dólares, que, segundo a governadora peronista Alicia Kirchner, pode ser interrompido pela mudança de governo.

'Essas represas estão em risco com Milei', disse a governadora em uma entrevista em outubro, citando suas críticas públicas à China durante a campanha.

'(Milei) diz que podemos ser uma ilha', disse. 'Não acho que o país tenha um futuro dessa forma.'

A campanha de Milei não se pronunciou especificamente sobre as represas.

A China está financiando cerca de uma dúzia de projetos de infraestrutura em andamento na Argentina, segundo dados do governo, que variam de ferrovias e fazendas solares a instalações de fertilizantes. A China também tem uma dúzia de investimentos em mineração, especialmente no metal lítio para baterias de veículos elétricos.

Alguns projetos já estão enfrentando grandes atrasos ou estão 'paralisados', disse Patricio Giusto, diretor do observatório sino-argentino com sede em Buenos Aires, citando a má gestão, obstáculos regulatórios e questões econômicas internas.

Isso pode se agravar se os laços diplomáticos forem tensionados, disse ele. As cláusulas de cancelamento cruzado em alguns contratos poderiam permitir que Pequim interrompesse os empréstimos a projetos se outro fosse cancelado, acrescentou.

'Se Milei tentar cancelar qualquer um desses contratos de obras públicas, a China simplesmente pediria o dinheiro de volta de um número de projetos', disse Giusto. 'Esse é um dinheiro que a Argentina simplesmente não tem.'

A construção das duas usinas hidrelétricas de Santa Cruz, o maior investimento chinês até agora na Argentina e financiado pelo Banco de Desenvolvimento da China, começou em 2015, mas ainda está menos da metade concluída, segundo duas fontes provinciais próximas ao projeto.

Os investidores chineses provavelmente seriam práticos, disse um diplomata sênior em Buenos Aires. 'Não haverá confronto com a Argentina, mas os projetos serão revisados.'

A embaixada da China em Buenos Aires não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

VISÃO ECONÔMICA

A China também devora a soja e outros grãos da Argentina, comprando mais de 93% das exportações de soja do país até agora este ano, segundo dados oficiais. Esse número sobe para quase 100% no caso da cevada e do sorgo.

No geral, a China responde por cerca de 10% das exportações argentinas e mais de um quarto de suas importações.

'Acreditamos que o Ministério das Relações Exteriores manterá as relações e negociações com a China', disse Gustavo Idigoras, presidente da Ciara-CEC, que representa exportadoras e processadoras de grãos como a Bunge e a Cargill.

Enquanto isso, as empresas chinesas Gangfeng Lithium, Tsingshan Holding Group e Zijin Mining têm grandes investimentos no setor de lítio da Argentina, o quarto maior produtor mundial do 'ouro branco'.

Na China, os especialistas veem uma provável relação pragmática.

'Milei verá o relacionamento político da Argentina com a China em termos econômicos. Afinal, ele já foi economista', disse Hu Yukun, de Pequim, comentarista chinês de relações internacionais.

Hu previu que Milei, no máximo, rebaixaria o relacionamento, mas, assim como os governos anteriores, trataria a China como uma muleta para os problemas econômicos do país, destacando o swap cambial, que a Argentina, sem dinheiro, usou para pagar o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O swap -- do qual cerca de 11,5 bilhões de dólares já foram ativados -- pode entrar na mira do governo de Milei, disse uma fonte do banco central argentino.

'Agora é uma questão para o próximo governo. O swap foi útil para o atual governo porque evitou a inadimplência nos pagamentos com o FMI', disse a fonte.

A equipe econômica recém-nomeada de Milei não falou sobre o swap cambial, mas teve reuniões iniciais com o FMI que Milei descreveu como 'colaborativas'.

“O swap poderia ser (impactado) por causa do que ele disse sobre não ter relações com a China a nível estatal”, disse a fonte. 'Mas nas últimas semanas o seu discurso foi moderado e ele tem muitos outros problemas para resolver primeiro.'

(Reportagem de Lucinda Elliott, Joe Cash, Maximilian Heath e Jorge Otaola; reportagem adicional de Jorgelina do Rosário)

Escrito por Reuters

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