TBT: A Primeira Edição do Rock in Rio

Em 1985, o mundo presenciou a primeira edição do Rock in Rio, um marco no entretenimento global, ocorrido entre os dias 11 e 20 de janeiro. Este festival, pioneiro na América do Sul, atraiu mais de 1,4 milhão de espectadores, trazendo uma mistura de ícones internacionais como Ozzy Osbourne, AC/DC, Rod Stewart e James Taylor, além de talentos brasileiros como Rita Lee e Gilberto Gil. Um dos destaques do evento foi o Queen! Eles realizaram duas apresentações memoráveis, sendo transmitidas ao vivo na época e posteriormente lançadas no aclamado "Queen: Live In Rio".

Idealizado pelo empresário Roberto Medina, o festival foi sediado na Cidade do Rock, no Rio de Janeiro, com instalações de última geração em som e iluminação. O evento não só se estabeleceu como um dos maiores do mundo, mas também se expandiu para cidades como Lisboa, Madri e Las Vegas. Um fato curioso é o recorde de vendas do McDonald 's durante o evento: 58 mil hambúrgueres vendidos em um dia, mantendo esse recorde por mais de duas décadas.

Mas, diferentemente do que acontece hoje em dia, a primeira edição teve 10 dias ininterruptos de música, com um line-up impressionante de 15 artistas nacionais e 16 internacionais. Atraindo um público de 1,38 milhão de pessoas ao longo dos dias, o evento foi repleto de momentos antológicos e entrou para a história como um dos maiores festivais do mundo - sendo o primeiro desse porte no Brasil.

E Entre as atrações, o Queen, que se apresentou nos dias 11 e 18 de janeiro com a liderança do icônico Freddie Mercury, roubou a cena. Essas apresentações marcaram a última vez de Mercury no festival antes de seu falecimento em 1991. Com a formação original, eles entregaram apresentações inesquecíveis no Rio, cativando o público com seu álbum "The Works" e quebrando recordes de audiência do evento, justificando seu cachê de 600 mil dólares. O investimento era alto, mas praticamente garantido: os britânicos tocaram para aproximadamente 300 mil pessoas no primeiro dia e outras 250 mil no outro.

Não foi surpresa, já que eles também lotaram duas noites seguidas no estádio do Morumbi quatro anos antes, em 1981, na estreia do grupo no país. Os shows no Rock in Rio foram realmente históricos e eles conseguiram fazer isso apesar dos conflitos internos que rondaram os bastidores.

A passagem dos ingleses na Cidade do Rock foi marcada por momentos de tensão, primeiro porque as exigências de Mercury eram do tipo que os produtores de shows no Brasil não estavam acostumados a atender- até as bebidas tinham temperatura exata para serem servidas. Além disso, o cantor demandou privacidade e exclusividade em áreas comuns. E foi aí onde teve o maior problema.

Amin Khader, produtor do evento, teve que gerenciar situações delicadas, como a exigência de Mercury por privacidade e a hostilidade dos outros artistas. Tudo aconteceu quando o vocalista viu artistas brasileiros como Erasmo Carlos, Elba Ramalho, Alceu Valenca e Ney Matogrosso circulando na área comum, próximos de seu camarim.

Em depoimento a um documentário especial sobre o festival, o produtor e que trabalhou nos camarins do evento em 1985, disse que o cantor exigiu que o corredor para seu camarim fosse liberado para que ele pudesse passar, fazendo que outros artistas fossem obrigados a "se esconder" para que Freddie não os encontrasse. "Me lembro dele chegando de helicóptero. Ele perguntou quem estava nos corredores dos camarins, porque queria aquele espaço todo livre. Pediu cinco minutos para deixar todo o corredor livre. Fiquei maluco. Cheguei no corredor e fui pedir para ninguém ficar lá. Um pedido inusitado dele, né?", comentou Amin.

O profissional disse que todos aqueles artistas eram do mesmo nível que o frontman do Queen. A resposta do cantor se tornou famosa e até “folclórica”: “Não são, porque eles me conhecem e eu não os conheço. Você tem cinco minutos para tirar todos de lá, senão meus seguranças farão isso”. A atitude gerou mal-estar no backstage e Freddie foi alvo de ofensas em português – que ele certamente reconheceu como xingamentos, apesar de não entender o significado.

"O Freddie perguntou o que estavam falando dele e eu disse que era um elogio”, afirmou Amin. “Não adiantou, ele sacou que era algo errado, entrou no camarim e quebrou tudo. Jogou tudo pro alto. Ficou indignado. E eu tive que deixar tudo arrumado de novo pra ele. Fiquei desesperado e achei que tinha perdido meu emprego, mas a família Medina mandou repor tudo e ficou tudo bem. Nunca mais esqueci disso", finalizou.

Apesar do prejuízo causado pela quebra do camarim e por todas as pequenas confusões envolvendo a banda britânica, o show do Queen é, até hoje, considerado um dos melhores do festival na opinião dos fãs. No palco, a banda se transformou, entregando atuações memoráveis apesar dos atrasos. A setlist abrangia clássicos da banda, com destaques para "I Want to Break Free" e a icônica "Love of My Life", cantada em coro pelo público. Esses momentos entraram para a história, tanto do festival quanto da banda, e foram até retratados no filme "Bohemian Rhapsody".

Os shows do Queen no Rock in Rio marcaram a despedida da formação original da banda no Brasil, com a saúde de Freddie Mercury se fragilizando ao longo dos anos. Após o festival, a banda ainda brilhou no Live Aid, em uma performance que se tornou lendária. O Rock in Rio de 2015 prestou homenagem ao Queen, trazendo a banda com o vocalista Adam Lambert, em uma apresentação emocionante que reacendeu a memória dos fãs.

A história do Queen no Rock in Rio é um capítulo marcante, tanto para a banda quanto para o festival, simbolizando uma era de ouro na música e no entretenimento. Após o sucesso estrondoso, o Rock in Rio se repetiu em locais como o Maracanã e se expandiu internacionalmente, mantendo-se um fenômeno cultural. A edição de 1985 é lembrada não só pela magnitude dos shows, mas também pela conexão única estabelecida com o público brasileiro.

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