Marvin Gaye
Nascido no dia 2 de abril de 1939, em Washington, Estados Unidos, Marvin Pentz Gay Junior é o segundo dos três filhos do senhor Marvin Gay "” um pastor ordenado pela conservadora seita cristã Casa de Deus. Por influência do coral da igreja que freqà¼entava, Marvin (o filho) começou a cantar com apenas três anos de idade.
Não demorou muito para o garoto tornar-se solista do coral e também começar a se destacar no piano e na bateria. A música era para o jovem artista uma verdadeira válvula de escape, na qual ele fugia da apavorante vida familiar: durante toda a infância, Gaye apanhava do pai diariamente.
Profissionalmente sua carreira musical começou ao lado do conjunto Harvey and The Moonglows, clássico do chamado doo wop, aqueles grupos vocais tàpicos da década de 50. Junto com os Moonglows, Gaye teria aprendido várias técnicas, utilizadas posteriormente nos discos que produziu. E foi também com a banda, através de um concerto em Detroit, que ele chamou a atenção dos empresários que resolveram apostar no seu potencial.
Sua história na música e na vida pessoal, por conseqà¼ência, começaria a mudar no ano de 1961, quando o cantor foi contratado pela Motown. Durante sua permanência na gravadora, entre os anos de 1961 a 1982 aproximadamente, Marvin Gaye (agora com um "e" a mais no sobrenome) representou uma peça fundamental na empresa, atuando como compositor, produtor e instrumentista. Ele seria também a figura que transformaria o nome Motown em sinônimo de ótima música negra.
O artista, desde o começo, já mostrava que tinha aptidão para produzir bons discos e músicas históricas. Embora ele desejasse se tornar o próximo Nat King Cole, Marvin não teve como escapar do estilo aprendido com o doo wop, o que, de certa forma, o direcionava mais para as melodias populares atraentes que o consagraram.
Mas os singles românticos de Gaye não eram compatàveis com os hits poderosos que a Motown pretendia ter no seu catálogo. Nessa incompatibilidade artàstica surgiram as primeiras brigas entre o músico e sua gravadora, que duraram praticamente durante toda a história profissional de ambos.
Porém, desta briga pode-se dizer que surgiu o mais importante disco na carreira de Marvin e também um dos mais importantes para a discografia mundial. What"™s Goin On (1971) é o nome da obra que mudaria os rumos da concepção da música afro-americana.
Voltando um pouco na história. O disco foi produzido na época posterior em que Marvin Gaye estava bastante incomodado por considerar o seu trabalho completamente irrelevante em relação à s transformações sociais que assolavam a América. Após colocar diversos hits nas paradas, a maior parte do ano de 1970 o compositor passou recluso.
O resultado do silêncio de Marvin foi um disco que alterou para sempre a história da black music. Incorporando o jazz e a música clássica, com um forte elemento vindo das percussões, essa obra-prima sustenta os pensamentos e as crenças do cantor. Músicas que abordavam questões como a pobreza, corrupção policial e principalmente as mazelas da guerra no Vietnã.
Berry Gordy (chefão da Motown e pai da mulher de Marvin, Anna Gordy), inicialmente se recusou a lançar o disco, afirmando que o trabalho não teria apelo comercial. Acabou cedendo depois de muita insistência e até certa dose de ameaça partida de Gaye - ele disse que caso o registro não fosse lançado, iria distribuà-lo sem o apoio da gravadora. Certa vez, Marvin deixou claro para a diretoria da empresa: "Lancem o LP, ou nunca mais gravarei para vocês".
Em resumo: O cantor sentiu-se vingado quando a magnàfica faixa-tàtulo alcançou o 2º lugar nas paradas em 1971 e as duas canções seguintes – "˜Mercy Mercy Me"™ e "˜Inner City Blues (Make Me Wanna Roller)"™ - também chegaram ao Top 10. O sucesso comercial do disco garantiu que Gaye continuasse a ter todo o controle sobre seu próprio trabalho e isso ajudou a afrouxar as rédeas de outros artistas da Motown (caso de Stevie Wonder, que também assumiu o controle de seu próprio destino).
Já no próximo disco, não menos importante, houve novamente uma mudança no conceito làrico das composições. Let"™s Get it On (1973) trazia um artista com uma temática menos polàtica e mais pessoal. Estão nas letras os conflitos com o pai, as dúvidas existenciais e outras questões sobre a vida particular do compositor, inclusive boas pitadas de erotismo. A faixa-tàtulo chegou ao 1º lugar no Top 10 americano e o disco se tornou um dos seus trabalhos mais bem sucedidos.
Era um dos últimos suspiros artàsticos do músico, antes de começar a se acentuar os problemas que permearam o final de sua vida. O fim do casamento com Anna, as brigas cada vez mais constantes com o pai e o vàcio em cocaàna que aumentava a cada dia, tornaram a vida pessoal de Marvin Gaye, proporcionalmente com o sucesso que ele alcançou. Um verdadeiro castelo em ruànas.
Sua última aparição pública foi em 1983, quando cantou uma versão toda pessoal de "˜Star-Spangled Banner"™ no All-Star Game da NBA, que rapidamente se tornou uma das interpretações mais controversas e lendárias do hino nacional americano.
Na manhã de 1º de abril de 1984, um dia antes de completar 45 anos, o artista foi baleado e morto pelo Reverendo Marvin Gay, seu pai. O motivo: uma discussão acalorada.
Na história ficaram mais de 30 tàtulos e uma porção de coletâneas e outras compilações que posteriormente foram lançadas e relançadas. Ficou também como exemplo a trajetória do homem, conflitante com ele mesmo e genuinamente artista da música.
Marvin Gaye é um músico e acima de tudo um homem (e seus discos provam tudo) sem precedente na história. Vai continuar assim eternamente!
SALA DE BATE PAPO